domingo, 5 de dezembro de 2010

UM POUCO DE ÁFRICA


ÁFRICA

 “As agências internacionais de notícias têm falseado enormemente a realidade dos problemas africanos contemporâneos, por seus enfoques episódicos e parciais. (…) o crivo ocidentalizante é tão forte que a realidade africana é pintada como um quadro de figuras exóticas, caricaturais, onde os homens não têm consciência de que fazem história”.
(SARAIVA, José Flávio Sombra. Formação da África Contemporânea. São Paulo. Atual, 1987)

A IGREJA CATÓLICA NO SÉCULO XV


“(...) nós lhe concedemos, por estes presentes documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e subjugar (...) reduzir suas pessoas à perpétua escravidão.”


(Papa Nicolau V, pela Bula Dum Diversas, em 1452, autorizando Portugal a escravizar africanos)

PRECONCEITO

(Palavras de Charles Linné, 1778)
   
     " Homem Selvagem: quadrúpede, mudo, peludo
          Americano: cor de cobre, colérico, ereto. Cabelo negro, liso, espesso; narinas largas, semblante rude, barba rala; obstinado, alegre, livre. Guia-se pelo costume.

          Europeu: claro, sanguíneo, musculoso; cabelo louro, castanho, ondulado; olhos azuis; delicado, perspicaz, inventivo.  Coberto por vestes justas. Governado por leis.

          Asiático: escuro, melancólico, rígido; cabelos negros; olhos escuros, severo, orgulhoso, cobiçoso. Coberto de vestimentas soltas. Governado por opiniões.

          Africano: negro, fleumático, relaxado. Cabelos negros, crespos; pele acetinada; nariz achatado, lábios túmidos; engenhoso, indolente, negligente. Unta-se com gordura. Governado pelo capricho."

PRECONCEITO

   “Oh, se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus e a Sua Santíssima Mãe por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre!” (VIEIRA, Padre Antônio. Sermão XIV)

PRECONCEITO

   Não há trabalho, nem gênero de vida no mundo mais parecido à cruz paixão de Cristo, que o vosso em um desses engenhos. Em um engenho sois imitadores de
Cristo crucificado [...] Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isso se compõe a vossa imitação, que se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio”.  (VIEIRA. SermõesApud BOSI, Alfredo. A dialética da Colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 172.)

PRECONCEITO

(Palavras de Hegel, em 1830)
Caçador bosquímano
   “A África não é uma parte histórica do mundo, não oferece nenhum movimento, desenvolvimento ou progresso próprio. (…) O que entendemos propriamente por África é o espírito sem história, o espírito ainda não desenvolvido, envolto nas condições naturais.”

HISTÓRIA ORAL

   “Qualquer adjetivo seria fraco para qualificar a importância que a tradição oral tem nas civilizações e culturas africanas. Nelas, é a palavra falada que
Um griot (contador de histórias)

transmite de geração a geração o patrimônio cultural de um povo. A soma de conhecimentos sobre a natureza e a vida, (…) o relato dos eventos do passado (…), o canto ritual, a lenda, a poesia – tudo isso é guardado pela memória coletiva, a verdadeira modeladora da alma africana e arquivo de sua história. Por isso, já se disse que “cada ancião que morre na África é uma biblioteca que se perde”. 
(Amadou Hampaté Bâ. A Palavra, Memória Viva na África)

PROBLEMAS DA FALTA DE DOCUMENTOS ESCRITOS

   “A ausência de documentos escritos (...) para as provas materiais em que os cientistas baseiam suas descobertas, acrescidos de uma pressuposição há muito divulgada entre os cientistas brancos de que os africanos negros seriam incapazes de produzir semelhantes civilizações, criaram enorme obstáculos à descoberta da verdade”. (Mitchell Adams. Zimbábue, Uma Civilização Africana Desaparecida. Em Os últimos Mistérios do Mundo. Lisboa. Seleções do Reader’s Digest, 1979)


ESCRAVIDÃO ANTES DA CHEGADA DOS EUROPEUS

   “O escravo era uma espécie de parente – com direitos diferentes de outros parentes, diferentes posições na família e no lar, mas, no entanto, um espécie de parente. Os escravos tinham de ser ou capturados, ou adquiridos de seus parentes, que os “vendiam como escravos”. Isto significa que (…) alguns grupos pegavam seus criminosos ou, geralmente, parentes não desejados e executavam o ritual que “rompia o parentesco”. (…) Esses escravos trabalhavam (…) mas também casavam-se, inseriam suas famílias no grupo social e formavam uma parte legítima da família ampliada”. (BOHANNON. Paul. História Ilustrada da Escravidão)


“A ÁFRICA VIVE (...) PRISIONEIRA DE UM PASSADO INVENTADO POR OUTROS”
(Mia Couto, Um Retrato Sem Moldura)


SOMOS TODOS AFRICANOS

A teoria mais aceita entre os pesquisadores é de que o Homem, a partir da África, seu lugar de nascimento, migrou para os outros cantos do mundo.




ALGUNS NÚMEROS 
(Dados aproximados)

Terceiro continente em terras: 22,5% do globo
Área aproximada: 30.000.000km2
54 países (em 2011)
10% da população mundial.
Indústria não chega a 1% da mundial
Disparidade de riqueza entre as nações
90% da platina do mundo,
75% do titânio,
66% da produção de diamantes,
57% da produção de ouro,
45% do cobalto,
23% do antimônio e do fosfato,
17% do manganês,
15% da bauxita e do zinco,
10% do cromo e do petróleo.

HIV em 2012
 No mundo –                        35,3 milhões
 Na África Subsaariana – 25 milhões
IDH em 2013
 Dos 40 países de índices mais baixos, 34 são da África Subsaariana.
 












RENDA NA ÁFRICA SUBSAARIANA (2010) 
                                                                             48,5% inferior a US$ 1,25 por dia


PIB AFRICANO (2012)
  2,8% do PIB mundial       

  MORTALIDADE INFANTIL (2012)
   1. Serra Leoa: 117 (por mil nascidos)

   2. Angola: 100
   3. Rep. Democrática do Congo: 100
   4. Rep. Centro-Africana: 91
   5. Somália: 91
   Por comparação:
    Brasil: 13
    Japão, Luxemburgo, Noruega, Suécia, Liechenstein: 2 

REFUGIADOS

Em 2012, 12 milhões de refugiados: fome, doenças, perseguições religiosas, guerras tribais, epidemias.
              
ÁFRICA NORTE-SAARIANA OU MEDITERRÂNEA


Predomínio étnico de camitas, semitas, tuaregues e etíopes.

A História da África se cruza com a dos egípcios, dos fenícios, dos cartagineses, dos gregos, dos macedônicos de Alexandre Magno. Com a História da expansão romana e do Império Bizantino, com a História da formação do reino dos vândalos (bárbaros), do Império Árabe Muçulmano (do século VIII ao XV) e do Império Turco Otomano (do século XV ao XX)

REINOS AFRICANOS HISTÓRICOS

Predomínio étnico de camitas, semitas, tuaregues, etíopes, bantos e sudaneses.

REINO DE KUSH:
Ao Sul do Egito, onde hoje é o Sudão. Rico e oro, intermediário comercial entre o Egito e a África Central. Chegou a tomar o Egito, onde reinou por 70 anos (25ª Dinastia), até ser conquistado pelos assírios.

REINO DE AXUM:
Onde hoje é a Etiópia. Comércio regular com povos do Mediterrâneo, Mar Vermelho, Pérsia, Índia, Ceilão e Império Bizantino. Era reino cristão e foi derrotado e isolado pela expansão islâmica do século VII.

REINO DE ZIMBÁBUE:
Poderoso até a chegada dos portugueses, com a produção de joias de ouro, peças de marfim e de cobre.

REINO DE GANA:
Hoje, Mali e Mauritânia.
Domesticação de camelos, comércio com povos berberes: ouro, sal tecidos, cavalos, tâmaras. Apogeu entre os séculos X e XII.

REINO DE MALI:
Hoje, Mali, Senegal e Guiné.


Dominou o Reino de Gana, no séc. XIII, liderados pelo príncipe Sundiata Keita. Dominou toda a bacia do rio Niger. Construção de ricas mesquitas e grandes centros de estudos, como o de Tombuctu, atraindo cientistas, poetas, literatos, religiosos. Realização de suntuosas peregrinações a Meca, como a de 1325. Dominada pelo reino de Songhai no final do século XIV

REINO DE SONGHAI:
 Vasto território a  sudoeste do Saara.
Universidades, como a de Sankore (séc. XII) e, depois, em Tombuctu (séc. XIV e XV).
 Ataques do norte e de portugueses.

REINO IORUBÁ

Formado no século XI, desenvolveu a manufatura de tecidos e a metalurgia do cobre e do bronze. A língua iorubá e a religião dos orixás espalharam-se por muitos povos africanos e foram transportados para a América, especialmente para o Brasil, através do tráfico negreiro. 

ÁFRICA SUBSAARIANA

Há uma diversidade étnica, cultural e linguística, com organização em famílias, clãs e tribos com economia fundada na caça, na pesca, no extrativismo e na agricultura itinerante.
A abundância de espaço e grande oferta de sobrevivência natural dificultam a fixação de base territorial, ao contrário dos povos da África Norte-Saariana.

RELIGIÕES NAS ÁFRICAS

Características gerais: oralidade (sociedades ágrafas), politeismo, animismo (crença em espíritos presentes na Natureza), crença na vida pós-morte e na reencarnação. 
Algumas correspondências entre as entidades africanas e as católicas são riquíssimas:

 
Exu - Santo Antônio, no Rio de Janeiro, Bará no Rio Grande do Sul;
 
Oxumaré - São Bartolomeu;
 
Ogum - São Jorge;
 
Oxossi - São Sebastião (São Jorge na Bahia);
 
Xangô - São Jerônimo, São João Batista, São Miguel Arcanjo;
 
Iemanjá - Nossa Senhora dos Navegantes;
 
Oxum - Nossa Senhora da Conceição;
 
Iansã - Santa Bárbara;
 
Omulu - São Roque;
 
Obá - Santa Rita de Cássia, Santa Joana d'Arc;
 
Obaluaê - São Lázaro;
 
Nanã - Sant'Anna;
 
Oxalá - Divino Jesus Cristo.


As religiões africanas acreditam na existência de uma fonte criadora universal, um Deus supremo, chamado Olorum. Algumas das entidades, quando incorporadas, podem nomeá-lo de outra forma, como por exemplo, Zambi para os pretos-velhos, Tupã para caboclos, entre outros, mas são todos o mesmo Deus.
Pregam a obediência aos ensinamentos básicos dos valores humanos, como: fraternidade, caridade e respeito ao próximo, sendo a caridade uma máxima encontrada em todas as manifestações existentes.
O aspecto animista defende o culto aos orixás como manifestações divinas, em que cada orixá controla e se confunde com um elemento da natureza do planeta ou da própria personalidade humana, em suas necessidades e construções de vida e sobrevivência;
A manifestação dos Guias exercita o trabalho espiritual incorporado em seus médiuns ou "aparelhos"; o mediunismo é uma forma de contato entre o mundo físico e o espiritual, e manifesta-se de diferentes formas:

1. Uma doutrina, uma regra, uma conduta moral e espiritual que é seguida em cada casa de forma variada e diferenciada, mas que existe para nortear os trabalhos de cada terreiro;


2. A crença na imortalidade da alma;


3. A crença na reencarnação e nas leis cármicas

Além das religiões tipicamente nascidas da cultura africana, em muitos povos africanos é forte a presença das três grandes religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo

POVOS AFRICANOS: DESTAQUES


Etnias africanas
Bantos: Predominantes na região sul da África, representam o grupo mais numeroso do continente, divididos em centenas de subgrupos.

Pigmeus: caracterizados por apresentarem pele negra e pequena estatura, se concentram na região da África Equatorial. 



Sudaneses: Dedicados à agricultura, os sudaneses habitam as savanas localizadas entre a região do Atlântico até o vale do Rio Nilo. Chegaram a apresentar um elevado estágio de civilização no contexto das Grandes Navegações.

Nilotas: Habitam a região sul do rio Nilo e são caracterizados por apresentarem pele negra e elevada estatura.

Khoikhoi: Concentrados no Sudoeste da África, são conhecidos pelos europeus como hotentotes. Ocupavam uma extensa faixa no sul da África.

Bérberes: Conjunto de povos que vivem no Norte da África e que falam as línguas bérberes. Convertida ao islamismo a partir do século VIII, essa população se insere nas mais variadas etnias que caracterizam o norte do continente.


COLONIALISMO MERCANTILISTA

O tráfico de escravos provoca a corrosão nas sociedades africanas e aumenta os choques grupais. Ocorre a exploração sistemática da costa africana em função da colonização da América.
Além do comércio de escravos, o ouro, o marfim e gêneros tropicais fixam europeus na África: o capitalismo comercial integra a África à América. África e América tornaram-se molduras de um triste quadro atlântico, no qual, em primeiro plano, foi pintado com sangue o tráfico de pessoas. O escravo era duplamente gerador de capital, por ter duplo valor: valor de troca, como uma mercadoria traficável, e valor de uso, como produtor de mercadoria.
Assim, os lucros emanados do tráfico de escravos, da escravidão e da pirataria tornaram-se bases da acumulação primitiva de capital na Europa. E mais, sustentaram o assalariamento das relações de trabalho em substituição às relações servis: definhava o modo-de-produção feudal e estava aberto o caminho para a consolidação do capitalismo.

     TOTAL GERAL DE PESSOAS ARRANCADAS DA ÁFRICA

Tráfico transaariano:                                                                4.820.000
Tráfico no Mar Vermelho e na África Oriental:               2.400.000
Tráfico no Atlântico:                                                                  11.313.000
TOTAL:                                                                                            18.133.000

ALGUMAS HISTÓRIAS

A LIBÉRIA
          Origem: organização filantrópica dos EUA, a American Civilization Society, de 1816.
          Escravos libertos dos EUA migram para lá e, em 1847, ocorre a independência do país, com capital em Monróvia (de Monroe).

O CABO
          Em 1652, o Cabo da Boa Esperança era ocupado por holandeses. Os boers são seus descendentes
          Em 1806, durante as guerras napoleônicas, ingleses se apropriam da região e, no Congresso de Viena, legitimam sua ocupação. Era um ponto estratégico fundamental até a inauguração do Canal de Suez, em 1869.

ARGÉLIA
          Ocupada pela França em 1830, aproveitando a crise do Império Turco Otomano.

SENEGAL
          Portugueses montaram feitorias , disputadas depois por franceses e ingleses. O fim do tráfico negreiro fez decair o interesse europeu na região, até sua conquista pela França de Napoleão III, em 1852.

RUANDA
          Tutsis dominados pela Alemanha. Ficou para a Bélgica, apoiada nos Hutus. Hutus massacram tutsis

CONGO
          Leopoldo II da Bélgica ocupa o Congo em 1880, como sua propriedade particular.

CAMARÕES
          Localizado no delta do rio Niger, foi ocupado pelos alemães em 1880


NEOCOLONIALISMO E IMPERIALISMO



No século XIX, trinta milhões de quilômetros quadrados e mais de cem milhões de pessoas ficaram sob a tutela de poucos Estados europeus em menos de dez anos.

A Segunda Revolução Industrial e o liberalismo econômico geraram a crise cíclica do capitalismo, o descompasso entre a superprodução e o subconsumo. 

Os países industrializados precisavam de novos mercados para investirem seu excedente de capital, suas mercadorias e até seu excedente demográfico. Precisavam de fontes de energia, como petróleo e carvão, e também de matérias primas, de ouro, de diamantes...

IDEOLOGIA IMPERIALISTA

1. KIPLING e a “missão civilizadora”, expressa em seu poema “O Fardo do Homem Branco”, de 1899. Homenageava a vitória norte-americana na Guerra Hispano-Americana (1898), na qual os EUA receberam Porto Rico, as ilhas Guam, as Filipinas e interferiram na independência de Cuba.
2. DAVID LIVINGSTONE era missionário escocês. Propagou o comércio e a fé como “missões civilizadoras”

3. JULES FERRY, 1º Ministro francês, em 1880: “O imperialismo é filho da industrialização”

4. CECIL RHODES era inglês e atuou na África do Sul, explorando minas de diamantes. Comprou, com seus sócios, vastas extensões de terra, onde nasceu a Rodésia, atuais Zâmbia e Zimbabue.

“O mundo está todo parcelado, e o que resta dele está sendo dividido, conquistado, colonizado. Pense nas estrelas que vemos à noite… Eu anexaria os planetas, se pudesse; penso sempre nisso.”
“Sustento que somos a primeira raça do mundo, e quanto mais do mundo habitarmos, tanto melhor será para a raça humana…Se houver um Deus, creio que Ele gostaria que eu pintasse o mapa da África com as cores britânicas
.”


CONGRESSO DE BERLIM (1884/85)

Foi convocado por Otto Von Bismarck e contou com a participação de 14 países. Foi definida a partilha africana, cujas fronteiras foram traçadas pelos europeus. 

É claro que, como a partilha foi feita para atender aos interesses dos colonizadores, não foram respeitados os interesses dos colonizados; foram separadas comunidades afins e agrupadas comunidades rivais.

 A maioria das fronteiras foi desenhada em linhas retas. As futuras e constantes catástrofes provocadas por guerras intergrupais estavam desenhadas. Mas as culpas continuam recaindo sobre os africanos, que, de fato, são frutos e não sementes.

DESCOLONIZAÇÃO

O processo de descolonização foi acelerado a partir da 1ª Guerra Mundial, das crises do Entre-Guerras e, principalmente da 2ª Guerra. Portanto, ocorreu em plena Guerra Fria.

Nos confrontos mundiais, as metrópoles precisaram formar tropas com colonos. Estes notaram que seus dominadores também morriam, sofriam, choravam e temiam a violência da guerra. Desmoronava o mito da “superioridade europeia”.

No Tratado de Versalhes (1919), os vencedores exigiram o fim dos impérios derrotados (alemão, austríaco e turco) e, em sua retórica, falavam em “respeito à autodeterminação dos povos”

No Período Entre-Guerras (1919-1939), as nações imperialistas, vencedoras do conflito mundial, reforçaram seus domínios coloniais, mercados para a economia em crise.

Durante a 2ª Guerra, novamente precisaram dos colonos, desta vez contra o nazifascismo.

E, no pós-guerra, na fundação da ONU (1945) e na Declaração dos Direitos (1948), a autodeterminação dos povos foi novamente defendida. As nações mais poderosas davam, paradoxalmente, um motivo, uma bandeira, para as lutas das nações por elas dominadas.

RENASCIMENTO AFRICANO: PAN-AFRICANISMO

A independência do Haiti, em 1804, provocou, nas elites escravocratas, o receio da “haitinização” da luta pela libertação negra.

O pan-africanismo nasceu nas Antilhas britânicas e nos EUA. Edward Blyden, ligado à criação da Libéria, valorizava o saber moderno, que não é nem branco nem negro, sem perder a identidade negra.

 Du Bois, dos EUA, defendia o movimento pan-negro.
CONGRESSOS PAN-AFRICANOS

Em 1900, ocorreu a 1ª Conferência, entre haitianos e norte-americanos (não havia africanos).
Em outros (1919, 1921, 1923, 1927) discutiram-se alternativas para a libertação dos africanos. 

Principais reivindicações:

1. Liberdade completa aos povos da África e aos povos de origem africana

2. Igualdade da raça negra com todas as raças

3. Controle das terras africanas pelos africanos

4. Abolição dos trabalhos forçados e dos impostos abusivos

5. Liberdade de comunicação no interior e ao longo da costa africana


RENASCIMENTO AFRICANO: MOVIMENTO DA NEGRITUDE

Iniciado por intelectuais negros, como Aimé Cesaire e Léopold Senghor, não aceitava a “assimilação cultural” imposta pelo dominador branco, que negava os valores dos colonizados:
“Um senegalês é um senegalês, não um francês!”



Tratava-se da afirmação da identidade negra contra o imperialismo cultural.




LEOPOLD SENGHOR, DO SENEGAL, ideólogo político do socialismo-negritude, pregava:



 1. Uma revolução socialista não é necessária na África, pois o socialismo já é um fato milenar no continente e se apresenta mais eficaz que aquele proposto por Marx
• 2. O capitalismo é um elemento alheio à África, pois foi imposto pelo processo colonial
• 3. O socialismo autóctone deve ser a base da África independente.



ÁFRICA E BRASIL


O ESCRAVO DENTRO DE NÓS

   “O Brasil é um país extraordinariamente africanizado. E só a quem não conhece
Mulher brasileira e nossa negritude
a África pode escapar o quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de ser e de viver e no sentimento estético do brasileiro (…)    O escravo ficou dentro de nós, qualquer que seja nossa origem(…)  Com ou sem remorsos, a escravidão é o processo mais longo e mais importante de nossa história”. 
(COSTA E SILVA, A. O Brasil, a Áfrice o Atlântico no Século XIX)

Vieram para o Brasil principalmente três grupos culturais, divididos em centenas de subgrupos: os sudaneses, os guineano-sudaneses (islamizados) e os bantus, ou bantos.

 Dos quinhentos e poucos anos de História do Brasil pós “descobrimento”, em mais de trezentos o tráfico trouxe populações negras para cá.

 É, portanto, impossível entender nossa História sem a presença negra, com suas contribuições em vários sentidos.

CULTURA AFRO-BRASILEIRA

• Idioma: palavras como angu, batuque, cafuné, quitanda, banzo ...

• Oratória: Luís Gama (1830/82) e José do Patrocínio (1854/1905)

• Literatura: Castro Alves (1847/71), Cruz e Souza (1861/98) e Lima Barreto (1881/1922)

• Composição: Lobo de Mesquita (1746/1805)

• Cinema, teatro: Abdias do Nascimento (1914) e Ruth de Souza (1921)

• Ciência, técnica: André Rebouças (1838/98) e Teodoro Sampaio (1855/1937)

• Religião: candomblé e umbanda

• Artes plásticas: Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738/1814), Valentim da Fonseca e Silva, o Mestre Valentim (1745/1813)

• Artes marciais: capoeira

• Música: samba, maracatu, maxixe, coco

• Instrumentos musicais: tambor, atabaque, berimbau 



Culinária: acarajé, vatapá, mungunzá, xinxim

MOVIMENTO NEGRO NO BRASIL

Insere-se no contexto de atitudes multiculturalistas, da aceitação da diversidade. Remonta às lutas negras no Brasil colonial, desde o plano individual (suicídio, abordo induzido) ao plano coletivo (quilombos). 

Ainda no período colonial, a presença negra na Conjuração Baiana, de 1798.

No período Regencial, a Cabanagem a Balaiada a Revolta dos Malês e a ampliação da fuga e formação de quilombos.

Durante o 2º Reinado, a participação direta no processo abolicionista, destacando-se Luís Gama, José do Patrocínio, Castro Alves, Joaquim Nabuco e André Rebouças.

Na República Velha, em 1910, a Revolta da Chibata, liderada por João Cândido, é considerada como um levante negro pelo Movimento Negro Contra a Discriminação Racial.


 Levante negro ou não, o negro João Cândido e seus companheiros colaboraram para a modernização da Marinha brasileira, abolindo os castigos corporais, já proibidos pela Constituição de 1891.

Na década de 1930 foi fundada uma Frente Negra Brasileira, transformada em partido político em 1936, extinto, como todos, em 1937.

Na Era Vargas, Abdias do Nascimento fundou o Teatro Experimental Negro (1944).

A LEI E A LUTA CONTRA O RACISMO

Em 02/07/1951 foi aprovada a Lei Afonso Arinos, proibindo a discriminação racial no país.

Em 07/07/1978 foi fundado o Movimento Negro Contra a Discriminação Racial (MNU).

A Constituição de 1988 estabelece que “a prática do racismo constitui crime inafiançável, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”

Em 09/01/2003, foi aprovada a Lei 10.639, que determina: “Nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”. 

E ainda “O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra.”A data marca a morte de Zumbi dos Palmares.
ALGUNS CONCEITOS


RACISMO: ideologia que postula a existência de hierarquia entre grupos raciais humanos. É um conjunto de ideias e imagens vinculadas aos grupos humanos baseados na existência de raças superiores e inferiores.

PRECONCEITO RACIAL: uma indisposição, um julgamento prévio negativo que se faz de pessoas estigmatizadas por estereótipos étnicos, religiosos, culturais. …

DISCRIMINAÇÃO: é o nome que se dá para à conduta que viola direito de pessoas com base em critérios injustificados e injustos, tais como raça, gênero, idade, orientação sexual.…

ETNOCENTRISMO: designa a pretensa superioridade de uma cultura em relação a outras.

XENOFOBIA: predisposição para a aversão ou rejeição de indivíduos ou grupos diferentes … aversão a estrangeiros.

2 comentários:

  1. Olá Wagner, seu blog é muito bom!
    Abraço

    Prof. Carlão

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  2. Wagner, onde encontro a música que você tocou no inicio da palestra sobre África?

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