sábado, 28 de maio de 2011

O QUE SERÁ DA BERINJELA?

Da metade do século XVIII à metade do XIX, se algum produto brasileiro encontrasse mercado no exterior, a euforia durava pouco, como a de um gol anulado. Mas o café, um século depois da mineração, reinseriu o Brasil nos mercados internacionais e se mantém até hoje.
Se, em 1830, representava apenas 20% do total exportado, passou para 48% em 1850 e chegou a 68% em 1890. Tais números podem ser vistos com otimismo, pois a capacidade de importar depende da capacidade de exportar e o Brasil começou a ganhar de goleada com os saldos favoráveis da balança comercial.
Contudo, os números mostram o perigo para um país que tem as exportações concentradas numa variedade cada vez menor de produtos. O Brasil, todo o Brasil, ficou refém do café, como um time de onze depende de um único atacante.
O café também consolidou o caráter altamente especializado nas exportações de gêneros primários, como era no Período Colonial, com o açúcar, e é ainda hoje, com o agronegócio. Enquanto isso, alguns poucos times do campeonato mundial especializaram-se na industrialização.
Em termos políticos, a elite cafeeira passou a controlar as decisões do Estado, como atesta a promulgação da Lei das Terras, de 1850, impedindo a democratização do campo, ao contrário do que fez o governo dos Estados Unidos. Além disso, quando o café dava lucro, este era capitalizado, mas quando a crise gerava prejuízo, este era, e é, socializado. A socialização das perdas é a única parte do socialismo que interessa aos capitalistas.
A elite agrária, que um dia foi a do “café com leite” e hoje é do agronegócio continua fazendo do Estado uma instituição criada à sua imagem e semelhança, na defesa de seus interesses, como atestam os resultados da aprovação pela Câmara do Novo Código Florestal. Goleada imposta pelo time da bancada ruralista. A maioria dos deputados aprovou o que a esmagadora minoria dos brasileiros deseja.
Exercitando o poder da imaginação, da utopia do agora, a aprovação do Novo Código Florestal pode vir a ser um tiro no próprio pé, como tem sido no peito de quem luta pela floresta, nossos Gracos. Se os mercados internacionais são sérios e levarem adiante a política de não comprarem produtos saídos do trabalho infantil, do trabalho escravo, do desmatamento, da desertificação, do sangue dos assassinados, o que será do agronegócio?
Serão falácias os discursos sobre aquecimento global, camada de ozônio, derretimento das calotas polares e aumento do volume dos mares e oceanos? A luta mundial pela preservação das nascentes de água potável não interessa mais ao mundo globalizado? O único Deus que restou é o deus-mercado? Todos os times perderão o campeonato mundial?
Como já sei as respostas para essa floresta de interrogações, vou treinar minha filha Duda, de sete anos, a comer folhas de talão de cheques ao invés de couve-flor, cartões de crédito no lugar de brócolis. E a beber números, não água.

2 comentários:

  1. A maioria dos deputados aprovou o que a esmagadora minoria dos brasileiros deseja..

    Leu a última edição do Le Monde, Wagner? Está ótima, falando especialmente sobre o Novo Código Florestal!

    Agora... será que os mercados internacionais vão realmente levar a sério a política da sustentabilidade, ou será que o moniteísmo do deus Mercado não permite o culto à natureza? =)

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  2. Olá Wagner!
    esse assunto também me indigna...
    Como pode? né? Eu realmente achava que este código seria vetado, mais me enganei, é claro que a única coisa que serve ao homem de hoje, é seu próprio bolso, e são a minoria, que ve além de sifras... Bom, e é claro que já temos as respostas pra as suas perguntas, e os países só irão respeitar a natureza, quando pesar no bolso deles, infelizmente... E eles ainda justificam o código como sendo bom pra a agricultura familiar,se ainda fosse... mais nem isso é...
    É, passa época, passa produto, mais as personagens são sempre as mesmas... sempre com as mesmas falas, desculpa e etc...
    Até mais Wagner!

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