domingo, 29 de setembro de 2013

TEXTOS - ÁFRICA


PRECONCEITO
(Palavras de Charles Linné, 1778)
         " Homem Selvagem: quadrúpede, mudo, peludo
          Americano: cor de cobre, colérico, ereto. Cabelo negro, liso, espesso; narinas largas, semblante rude, barba rala; obstinado, alegre, livre. Guia-se pelo costume.
          Europeu: claro, sanguíneo,  musculoso;  cabelo louro, castanho, ondulado; olhos azuis; delicado, perspicaz, inventivo.  Coberto por vestes justas. Governado por leis.
          Asiático: escuro, melancólico, rígido; cabelos negros; olhos escuros, severo, orgulhoso,  cobiçoso. Coberto de vestimentas soltas. Governado por opiniões.
          Africano: negro, fleumático, relaxado. Cabelos negros, crespos; pele acetinada; nariz achatado, lábios túmidos; engenhoso, indolente, negligente. Unta-se com gordura. Governado  pelo capricho."

PRECONCEITO
   “Oh, se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil, conhecera bem quanto deve a Deus e a Sua Santíssima Mãe por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre!” (VIEIRA, Padre Antônio. Sermão XIV)
   Não há trabalho, nem gênero de vida no mundo mais parecido à cruz e paixão de Cristo, que o vosso em um desses engenhos. Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado [...] Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isso se compõe a vossa imitação, que se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio”.  (VIEIRA. Sermões. Apud BOSI, Alfredo. A dialética da Colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 172.)

PRECONCEITO
(Palavras de Hegel, em 1830)
   “A África não é uma parte histórica do mundo, não oferece nenhum movimento, desenvolvimento ou progresso próprio. (…) O que entendemos propriamente por África é o espírito sem história, o espírito ainda não desenvolvido, envolto nas condições naturais.”

ANÁLISE
   “As agências internacionais de notícias têm falseado enormemente a realidade dos problemas africanos contemporâneos, por seus enfoques episódicos e parciais. (…) o crivo ocidentalizante é tão forte que a realidade africana é pintada como um quadro de figuras exóticas, caricaturais, onde os homens não têm consciência de que fazem história”. (SARAIVA, José Flávio Sombra. Formação da África Contemporânea. São Paulo. Atual, 1987)

HISTÓRIA ORAL
   “Qualquer adjetivo seria fraco para qualificar a importância que a tradição oral tem nas civilizações e culturas africanas. Nelas, é a palavra falada que transmite de geração a geração o patrimônio cultural de um povo. A soma de conhecimentos sobre a natureza e a vida, (…) o relato dos eventos do passado (…), o canto ritual, a lenda, a poesia – tudo isso é guardado pela memória coletiva, a verdadeira modeladora da alma africana e arquivo de sua história. Por isso, já se disse que “cada ancião que morre na África é uma biblioteca que se perde”. (Amadou Hampaté Bâ. A Palavra, Memória Viva na África)

ESCRAVIDÃO ANTES DA CHEGADA DOS EUROPEUS
   “O escravo era uma espécie de parente – com direitos diferentes de outros parentes, diferentes posições na família e no lar, mas, no entanto, um espécie de parente. Os escravos tinham de ser ou capturados, ou adquiridos de seus parentes, que os “vendiam como escravos”. Isto significa que (…) alguns grupos pegavam seus criminosos ou, geralmente, parentes não desejados e executavam o ritual que “rompia o parentesco”. (…) Esses escravos trabalhavam (…) mas também casavam-se, inseriam suas famílias no grupo social e formavam uma parte legítima da família ampliada”. (BOHANNON. Paul. História Ilustrada da Escravidão)

O ESCRAVO DENTRO DE NÓS
   “O Brasil é um país extraordinariamente africanizado. E só a quem não conhece a África pode escapar o quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de ser e de viver e no sentimento estético do brasileiro (…)    O escravo ficou dentro de nós, qualquer que seja nossa origem(…)  Com ou sem remorsos, a escravidão é o processo mais longo e mais importante de nossa história”. (COSTA E SILVA, A. O Brasil, a África e o Atlântico no Século XIX)

PROBLEMAS DA FALTA DE DOCUMENTOS ESCRITOS
   “A ausência de documentos escritos (...) para as provas materiais em que os cientistas baseiam suas descobertas, acrescidos de uma pressuposição há muito divulgada entre os cientistas brancos de que os africanos negros seriam incapazes de produzir semelhantes civilizações, criaram enorme obstáculos à descoberta da verdade”. (Mitchell Adams. Zimbábue, Uma Civilização Africana Desaparecida. Em Os últimos Mistérios do Mundo. Lisboa. Seleções do Reader’s Digest, 1979)


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