GUERRAS DE RELIGIÃO NA FRANÇA
As guerras de
religião provocaram, entre outras consequências, o atraso na consolidação do
absolutismo francês. O processo de unificação da monarquia foi iniciado pela
dinastia dos Capetos, na Baixa Idade Média e avançou com a vitória da dinastia
Valois na Guerra dos Cem Anos (1337/1453). Sob a coroa Valois, o Renascimento
Cultural chegou à França, assim como o início da expansão marítima e do
processo de Reformas Religiosas.
Estruturalmente,
ocorria a transição do feudalismo ao capitalismo, no qual os valores feudais
estavam em decadência e as forças capitalistas, ainda frágeis, em expansão. Na
França católica dos Valois, avançava o protestantismo, especialmente o
calvinismo, ali conhecido como huguenote. Ligada ao capitalismo nascente, a
burguesia via no calvinismo uma ideologia adequada aos seus interesses de lucro
monetário. Por outro lado, a nobreza conservadora continuava ancorada no
catolicismo.
As duas facções
buscavam estar próximas do trono, influenciando as decisões do monarca, como se
viu entre 1559 e 1589, quando a França teve três reis (Francisco II, Carlos IX
e Henrique III) politicamente frágeis, incapazes de fortalecer o poder real e
que sofriam o assédio dos dois setores em choque, os católicos e os huguenotes.
O INÍCIO DAS GUERRAS
Entre os líderes
huguenotes, destacaram-se o almirante Coligny e Antônio de Bourbon, rei de
Navarra. Do lado católico, a família Guise, muito influente nos governos da
dinastia Valois. Em 1562, num confronto entre as duas facções, os católicos
massacraram dezenas de protestantes, dando início às guerras.
A NOITE DE SÃO BARTOLOMEU
Almirante Coligny |
Os huguenotes
conseguiram avançar politicamente, graças à habilidade de Coligny e sua
influência junto a Carlos IX, rei Valois. Num acordo político por ele
costurado, Henrique de Bourbon, huguenote e filho de Antônio de Navarra,
casou-se com Margarida, irmã do rei, católica. Catarina de Médicis, mãe do rei,
descontente com o acordo desse casamento, tramou, com apoio de Henrique de
Guise, o atentado para assassinar Coligny.
Embora o atentado
tenha fracassado, a “Rainha Mãe”, Catarina de Médicis, convenceu Carlos IX a
massacrar os huguenotes, o que aconteceu em 24 de agosto de 1572, na chamada
Noite de São Bartolomeu.
Noite de São Bartolomeu |
Dois anos depois,
Henrique III assumiu o trono, em função da morte de seu irmão Carlos IX.
Procurou reconciliar o trono com os huguenotes, dando-lhe liberdade de culto e
desaprovando oficialmente o massacre de 1572. Contudo, os católicos reagiram,
ainda liderados por Henrique de Guise.
A GUERRA DOS TRÊS HENRIQUES
Em 1584, morreu
Francisco, irmão e sucessor de Henrique III. Henrique de Bourbon, cunhado do
rei, passou a ser o sucessor direto do trono, por ser casado com Margarida de Valois.
Os católicos se recusaram a aceitar um huguenote no trono, também cobiçado por
Henrique de Guise.
A guerra
envolveu, portanto, Henrique III (rei Valois), Henrique de Guise (líder
católico) e Henrique de Bourbon (líder huguenote). Os dois primeiros morreram
assassinados e o trono foi assumido pelo Bourbon, com o título de Henrique IV.
Terminava, assim, a dinastia Valois e começava a de Bourbon, que levará a
França ao absolutismo monárquico, especialmente com Luís XIV.
A FRANÇA DE HENRIQUE IV
Henrique IV |
Para assumir o tono, Henrique IV abjurou do
calvinismo huguenote e se fez católico. A respeito disso, é atribuída a ele a
frase “Paris bem vale uma missa!”, num claro exemplo de maquiavelismo político,
em que os fins ( a coroa francesa) justificam os meios (assumir publicamente o
catolicismo). Em 1598, assinou com Felipe II, rei da Espanha, um tratado de paz
entre os dois reinos. Felipe II, Habsburgo e católico, também era cunhado dos
reis Valois.
Ainda em 1598,
Henrique IV assinou o Edito de Nantes, consolidando a liberdade de culto aos
huguenotes, dando-lhes direito de defesa armada em caso de ataques católicos.
Reconhecia, assim, a igualdade civil entre católicos e protestantes. O fim das
guerras de religião possibilitou o avanço da França em direção ao absolutismo
monárquico.
A GUERRA DOS TRINTA ANOS
A Guerra dos
Trinta Anos ocorreu entre 1618 e 1648 e envolveu vários povos europeus,
especialmente católicos, luteranos e calvinistas.
Durante o
processo de Reforma, o protestantismo avançou sobre o continente e a Europa,
outrora exclusivamente católica, perdeu sua unidade religiosa. A Contrarreforma
–ou Reforma Católica – reagiu ao avanço do protestantismo, mantendo-se maioria
na França, em Portugal, na Espanha e nos Estados Italianos. Todos os demais
Estados Nacionais, ducados, principados, assumiram algum tipo de
protestantismo, especialmente o fundado por Calvino, mais adequado à burguesia
e ao capitalismo nascente e em expansão. O papado passou a ser visto como
“estrangeiro”, “intruso” e o poder nacional se colocava acima do poder
universal da Igreja Católica.
Defenestração de Praga |
Na região da Boêmia,
o luteranismo galvanizou o nacionalismo tcheco contra o Sacro Império Romano
Germânico e o poder católico. Em 1617, o trono da Boêmia foi herdado por um católico,
Ferdinando, que tentou impor sua religião aos seus súditos, o que provocou a
reação nos nobres tchecos. Em23 de maio, protestantes invadiram o palácio real
de Praga e, com extrema violência, jogaram por uma janela, de uma altura de
vinte metros, dois representantes do rei católico. Foi a “Defenestração de
Praga”.
Em pouco tempo, a
revolta atinge outros lugares de Sacro Império.
A GUERRA NA ALEMANHA
Ferdinando II
aliou-se a Maximiliano da Baviera e suas tropas esmagaram os tchecos da Boêmia.
Os bens dos nobres derrotados foram confiscados, o protestantismo foi proscrito
e os líderes decapitados. Fugindo das forças católicas, mais de um milhão de
tchecos migraram da Boêmia para outros lugares da Europa.
O rei da
Dinamarca, Cristiano IV, interveio a favor dos protestantes tchecos, o que
arrastou a guerra para praticamente toda a Europa, direta ou indiretamente. Contudo,
Ferdinando II derrotou as forças dinamarquesas e determinou a restituição dos
bens da Igreja Católica, confiscados pelos protestantes desde 1555.
Desde a sua
criação, o Sacro Império tinha imperadores eleitos, não hereditários. Quando
Ferdinando II tentou tornar o trono hereditário, muitos nobres alemães
eleitores não aceitaram. A França e a Suécia, temendo o fortalecimento dos
Habsburgos do Sacro Império, também não aceitaram os planos de Ferdinando II e
apoiaram os nobres alemães contra seu imperador.
O próprio rei da
Suécia, Gustavo Adolfo, comandou a vitória de suas forças contra o Sacro
Império e morreu em combate. A França, que até então olhava a guerra com certa
distância, lançou-se contra Ferdinando II.
A FRANÇA E A GUERRA
Luís XIII, rei da
França, casou-se com uma filha de Felipe II da Espanha. A diplomacia francesa
esteve, por certo tempo, ao lado dos Habsburgos da Espanha e
do Sacro Império.
Contudo, o cardeal Richelieu, embora católico, rompeu com os Habsburgos, também
católicos e aliou-se à Suécia, à Dinamarca e aos Países Baixos. Em 1635,
começaram as hostilidades entre a França e os Habsburgos.
Cardeal Richelieu e a Guerra dos Trinta Anos |
Nos primeiros
anos, os franceses não foram bem-sucedidos, mas, com o desenrolar do conflito,
terminaram vitoriosos, já no reinado de Luís XIV, o “Rei Sol”.
CONSEQUÊNCIAS
Derrotado, o
Sacro Império Romano-Germânico entrou em crise, perdeu territórios e os poderes
locais se fortaleceram, em detrimento do poder central. Ao final da guerra,
foram assinados os Tratados de Westfália, pelos quais a França e a Suécia
saíram fortalecidas e receberam territórios. Os Países Baixos e a Suíça
consolidaram a independência.
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