“Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens,
e a surda força dos vermes.”
(Cecília Meireles)
Àquele canto da cidade, o posto de saúde não chegou. Tampouco a farmácia. Chegou o cobrador de impostos.
Naquele outro canto, a polícia não entra. Tampouco a escola. Chegou a droga, em pedra, em pó, em ervas.
Em quase todos os cantos, o esgoto não chegou. Tampouco o lixeiro. Chegou o mosquito. E as doenças de pele. E as intestinais.
Na casa legislativa e no palácio executivo, a decência não chegou. Tão pouca honra, tão pouca ética. Chegou o salário dobrado, mais que dobrado. E a justiça foi castrada, paradoxalmente, pela lei,
Cantar o que, pelos cantos da cidade entristecida? Derrotados pelos seus algozes eleitos, eleitores atiram ovos...Haja ovos!
Mas, como nos ensina Cecília Meireles, “pelos caminhos do mundo, nenhum destino se perde: há os grandes sonhos dos homens, e a surda força dos vermes.” Os vermes têm força e são surdos aos sonhos dos homens. Mesmo assim, os homens sonham. Sonham com o médico, com a escola, água tratada, esgoto tratado, pelos quais já pagaram e continuam pagando.
Sem os vermes, os homens teriam um manjar de decência, produzido pelo néctar embriagador da Justiça maior que a lei.
Oxalá esteja chegando a hora em que os pretensos donos de nossos destinos irão para o banco dos réus. Tais vermes acreditam ter as rédeas da História em suas mãos. Acreditam que todos os homens somos vermes, mas não perceberam que estão apenas diante de um espelho. De um pequeno espelho. Porém, “pelos caminhos do mundo, nenhum destino se perde”. E, como diz outro poeta, “não sei qual é a hora, mas sei que há a hora”.
Nesta hora, e neste caso, o sonho dos homens começa com as urnas eleitorais, onde não atiraremos alguns poucos ovos. Milhares de ovos da esperança e da ética serão delicada e firmemente depositados. Aos vermes, vermicida!
A partir desta hora e deste caso, que cresçam os grandes sonhos dos homens, suas utopias, sem as quais não há movimento vital. Como viver sem elas, se as utopias nos alimentam, nos energizam?
Se ainda não agarramos a utopia de um futuro com Justiça, ao menos esfregamos o dedo em sua superfície e o colocamos na boca, como uma criança no bolo de aniversário antes da festa.
Quando a hora chegar, vamos nos lambuzar de novos grandes sonhos, pelos caminhos do mundo.
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