segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

SOMOS TODOS FILHOS DA MESMA MÃE


Em 09/01/2003, foi aprovada a Lei 10.639, que determina: “Nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”. E ainda “O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra.”

 

Visão de Padre Vieira

“Oh, se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus e a Sua Santíssima Mãe por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre!”

(VIEIRA, Padre Antônio. Sermão XIV)

 Mais Padre Vieira

Não há trabalho, nem gênero de vida no mundo mais parecido à cruz e paixão de Cristo, que o vosso em um desses engenhos. Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado [...] Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isso se compõe a vossa imitação, que se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio”.

 (VIEIRA. Sermões. Apud BOSI, Alfredo. A dialética da Colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 172.)

 

Visão de Hegel

“A África não é uma parte histórica do mundo, não oferece nenhum movimento, desenvolvimento ou progresso próprio. (…) O que entendemos propriamente por África é o espírito sem história, o espírito ainda não desenvolvido, envolto nas condições naturais.” (Hegel, 1830)

 

ALGUMAS RESPOSTAS À IGNORÂNCIA:


 “O Brasil é um país extraordinariamente africanizado. E só a quem não conhece a África pode escapar o quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de ser e de viver e no sentimento estético do brasileiro (…)

 O escravo ficou dentro de nós, qualquer que seja nossa origem(…)

 Com  ou sem remorsos, a escravidão é o processo mais longo e mais importante de nossa história”.

 (COSTA E SILVA, A. O Brasil, a África e o Atlântico no Século XIX)


Você pode me riscar da História
Com mentiras lançadas ao ar.
Pode me jogar contra o chão de terra,
Mas, ainda assim, como poeira,
Eu vou me levantar.

Minha presença o incomoda?
Por que meu brilho o intimida?
Porque eu caminho como quem possui
Riquezas dignas do grego Midas.
Como a Lua e como o Sol no céu,
Com a certeza da onda do mar,
Como a esperança emergindo da desgraça,
Assim eu vou me levantar.

Você não queria me ver quebrada?
Cabeça curvada e olhos para o chão?
Ombros caídos como lágrimas,
Minha alma enfraquecida pela solidão?
Meu orgulho o ofende?
Tenho certeza que sim,
Porque eu rio como quem possui
Ouros escondidos em mim.
Pode me atirar palavras afiadas,
Dilacerar-me com seu olhar,
Você pode me matar em nome do ódio.
Mas, ainda assim, como o ar,
Eu vou me levantar.

Minha sensualidade incomoda?
Será que você pergunta
Por que eu danço como se tivesse
Um diamante onde as coxas se juntam?

Da favela, da humilhação imposta pela cor
Eu me levanto.

De um passado enraizado na dor
Eu me levanto.

Sou um oceano negro, profundo na fé,
Crescendo e expandindo-se como a maré.
Deixando para trás noites e terror e atrocidade,
Eu me levanto

Em direção a um novo dia de intensa claridade
Eu me levanto
Trazendo comigo o dom de meus antepassados,
Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.
E assim, eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto.

(Maya Angelou, poetisa afro-americana)

 




Mãe
Por Mario Luiz

Mãe Negra que na Savana
Deu-me a luz entre os leões
Sob um rubro pôr-do-sol
Que nossa pele inflama.


Mãe Guerreira, protetora e gentil,
Olhai por teus filhos que sangram
Por entre tuas mãos trêmulas,
Submetidos à condição servil.


Mãe Natureza, selvagem e amável,
Aceitai-nos em teus braços.
Saciando a fome de almas esquecidas
E corpos miseráveis.


Mãe Africana, perdão, mamãe... perdão
Se para longe de ti me levaram,
E na terra de Vera Cruz me forçaram
A silenciar tua voz em meu coração.


Que as chibatadas que lambem minhas costas
Possam servir para despertar a força que plantaste em minh’alma.


Oiram Ziul


AS ÁFRICAS QUE COLOREM A CULTURA DO BRASIL


 “Depois de uma dura travessia pelo oceano Atlântico, os negros africanos foram obrigados a mudar sua maneira de viver, adaptando seus costumes e suas tradições ao novo ambiente. Misturando-se aos povos que aqui encontraram, esses negros deram origem à mestiçagem que amorenou a nossa pele, alongou nossa silhueta, encrespou nossos cabelos e nos conferiu a originalidade de gestos macios e andar requebrado. Ao incorporarem elementos africanos ao seu dia-a-dia nas lavouras, nos engenhos de açúcar, nas minas e nas cidades, construíram uma nova identidade e nos legaram o que hoje chamamos de cultura afro-brasileira.”



Fonte: trecho da Apresentação do livro África e Brasil Africano, de Marina de Mello e Souza, Editora Ática.


HERANÇA MUSICAL AFRICANA

O universo musical africano expandiu-se de tal modo que definiu os caminhos da música popular no mundo ocidental. A lista das tendências que se projetaram a partir dele na música popular norte-americana é interminável: jazz, rap, soul, gospel, funk, rock, pop, house, dance, spiritual... O mesmo pode ser dito da música popular na América Central e na América do Sul. O reggae jamaicano e a inesgotável reserva rítmica de Cuba, que lançou o mambo, a rumba, a salsa, a conga e a habanera.
No centro da música brasileira está o SAMBA. Sem falar no lundu, no maxixe, no baião, no afoxé, no carimbó...
As danças africanas se fazem numa mistura de sons, canções, batuques, ritmos e movimentos tradicionais com um toque de cores, expressões, gingado, espontaneidade e sensualidade dos corpos em movimento rítmico harmonioso.
Marcos César de Oliveira Pinheiro

O PIONEIRISMO AFRICANO


Falar em história da África é falar sobre a história humana. Afinal, foi lá que surgiu o Homo sapiens, cerca de 160 mil anos atrás. Portanto, a humanidade desenvolveu-se primeiro no continente africano e, progressivamente e por levas sucessivas, foi povoando o planeta inteiro. De lá, partiram os habitantes que constituíram os primeiros núcleos urbanos na Europa mediterrânea, América, Ásia e Oceania.
Quando se pensa em civilização, também a África foi pioneira. A importância do continente no mundo antigo é hoje inegável. Sobretudo a partir da ascendência civilizatória milenar do Egito faraônico sob as civilizações que beiravam o Mediterrâneo: persa, assíria, hitita, cretense, helênica, hebraica e outras. Trata-se de uma história de 7 mil anos que formou a base sociocultural da maioria das civilizações na Antiguidade. A cultura egípcia teve importante influência para a expansão das artes, das ciências empíricas (matemática, geometria, biologia, astronomia etc.), da filosofia da natureza e do pensamento religioso.
Da África saíram, a partir do século XVI, levas de escravos que vieram para as Américas no período da escravidão e participaram da formação do Brasil.
No século XX, após longas lutas de independência, constituíram-se novas nações na África.
Com sua arte, cultura e tradições, os africanos influenciaram e continuam a influenciar o mundo.
Marcos César de Oliveira Pinheiro


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