domingo, 10 de abril de 2011

17 DE MARÇO DE 2011:SESQUICENTENÁRIO DA ITÁLIA

Em 17 de março de 2011, a Itália completou 150 anos de existência unificada. Naquele dia de 1861, Vitor Emanuel II, inicialmente Rei do Piemonte, era aclamado Rei da Itália.

  • A ITÁLIA DESENHADA PELO CONGRESSO DE VIENA

O Congresso de Viena, em 1815, dividiu a Península Itálica em vários Estados. Milão e Veneza ficaram sob domínio austríaco, assim como os ducados de Módena e Toscana. No centro da península ficavam os Estados Pontifícios, dominados pela Igreja Católica.Ao Sul, o Reino das Duas Sicílias, com capital em Nápoles, era governado pelos Bourbons da Espanha, assim como o ducado de Parma. No Norte, o Reino do Piemonte, ou Sardo-Piemontês era o único nas mãos de italianos, governado pela dinastia de Savoia.







  • AS REVOLUÇÕES DE 1830 E 1848

Levantes liberais e nacionalistas marcaram os anos de 1830 e de 1848, este conhecido por “A Primavera dos Povos”. A luta pela unificação era liderada por Mazzini e pelo rei Carlos Alberto, do Piemonte. O movimento “Jovem Itália”, de Mazzini e Garibaldi, pretendia transformar o futuro país em uma República. Os republicanos chegaram a tomar Roma, forçando o exílio do papa. Mas a alta burguesia piemontesa temia a “radicalização” republicana, a “desordem popular” e os possíveis ataques à propriedade privada. Apoiou, então o rei do Piemonte. A cisão entre as forças unificadoras custou-lhes caro. As forças da reação, da contrarrevolução, esmagaram os insurretos em 1849. Carlos Alberto foi forçado a abdicar do trono em nome de seu filho Vitor Emanuel. O papa, apoiado por Napoleão III da França, voltou do exílio e retomou os Estados Pontifícios.


  • O RISORGIMENTO

Pio IX
No Reino Sardo-Piemontês, único independente de forças estrangeiras, liberal, industrializado e burguês, os ideais nacionalistas de unificação continuaram latentes. Ao nacionalismo burguês somou-se a mecessidade de formar um mercado mais amplo para seus negócios capitalistas. Assim nasceu o Risorgimento, movimento ideológico que defendia o ressurgir da poderosa Itália dos tempos da Antiguidade (Império Romano) e da Renascença. Nesse contexto, as primeiras ações foram marcadas pelo terrorismo e nucleadas em sociedades secretas, como a dos Carbonários. Depois foram dirigidas por líderes como Cavour e Garibaldi. Um dos mais destacados artífices desse movimento foi Camilo Benso de Cavour, grande proprietário de terra e monarquista convicto. Em 1852, foi convocado por Vitor Emanuel II para chefiar o gabinete ministerial, ou seja, para o governo do Piemonte-Sardenha.

Garibaldi (em pé) e Mazzini

  • A AÇÃO DO CONDE CAVOUR

Conde Cavour
Cavour tinha a certeza que não poderia promover a unificação da Itália sem o apoio de forças estrangeiras. Por isso, aliou-se à França de Napoleão III e à Inglaterra da Rainha Vitória na Guerra da Criméia, contra a Rússia. Em troca, Napoleão III apoiou o Piemonte na luta contra a Áustria, dominadora de extensas regiões na Itália. Embora não tenha sido uma vitória completa, pois a Áustria ainda manteve territórios por ela dominados, Cavour anexou os ducados de Toscana, Parma e Módena e parte dos territórios papais. O Piemonte dobrou de tamanho, dominou o industrializado Vale do Pó e tornou-se inquestionavelmente o reino mais importante da Itália. Em reciprocidade ao apoio francês, o Piemonte entregou a Napoleão III os condados de Nice e Savoia. Para silenciar a oposição católica contra o domínio piemontês de regiões da Igreja, Cavour fez realizar plebiscitos em muitas áreas e a resposta foi esmagadoramente a favor da unificação liderada pelo Piemonte.


  • O REINO DAS DUAS SICÍLIAS

Garibaldi
No Sul da Itália, a luta foi conduzida por Garibaldi, o mesmo que lutou no Brasil ao lado dos farroupilhas, pela República Rio-Grandense. Com suas “Camisas Vermelhas”os “Mil de Garibaldi”derrotaram a dinastia bourbônica. Mas, desta vez, os republicanos não cometeram os erros de 1830 e 1848. As forças de Garibaldi concordaram em anexar o Reino das Duas Sicílias aos monarquistas de Vitor Emanuel II. Garibaldi retirou-se da vida pública. Estava consumado o sonho de Cavour que, em fução de sua morte, em 1860, não o viu completado.


  • 17 DE MARÇO DE 1861 Vitor Emanuel II, originariamente rei do Piemonte, foi aclamado rei da Itália.

  • 1861 – 1871: A UNIFICAÇÃO SE COMPLETA

A aclamação do rei da Itália ocorreu antes da completa unificação do país. Faltavam ainda regiões importantes, como Roma, ainda sob domínio papal, e Veneza, controlada pelos Habsburgos da Áustria. No caso de Roma, o papa Pio IX recebia apoio militar de Napoleão III da França, desta vez contra Vitor Emanuel II. Mas a conjuntura européia tornou-se favorável à Itália com as guerras de unificação da Alemanha, conduzidas pela Prússia de Bismarck. A Guerra Austro-Prussiana, ou Guerra das Sete Semanas, enfraqueceu a Áustria, derrotada, e permitiu a vitória italiana na anexação de Veneza. A Guerra Franco-Prussiana forçou Napoleão III a retirar suas forças de Roma, deixando o papa à mercê dos unificadores italianos. Em 1870, enquanto a França perdia a guerra para a Prússia, os exércitos italianos tomaram Roma, que passou a ser a capital do Estado Italiano.


  • ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS DA UNIFICAÇÃO

Assinatura do Tratado de Latrão,em 1929
Com a derrota das forças papais, Pio IX passou a tomar uma série de medidas contra o Estado Italiano, como estimular os católicos a não participarem de eleições e não se empregarem em órgãos do Estado. Nascia a Questão Romana, conflito entre a Igreja e o Estado, no qual a Igreja perdeu suas terras e muitos privilégios. Somente em 1929, pelo Tratado de Latrão assinado por Pio XI e o fascista Mussoline, a questão foi solucionada. O Estado Fascista criou o Estado Independente do Vaticano, um enclave dentro de Roma. A religião católica passou a ser oficial e obrigatória na Itália de Mussoline. Outra consequência foi a acelerada industrialização da Itália e sua participação tardia na corrida neocolonialista e imperialista, causa fundamental da Primeira Guerra Mundial.


  • ALGUNS TEXTOS SOBRE A UNIFICAÇÃO

Mazzini defende o direito italiano à unificação política: “Somos um povo de 21 a 22 milhões de homens, designado há muito tempo pelo nome italiano, encerrado entre os limites naturais mais preciosos que Deus já traçou – o mar e as montanhas mais altas da Europa; e um povo que fala a mesma língua (...) que se orgulha do mais glorioso passado político, científico e artístico da história européia (...) Não temos mais bandeira, nem nome político, nem posição entre as nações européias (...) Estamos desmembrados em oito Estados (...) independentes, sem aliança, sem unidade, sem ligação organizada. Não existe liberdade de Imprensa, nem de associação, nem de expressão, nem de petição coletiva, nem de importação de livros estrangeiros, nem de educação, nem de nada. Um desses Estados, cujo território compreende uma quarta parte da península, pertence à Áustria; os outros submetem-se cegamente à sua influência.” (MAZZINI, A Itália, a Áustria e o Papa. 1845. Citado por J. Monnier)


    Garibaldi e seus comandados em direção à Sicília: “...ao primeiro gesto de Garibaldi todos os soldados do exército desertariam para segui-lo (...). Os voluntários, reconhecidos por suas camisas vermelhas, marchavam estrepitosamente pelas ruas de Gênova ao rufar dos tambores (...) Viva a Itália toda em uma (...)! Cada província tinha a honra de enviar seus soldados para juntar-se à expedição libertadora; as velhas disputas provinciais, os amores-próprios provinciais, que outrora fizeram tanto mal à nação italiana, esfumavam-se num único pensamento.” (TAINE, Voyage em Italie. Citado por L. Girard, 1945)

    A Itália e os italianos: “No momento da unificação, em 1860, estimou-se que não mais de 2,5% de seus habitantes falava a língua italiana no dia-a-dia, o resto falava idiomas de tal forma diferentes, que professores enviados pelo Estado italiano para a Sicília (...) foram confundidos com ingleses. Provavelmente uma porcentagem bem maior, mas ainda uma modesta minoria, teria se sentido naquela data como italianos. Não é de se admirar que Massimo d’Azeglio (1792-1886) tivesse exclamado em 1860: “Fizemos a Itátia; agora precisamos fazer os italianos”. (HOBSBAWM, Eric. A Era do Capital -1848-1875)

    Cavour expõe, pouco antes de sua morte, o problema da anexação de Roma: “Roma, só Roma deve ser a capital da Itália. Mas aqui começam as dificuldades do problema (...) Devemos ir a Roma, mas sob duas condições: a ela devemos ir em concordância com a França e sem que a união desta cidade ao resto da Itália possa ser interpretada pelo grande número de católicos da Itália e do estrangeiro como indício de submissão da Igreja”. (Citado por DUROSELLE e GERBET, na Collection Monnier, Fernand Nathan)

    O problema da Igreja versus Estado: “Em várias ocasiões anteriores à anexação de Roma, Pio IX (1846 – 1878) se manifertara contra a unificação italiana, ao perceber que isso implicaria perdas territoriais e diminuição da influência política da Igreja. Em 1864, através da bula Syllabus errorum, o papa condenou todas as teorias que defendiam mudanças sociais – o liberalismo, o sindicalismo, a democracia – e propôs que todos os poderes temporais se submetessem às diretrizes eclesiásticas. Em 1866, promulgou o Non expedit, um documento que proibia os católicos de participarem da vida política e das eleições no novo reino. Como consequência dessas medidas, o Estado separou-se da Igreja e deixou de pagar os salários dos padres; os terrotórios pontifícios restringiam-se ao Vaticano. O taxativo repúdio do Syllabus ao racionalismo liberal provocou deserções, sobretudo de católicos das classes dirigentes e intelectuais, além de provocar rupturas dentro da própria Igreja entre o clero tradicional e o clero liberal.” (PAZZINATO, Alceu e SENISE, Maria HelenaV. História Moderna e Contemporânea. Ática)

    Verdi e a unificação da Itália: “Várias manifestações unificadoras na região dominada pelos austríacos, buscando escapar da violenta repressão dos governantes locais, eram feitas com faixas escritas “Viva VERDI”, levando as autoridades a pensar em manifestação de regozijo italiano em homenagem ao músico Giuseppe Verdi, o autor da ópera Aída. Era justamente o que queriam os manifestantes que pensassem os austríacos. Porém, expressavam, entre os seus, outro significado bem nacionalista, contra a dominação da Áustria, com as letras das palavras “Viva VERDI”: “Viva Victor Emanuel, Rei di Itália!” (VICENTINO, Cláudio. História Geral)



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