domingo, 28 de novembro de 2010

Minhas poesias

Algumas poesias foram musicadas por companheiros das noites de São José do Rio Preto e estão garavadas no CD PASSAGEM, produzido por Fernando Marques para o selo Tempo Livre. Foi um trabalho independente e uma experiência maravilhosa. Para pagar os custos do CD, eu andava de bar em bar e de mesa em mesa vendendo o disco. Ainda deve ter alguns por aí, talvez na produtora Tempo Livre.

PASSAGEM
(Musicada por Fernando Marques)

Velho tronco no cais,
vincado de visgo e vento,
face de rugas,
és parada temporária
de barcos novos,
apressados.

Velho tronco no cais,
sumário de sombras e sonhos,
alma de pregas,
és Meca imaginária
de desejos loucos,
desgarrados.

Agarra-te a ti mesmo,
velho tronco.
Tantas cordas te abraçaram
e se foram.
Tantas ondas te beijaram
e se foram.
Ficaste só,
velho tronco no cais.

ÁGUIA
(Musicada por Rick Saulo)

Os urubus voam sobre o Haiti,
cercam Havana, que míngua, que míngua.
Os urubus alimentam-se de lágrimas,
comem a podridão que provocam.
Os urubus destroem Angola,
vomitam fezes em Moçambique

Oxalá que toda miséria,
toda guerra sobre a Terra,
tenham fim.

Os urubus varrem sonhos de Granada,
entopem de carniça a Nicarágua.
Os urubus fabricam dores em Ruanda,
estão à espreita, na ex Iugoslávia,
derrubam ácido na Guatemala
e fazem abortar utopias no Brasil.

Oxalá que toda miséria,
toda guerra sobre a Terra,
tenham fim.


CLASSIFICADOS
(Musicada por Rick Saulo)

PROCURA-SE
Mulher de sensibilidade densa,
como aquela que tive
e perdi.

PROCURA-SE
Mulher de intensidade mansa,
como aquela que vive
e se perdeu.

MULHER
De docilidade intensa,
de suavidade densa,
de intensidade mansa.

MULHER
De sensibilidade intensa,
de felicidade imensa,
como a mulher que perdi.

PROCURA-SE
Mulher de suavidade intensa,
como a que comigo esteve
e se perdeu.

PROCURA-SE
Mulher de docilidade tensa,
como quem foi livre
e se perdeu.

MULHER
de docilidade intensa,
de suavidade densa,
de intensidade mansa.


MULHER
de sensibilidade tensa,
de felicidade imensa
como a mulher que perdi.


PASSARINHA DE VOAR
(Musicada por Osni Ribeiro)

Era um Sol de primavera,
sem pudor, sempre a brilhar.
No jardim, a minha espera,
passarinha de se amar.
Era tempo de encanto e paz,
Natureza por altar,
era um tempo de paixão voraz
de receber e de dar.

Em pureza ela vivia,
outras flores foi buscar.
Dedicado, eu lhe servia
e era forte para amar.
Em sua mente, há um sonho
que ninguém pode apagar.
Infeliz, eu lhe proponho:
- seja livre prá voar.

No quintal , não mais pousou
passarinha ao luar,
mas, no peito, me deixou
esperança de voltar.

FORA!
Musicada por Fernando Marques)

Fora da minha vida,
Não quero você comigo!
Você pegou a chave e entrou,
Deitou em minha cama,
Invadiu a minha alma,
Anulou a minha calma
E ficou.

Sem pedir licença,
Instalou-se em meu quarto,
Cobriu-se com meu lençol
E ficou.
Recostou-se em meu travesseiro
Penetrou em meu interior
E me tomou,
E me torceu,
E me bateu,
Me inverteu
E me sufocou.

Agora basta,
Vá embora de uma vez,
Saudade.
Devolva a chave
E traga de volta o meu amor.

Fora de minha vida,
Saudade.
Não quero você comigo,
Saudade.

DA CABEÇA AOS PÉS
(Musicada por Rick Saulo)

De cabeça erguida,
ando, falo, grito, ouço, amo.
De peito aberto,
corro, calo, berro, bebo, como.
De mãos abertas,
toco, acaricio, escrevo, bato, tomo.
A minha boca pública
publica,
fala,
ensina,
erra
e canta.

Procuro, então, minha sombra,
da cabeça aos pés.
Procuro, então, minha sombra,
da cabeça aos pés.

Minha função teatral
erra, acerta, dirige, é dirigida.
Na cabeça guardo coisas,
nomes, sobrenomes, pensamentos.
O meu corpo, em pé,
fala, corre, cora, anda e sua.
Meu corpo deitado
ama, dorme, ama, acorda e ama.


Procuro, então, minha sombra,
da cabeça aos pés.
Procuro, então, minha sombra,
da cabeça aos pés.


A IMPORTÂNCIA DA FLORA
(Musicada por Fernando Marques)

Tá bom!
Eu sou um poeta ou um arremedo.
Mas saiba que você é poesia em movimento,
difícil de se fotografar.
Ah, como eu queria te falar.

Ah, como eu queria ser poeta,
olhos de eternidade
só pra te fixar
com o instante da palavra.
Mas misturo tu com você,
eterno e instante.

Não, não sou poeta.
Só exponho
palavras que me levam a você,
como quem engole vitamina C.
Evito
os gritos, os brutos e as gripes,
Admito
os choros, as dores da ausência,
buscando, Anna Flora,
toda loucura lúcida de viver.

JARDIM POETA
(Musicada por Fernando Marques)

Nosso jardim é sábio,
hoje é sexta-feira.
E, sabendo que você está chegando,
deu-nos a primeira flor.

São quinze horas,
você está embarcando no ônibus.
Enquanto procuro palavras,
o jardim nos deu uma flor.

Por isso, paro agora de escrever,
prefiro calar-me diante do jardim.
Ele é mais poeta do que eu,
pois eu não dei a rima e ele deu a flor.

CERVEJA EM LATA
(Musicada por Altino Bessa M. Filho)

Bebo num bar
a saudade de ontem,
a coragem do hoje
a vontade do amanhã.

Berro num beco
os nomes de ontem,
as vantagens do hoje,
os delírios do amanhã,

Bebo num berro
o extravio do ontem,
a saudade do hoje,
os planos do amanhã.

Bebo num beco
o choro do ontem,
a alma do hoje,
os beijos do amanhã.






2 comentários:

  1. Pai querido,

    quando conseguirás reunir mais dessas delícias para serem musicadas?

    Beijos

    Cíntia

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  2. Oi Wagner,
    Sou a Leandra, do 3° ano de Campinas
    São maravilhosos seus poemas...
    Concordo com sua filha, quero poder ouvir e ler mais dessas delícias que você escreve.
    São lindos e mostram um pouco mais de você, um pouco que vai além de tudo que você ensinou para mim até hoje...
    Queria te agradecer.. por todo o ensinamento que você me deu nesses dois anos...no seta.
    Você ensinou muito mais que História... ensinou a ver a vida de outra forma... Vejo que não sou a mesma pessoa....
    obrigada!

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