sábado, 30 de abril de 2011



PESCANDO LETRAS



Algumas vezes falo de meus filhos em sala de aula, pois tenho motivos de sobra para orgulhar-me dos cinco. Os adultos já estão por aí, na lida diária que a Vida lhes dá. Convivo mais com minha piquititica, de seis anos de idade. Ela, como os irmãos, também anda por aí, pela Vida, ganhando o mundo de hoje e construindo um novo mundo, embora não saibamos qual será. Uma de suas brincadeiras é tocar teclado. Outra é ler dicionário. Ainda outra é brincar de poesia. Num trabalho durante a aula, fez um texto a partir da leitura da figura acima, proposta pela professora. Intitulou-o "Pescando Letras":


Era uma vez

Um menino poeta que abriu a imaginação.

Ele imaginou ele pescando letras para fazer uma poesia.

- Ah! Terminei de pescar letras!

Aí ele fez uma linda poesia:


Sol, noite, dia

Noite, Lua vazia.


E agora já vou embora

para eu pegar o meu trem.


Maria Eduarda - 6 anos.


O texto foi publicado no site de sua escola: http://www.escoladositio.com.br/site/?p=1661
























domingo, 17 de abril de 2011

ALGUNS PAPAS E A HISTÓRIA

(Imagem: o CISMA DO OCIDENTE)

Em muitas aulas, falamos do papado romano. Alguns alunos querem saber mais detalhes, como o nome dos papas e seu papel na História que está sendo ensinada. Resolvi publicar uma lista, usando por critério a importância dada em provas de vestibulares. Evidentemente, ninguém perguntará, numa prova criteriosa, o nome do papa. Aconselho então a pesquisarem mais sobre os acontecimentos resumidos nesta lista.




  • O primeiro papa foi Pedro. Segundo a tradição cristã, enviado por Jesus de Nazaré a Roma, capital do Império Romano.


  • 32º: Melquíades (311-314). O imperador Constantino deu liberdade de culto aos cristãos e proibiu a crucificação como pena de morte.


  • 33º: Silvestre (315-335). Chefiou o Concílio de Niceia, convocado pelo imperador Constantino. Definido que o bispo de Roma, e não outro, seria o chefe da Igreja. Muitas instituições do Império Romano serviram de base para a organização e para a hierarquia da Igreja.


  • 37º: Damaso I (366-384). O Imperador Teodósio convoca o Concílio de Constantinopla. O cristianismo passa a ser a religião oficial do Império, pelo Edito de Constantinopla, e as heresias e o paganismo são perseguidos.


  • 38º: Sirício (384-399). O imperador Teodósio, em 395, divide o Império Romano em dois, o Ocidental e o Oriental, cada um com um imperador, a princípio seus próprios filhos. O Império do Ocidente estava sendo retalhado pelas invasões bárbaras e o escravismo lentamente sendo substituído pelo colonato, num irreversível êxodo urbano.


  • 45º: Leão I (440-461). Convenceu os hunos, liderados por Átila, a não saquearem Roma. Um dos poucos papas a ser chamado de “Magno”.


  • 48º: Félix II (483-492). Em 476, Odoacro, rei dos hérulos, invadiu e tomou Roma. Era o fim do Império do Ocidente. O do Oriente, chamado também de Império Bizantino, sobreviveu até 1453.


  • 64º: Gregório I (590-604). Conversão de bárbaros ao cristianismo. Criou o Canto Gregoriano. Outro, entre poucos, chamado de “Magno”.


  • 97º: Leão III (795-817). Carlos Magno, no Natal de 800, foi coroado Imperador Romano do Ocidente. A contradição é que Carlos Magno não era romano, nem latino, era um franco, dos germânicos. Leão III tentava se impor ao Patriarca de Constantinopla, do Império Bizantino.


  • 150º: Leão IX (1049-1054). Definitivo conflito com o Patriarca Miguel de Cerulário, do Império Bizantino: ocorre a crise da iconoclastia e o Cisma do Oriente, separando a Igreja Cristã em duas.


  • 154º: Nicolau II (1058-1061). Combateu a investidura leiga e criou o Colégio de Cardeais, órgão responsável pela eleição dos papas.


  • 156º: Gregório VII (1073-1085). Combate a simonia, a investidura leiga e o nicolaísmo, vistos como desregramentos da conduta clerical. Forte campanha pelo celibato do clero.


  • 157º: Urbano II (1087-1098). Pregou as Cruzadas, em Clermont, em 1095.




  • 163º: Inocêncio II (1130-1143). Instituído, definitivamente, o dogma do celibato clerical. O feudalismo europeu atingira o máximo de sua eficiência enquanto modo de produção, e entrava em crise. A Igreja era a única instituição verdadeiramente organizada e centralizada, em meio à estrutural descentralização política.


  • 201º: Urbano VI (1378-1389). Início de Cisma do Ocidente, durante o qual havia um papa em Avignon (França) e outro em Roma.






  • 204º: Gregório XII (1406-1415). Fim do Cisma do Ocidente. Roma volta a ser a única sede da Igreja Católica. 215º Júlio II (1503-1521). Foi mecenas de Michelangelo, autor de obras como a pintura do teto da Capela Sistina.


  • 216º: Leão X (1513-1521). Martinho Lutero publica suas “95 Teses”, em 1517, dando início à Reforma.


  • 219º: Paulo III (1534-1549). Início da Contrarreforma, com a criação da Companhia de Jesus (os “Soldados de Cristo”) e o início do Concílio de Trento que, entre outras decisões, confirmou todos os dogmas católicos, tais como os sacramentos e a santidade papal.


  • 220º: Júlio III (1549-1555). Termina o Concílio de Trento. A Inquisição, ou Tribunal do Santo Ofício, criada no início do século XIII, é reforçada e passará a ser um importante instrumento da Igreja Católica.


  • 225º: Gregório XIII (1572-1585). Instituído o Calendário Gregoriano, substituindo o Calendário Juliano.


  • 254º: Pio IX (1846-1878). Guerras de unificação da Itália e início da Questão Romana. Instituiu o dogma da infalibilidade papal. Publicou a Bula Sylabus, para combater a maçonaria e outras forças temporais, influenciando, inclusive, bispos brasileiros que se envolveram na Questão Religiosa.


  • 255º: Leão XIII (1879-1903). Diante das ideologias socialistas, anarquistas e do crescimento dos movimentos operários, publicou a Bula Rerum Novarum. Tentava afastar as ideologias de esquerda, com a pregação da “justiça social” e da manutenção da sociedade de classes. Influenciou muitos outros papas.


  • 258º: Pio XI (1922-1939). Os fascistas de Mussoline no poder na Itália. Tratado de Latrão coloca um fim na Questão Romana, em 1929. Ascensão do nazismo e nascimento do III Reich.


  • 259º: Pio XII (1939-1958). Segunda Guerra Mundial e, ao seu término, Guerra Fria. Expansão do bloco socialista.

sábado, 16 de abril de 2011

COITADO DO DEPUTADO




  • O Brasil tem um deputado internado na UTI dos vegetais, e de lá não sairá. Como foi eleito, muitos de seus eleitores também estão. Todos coitados, dignos de pena. Para eles, a vida não tem nenhum significado.



  • O deputado e seus eleitores não conhecem o Coral e a Sinfônica de Heliópolis, onde tantas crianças e jovens, brancos e negros, todos pobres, dão um salto qualitativo em suas vidas.



  • O deputado e seus eleitores nunca ouviram o samba-enredo da Unidos de Vila Isabel, campeã de 1988, Kizomba Festa da Raça: "Vem a lua de Luanda/ Para iluminar a rua/ Nossa sede é nossa sede/ De que o apartheid se destrua. "Não ouviram, estavam na UTI. E também nunca escutaram Ataulfo Alves, Clementina de Jesus, Milton Nascimento, Jamelão. Nem Vinícius de Moraes, autointitulado "o branco mais preto do Brasil" .



  • Nunca leram nada sobre o Rei Manuel Congo ou sobre Preto Cosme. Faltaram à aula de História exatamente no dia em que o assunto era a Balaiada, a Revolta dos Malês, a formação de quilombos. Faltaram, coitados, pois estavam na UTI, depois de comerem uma deliciosa feijoada que, é claro, tinha feijão preto.



  • E também não leram nada de Machado de Assis, nem de Lima Barreto. Nunca ouviram falar de José do Patrocínio, André Rebouças, Joaquim Nabuco, Teodoro Sampaio, das artes de Aleijadinho e do Mestre Valentim. Não sabem nada sobre Abdias Nascimento nem do maestro Lobo de Mesquita.



  • O deputado e seus eleitores rasgam as páginas de esporte que falam de Didi, Garrincha, Pelé, Zé Maria, João do Pulo, Coutinho, Vladimir. Não gostam do Ronaldinho Gaúcho nem de Neymar ou de Robinho.



  • Nunca ouviram falar do Mestre Didi e de suas obras de arte afro-brasileiras, com peças espalhadas pelo mundo, incluindo o Museu Picasso em Paris e o MAM de Salvador e Rio de Janeiro. Também não sabem da existência de um tal Hamilton Naki, cirurgião negro que participou do primeiro transplante de coração de todos os tempos, em 1967, na África do Sul, realizado pelo cardiologista Christiaan Barnard. Por ser negro, Naki não apareceu na foto. Mas, com o fim do apartheid, seu trabalho foi reconhecido com o título de doctor honoris causa. Se o deputado ou um de seus filhos precisarem de um transplante cardíaco, aceitarão o coração de um negro? Ou de um homossexual?



  • O deputado e seus eleitores estavam quase saindo da UTI quando Barack Obama venceu as eleições, continuando o sonho de Luther King. No mesmo ano, Lewis Hamilton venceu o Grande Prêmio de Fórmula 1. Voltaram para a cama e não compareceram à inauguração da estátua de João Cândido, fincada na praça XV, debruçada sobre a Baía da Guanabara, cenário da luta do "Almirante Negro". Mas estiveram presentes o Presidente Lula, Candinho (filho de João Cândido), Edson Santos (Ministro da Igualdade Racial ), Zezé Motta, Martinho da Vila, João Bosco. Os filhos do deputado, é claro, não foram.



  • Coitado do deputado e de seus eleitores. Para tirá-los da UTI em que vegetam no limbo do fascismo, podemos fazer algumas coisas. Primeiro, apelar para os Irmãos de Fé, rezando para Nossa Senhora do Rosário, para São Benedito, para Nossa Senhora Aparecida, ao som de um berimbau e de um agogô. Depois, tirar do quarto do hospital a imagem de Domingos Jorge Velho e substitui-la pela de Zumbi. E trocar a comida sem sal e sem graça por acarajé, vatapá ou mungunzá.





  • E, se não der resultado, que tal usarmos a Lei de Afonso Arinos, de 1951?

domingo, 10 de abril de 2011

A ITÁLIA E OS BOMBARDEIOS NA LÍBIA

Mark Almond: 100 anos de bombas contra a Líbia Um excente texto de Mark Almond foi publicado em http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/mark-almond-100-anos-de-bombas-contra-a-libia.html. Vai aqui um exemplo de como as grandes distribuidoras de notícias e as grandes empresas jornalísticas manipulam o que deve e e que não deve ser publicado. As tentativas de entender um fato em sua totalidade torna-se infrutífera. No caso da Líbia, as notícias partem de poucas agências e se multiplicam na grande mídia como interessa aos editores. No entanto, mesmo que a notícia seja verdadeira, é uma verdade vesga, míope, pois não se tem acesso ao outro lado da mesma verdade. Aproveitando o assunto das inverdades da grande mídia, indico a leitura da revista Carta Capital de 13 de abril de 2011. A matéria de capa trata das mentiras divulgadas pelos grandes órgãos da imprensa a respeito da divulgação do relatório da Polícia Federal sobre o "caso mensalão". No cantinho deste nosso blog, parte da reportagem pode ser lida, ao clicar em cima de "Carta Capital".

17 DE MARÇO DE 2011:SESQUICENTENÁRIO DA ITÁLIA

Em 17 de março de 2011, a Itália completou 150 anos de existência unificada. Naquele dia de 1861, Vitor Emanuel II, inicialmente Rei do Piemonte, era aclamado Rei da Itália.

  • A ITÁLIA DESENHADA PELO CONGRESSO DE VIENA

O Congresso de Viena, em 1815, dividiu a Península Itálica em vários Estados. Milão e Veneza ficaram sob domínio austríaco, assim como os ducados de Módena e Toscana. No centro da península ficavam os Estados Pontifícios, dominados pela Igreja Católica.Ao Sul, o Reino das Duas Sicílias, com capital em Nápoles, era governado pelos Bourbons da Espanha, assim como o ducado de Parma. No Norte, o Reino do Piemonte, ou Sardo-Piemontês era o único nas mãos de italianos, governado pela dinastia de Savoia.







  • AS REVOLUÇÕES DE 1830 E 1848

Levantes liberais e nacionalistas marcaram os anos de 1830 e de 1848, este conhecido por “A Primavera dos Povos”. A luta pela unificação era liderada por Mazzini e pelo rei Carlos Alberto, do Piemonte. O movimento “Jovem Itália”, de Mazzini e Garibaldi, pretendia transformar o futuro país em uma República. Os republicanos chegaram a tomar Roma, forçando o exílio do papa. Mas a alta burguesia piemontesa temia a “radicalização” republicana, a “desordem popular” e os possíveis ataques à propriedade privada. Apoiou, então o rei do Piemonte. A cisão entre as forças unificadoras custou-lhes caro. As forças da reação, da contrarrevolução, esmagaram os insurretos em 1849. Carlos Alberto foi forçado a abdicar do trono em nome de seu filho Vitor Emanuel. O papa, apoiado por Napoleão III da França, voltou do exílio e retomou os Estados Pontifícios.


  • O RISORGIMENTO

Pio IX
No Reino Sardo-Piemontês, único independente de forças estrangeiras, liberal, industrializado e burguês, os ideais nacionalistas de unificação continuaram latentes. Ao nacionalismo burguês somou-se a mecessidade de formar um mercado mais amplo para seus negócios capitalistas. Assim nasceu o Risorgimento, movimento ideológico que defendia o ressurgir da poderosa Itália dos tempos da Antiguidade (Império Romano) e da Renascença. Nesse contexto, as primeiras ações foram marcadas pelo terrorismo e nucleadas em sociedades secretas, como a dos Carbonários. Depois foram dirigidas por líderes como Cavour e Garibaldi. Um dos mais destacados artífices desse movimento foi Camilo Benso de Cavour, grande proprietário de terra e monarquista convicto. Em 1852, foi convocado por Vitor Emanuel II para chefiar o gabinete ministerial, ou seja, para o governo do Piemonte-Sardenha.

Garibaldi (em pé) e Mazzini

  • A AÇÃO DO CONDE CAVOUR

Conde Cavour
Cavour tinha a certeza que não poderia promover a unificação da Itália sem o apoio de forças estrangeiras. Por isso, aliou-se à França de Napoleão III e à Inglaterra da Rainha Vitória na Guerra da Criméia, contra a Rússia. Em troca, Napoleão III apoiou o Piemonte na luta contra a Áustria, dominadora de extensas regiões na Itália. Embora não tenha sido uma vitória completa, pois a Áustria ainda manteve territórios por ela dominados, Cavour anexou os ducados de Toscana, Parma e Módena e parte dos territórios papais. O Piemonte dobrou de tamanho, dominou o industrializado Vale do Pó e tornou-se inquestionavelmente o reino mais importante da Itália. Em reciprocidade ao apoio francês, o Piemonte entregou a Napoleão III os condados de Nice e Savoia. Para silenciar a oposição católica contra o domínio piemontês de regiões da Igreja, Cavour fez realizar plebiscitos em muitas áreas e a resposta foi esmagadoramente a favor da unificação liderada pelo Piemonte.


  • O REINO DAS DUAS SICÍLIAS

Garibaldi
No Sul da Itália, a luta foi conduzida por Garibaldi, o mesmo que lutou no Brasil ao lado dos farroupilhas, pela República Rio-Grandense. Com suas “Camisas Vermelhas”os “Mil de Garibaldi”derrotaram a dinastia bourbônica. Mas, desta vez, os republicanos não cometeram os erros de 1830 e 1848. As forças de Garibaldi concordaram em anexar o Reino das Duas Sicílias aos monarquistas de Vitor Emanuel II. Garibaldi retirou-se da vida pública. Estava consumado o sonho de Cavour que, em fução de sua morte, em 1860, não o viu completado.


  • 17 DE MARÇO DE 1861 Vitor Emanuel II, originariamente rei do Piemonte, foi aclamado rei da Itália.

  • 1861 – 1871: A UNIFICAÇÃO SE COMPLETA

A aclamação do rei da Itália ocorreu antes da completa unificação do país. Faltavam ainda regiões importantes, como Roma, ainda sob domínio papal, e Veneza, controlada pelos Habsburgos da Áustria. No caso de Roma, o papa Pio IX recebia apoio militar de Napoleão III da França, desta vez contra Vitor Emanuel II. Mas a conjuntura européia tornou-se favorável à Itália com as guerras de unificação da Alemanha, conduzidas pela Prússia de Bismarck. A Guerra Austro-Prussiana, ou Guerra das Sete Semanas, enfraqueceu a Áustria, derrotada, e permitiu a vitória italiana na anexação de Veneza. A Guerra Franco-Prussiana forçou Napoleão III a retirar suas forças de Roma, deixando o papa à mercê dos unificadores italianos. Em 1870, enquanto a França perdia a guerra para a Prússia, os exércitos italianos tomaram Roma, que passou a ser a capital do Estado Italiano.


  • ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS DA UNIFICAÇÃO

Assinatura do Tratado de Latrão,em 1929
Com a derrota das forças papais, Pio IX passou a tomar uma série de medidas contra o Estado Italiano, como estimular os católicos a não participarem de eleições e não se empregarem em órgãos do Estado. Nascia a Questão Romana, conflito entre a Igreja e o Estado, no qual a Igreja perdeu suas terras e muitos privilégios. Somente em 1929, pelo Tratado de Latrão assinado por Pio XI e o fascista Mussoline, a questão foi solucionada. O Estado Fascista criou o Estado Independente do Vaticano, um enclave dentro de Roma. A religião católica passou a ser oficial e obrigatória na Itália de Mussoline. Outra consequência foi a acelerada industrialização da Itália e sua participação tardia na corrida neocolonialista e imperialista, causa fundamental da Primeira Guerra Mundial.


  • ALGUNS TEXTOS SOBRE A UNIFICAÇÃO

Mazzini defende o direito italiano à unificação política: “Somos um povo de 21 a 22 milhões de homens, designado há muito tempo pelo nome italiano, encerrado entre os limites naturais mais preciosos que Deus já traçou – o mar e as montanhas mais altas da Europa; e um povo que fala a mesma língua (...) que se orgulha do mais glorioso passado político, científico e artístico da história européia (...) Não temos mais bandeira, nem nome político, nem posição entre as nações européias (...) Estamos desmembrados em oito Estados (...) independentes, sem aliança, sem unidade, sem ligação organizada. Não existe liberdade de Imprensa, nem de associação, nem de expressão, nem de petição coletiva, nem de importação de livros estrangeiros, nem de educação, nem de nada. Um desses Estados, cujo território compreende uma quarta parte da península, pertence à Áustria; os outros submetem-se cegamente à sua influência.” (MAZZINI, A Itália, a Áustria e o Papa. 1845. Citado por J. Monnier)


    Garibaldi e seus comandados em direção à Sicília: “...ao primeiro gesto de Garibaldi todos os soldados do exército desertariam para segui-lo (...). Os voluntários, reconhecidos por suas camisas vermelhas, marchavam estrepitosamente pelas ruas de Gênova ao rufar dos tambores (...) Viva a Itália toda em uma (...)! Cada província tinha a honra de enviar seus soldados para juntar-se à expedição libertadora; as velhas disputas provinciais, os amores-próprios provinciais, que outrora fizeram tanto mal à nação italiana, esfumavam-se num único pensamento.” (TAINE, Voyage em Italie. Citado por L. Girard, 1945)

    A Itália e os italianos: “No momento da unificação, em 1860, estimou-se que não mais de 2,5% de seus habitantes falava a língua italiana no dia-a-dia, o resto falava idiomas de tal forma diferentes, que professores enviados pelo Estado italiano para a Sicília (...) foram confundidos com ingleses. Provavelmente uma porcentagem bem maior, mas ainda uma modesta minoria, teria se sentido naquela data como italianos. Não é de se admirar que Massimo d’Azeglio (1792-1886) tivesse exclamado em 1860: “Fizemos a Itátia; agora precisamos fazer os italianos”. (HOBSBAWM, Eric. A Era do Capital -1848-1875)

    Cavour expõe, pouco antes de sua morte, o problema da anexação de Roma: “Roma, só Roma deve ser a capital da Itália. Mas aqui começam as dificuldades do problema (...) Devemos ir a Roma, mas sob duas condições: a ela devemos ir em concordância com a França e sem que a união desta cidade ao resto da Itália possa ser interpretada pelo grande número de católicos da Itália e do estrangeiro como indício de submissão da Igreja”. (Citado por DUROSELLE e GERBET, na Collection Monnier, Fernand Nathan)

    O problema da Igreja versus Estado: “Em várias ocasiões anteriores à anexação de Roma, Pio IX (1846 – 1878) se manifertara contra a unificação italiana, ao perceber que isso implicaria perdas territoriais e diminuição da influência política da Igreja. Em 1864, através da bula Syllabus errorum, o papa condenou todas as teorias que defendiam mudanças sociais – o liberalismo, o sindicalismo, a democracia – e propôs que todos os poderes temporais se submetessem às diretrizes eclesiásticas. Em 1866, promulgou o Non expedit, um documento que proibia os católicos de participarem da vida política e das eleições no novo reino. Como consequência dessas medidas, o Estado separou-se da Igreja e deixou de pagar os salários dos padres; os terrotórios pontifícios restringiam-se ao Vaticano. O taxativo repúdio do Syllabus ao racionalismo liberal provocou deserções, sobretudo de católicos das classes dirigentes e intelectuais, além de provocar rupturas dentro da própria Igreja entre o clero tradicional e o clero liberal.” (PAZZINATO, Alceu e SENISE, Maria HelenaV. História Moderna e Contemporânea. Ática)

    Verdi e a unificação da Itália: “Várias manifestações unificadoras na região dominada pelos austríacos, buscando escapar da violenta repressão dos governantes locais, eram feitas com faixas escritas “Viva VERDI”, levando as autoridades a pensar em manifestação de regozijo italiano em homenagem ao músico Giuseppe Verdi, o autor da ópera Aída. Era justamente o que queriam os manifestantes que pensassem os austríacos. Porém, expressavam, entre os seus, outro significado bem nacionalista, contra a dominação da Áustria, com as letras das palavras “Viva VERDI”: “Viva Victor Emanuel, Rei di Itália!” (VICENTINO, Cláudio. História Geral)



    quarta-feira, 6 de abril de 2011

    UMA CONTRADIÇÃO DO ESTADO MODERNO PORTUGUÊS

    No processo de formação das Monarquias Nacionais europeias, a aliança entre o rei e a burguesia foi fundamental para a centralização do poder político nas mãos do rei na luta contra o localismo político dos senhores feudais. Apoiado financeiramente pela burguesia, o rei formou um exército profissional para derrotar as forças da nobreza, constituídas, em sua maioria, por seus próprios servos que, na hora da luta, largavam a enxada e empunhavam a espada. Ao derrotar a nobreza, o rei não tomava seu feudo, nem seu título de nobreza. Tomava o poder político, impondo a padronização real das leis, dos pesos e medidas, dos tribunais, das leis, das moedas. Porém, mantinha os privilégios de nascimento e atraía a nobreza à sua corte real. Em outras palavras, a vitória político-militar do rei não implicou a destruição da nobreza, mas esta, outrora forte politicamente, tornou-se cortesã, vivendo às custas das benesses do Estado. Como diz Max Weber, “Após ter conseguido retirar da nobreza o poder político que ela detinha enquanto ordem, os soberanos a atraíram para a corte e lhe atribuíram funções políticas e diplomáticas.” (Max Weber, Política como Vocação) A monarquia centralizada, absolutista, equilibrava-se sobre as camadas sociais dialeticamente opostas: à burguesia emergente concedia privilégios econômicos, à nobreza decadente, privilégios de nascimento, jurídicos, diplomáticos e militares. O Estado Moderno, absolutista, deve ser entendido estruturalmente como transitório, entre o Estado feudal, dominado pela nobreza, e o Estado capitalista, dominado pela burguesia. No caso de Portugal, há muitas particularidades. Em primeiro lugar, o feudalismo, se é que houve, foi atípico, pois o monarca Borgonha e, depois, de Avis, era o único suserano, de todos os vassalos, diferente do feudalismo francês e inglês. Em segundo lugar, em função dos ideais da Contrarreforma, a intolerância religiosa atinge não só os protestantes cristãos, mas fundamentalmente os judeus, núcleo do grupo mercantil possuidor da maior parte do capital móvel de Portugal. Com D. Manuel I, consagra-se a expulsão dos judeus, e, com eles, a fuga da riqueza monetária. Aos judeus que não fugiram, restavam duas alternativas não excludentes entre si: ou tornam-se cripto judeus, com cultos hebraicos clandestinos, ou tornam-se cristãos novos, batizados católicos. Aí reside a contradição: no auge da expansão marítima e comercial, Portugal se descapitalizou e começou sua decadência. Daí a importância da associação com a nascente Holanda que, embora protestante, recebeu judeus e, com eles, seu capital móvel. Restava aos reis de Portugal dar privilégios à sua nobreza, titulada ou não. Na colonização do Brasil, como desdobramento da expansão marítima lusa, a maior parte das Capitanias Hereditárias foi entregue à pequena nobreza de Portugal.

    terça-feira, 5 de abril de 2011

    A MINERAÇÃO NO BRASIL COLONIAL










    • O CICLO DO OURO
    A mineração no Brasil colonial se estendeu basicamente de meados do século XVII a meados do século XVIII, sendo Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso os principais centros de extração. Inicialmente, o ouro foi encontrado na forma de aluvião, nos fundos e nas barrancas de rios. No final do século XVII e início do XVIII, foram encontrados os primeiros veios auríferos: Antônio Rodrigues Arzão descobriu as jazidas de Caetés, em 1693, Pascoal Moreira Cabral em Cuiabá, em 1718 e Bartolomeu Bueno da Silva Filho em Goiânia, em 1725. Dois tipos de exploradores se destacam. O pequeno, com pouco investimento inicial e trabalho nômade, usando equipamentos de baixo custo, como a bateia ou a peneira para a catação ou faiscação de pequenas peças. As lavras eram empresas maiores, usando o trabalho escravo em maior escala. Diferente das jazidas da América Espanhola, que exigiam elevados investimentos e técnicas, o ouro brasileiro era, como vimos, de aluvião, resultado de longo processo de erosão natural de primitivas rochas auríferas. Assim, na prática, qualquer pessoa podia se dedicar à atividade, com baixo investimento e grande possibilidade de sucesso.








    • O OURO, A FOME E O MERCADO INTERNO
    Tanto na faiscação como nas lavras, o trabalho era altamente especializado e exigia dedicação exclusiva. Nos engenhos de açúcar, embora o trabalho também seja especializado, havia a produção de alimentos e de outros produtos na mesma fazenda, um latifúndio. O minerador não era, ao mesmo tempo, produtor de alimentos e de quaisquer outros produtos além do ouro. Por isso, a região mineradora tornou-se mercado consumidor de várias mercadorias, dinamizando a economia e integrando várias regiões do país. Pela primeira vez na História do Brasil, constituiu-se um mercado interno, resolvendo ou amenizando graves crises de abastecimento ocorridas entre 1697 e 1701 nas áreas mineradoras. Segundo um estudioso, “em 1698, o governador do Rio de Janeiro informava à Coroa que a carência de mantimentos era tão crítica que muitos mineiros tinham sido obrigados a abandonar suas jazidas de ouro e estavam errando pelas matas com seus escravos em busca de caça, peixes, frutas, a fim de se alimentarem.” (BOXER, C. R. A Idade do Ouro no Brasil). Em poucos anos, a mineração transformou o Centro-Oeste na Meca das atividades coloniais. Para lá fluíram escravos, mantimentos, carne, artesãos, técnicos, aventureiros. Os antigos centros litorâneos (Rio de Janeiro, Olinda, Salvador e outros) passaram a sofrer a escassez de mercadorias, de alimentos e até de trabalhadores, livres ou escravos.





    • O OURO E A EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA
    Uma das maiores consequências da mineração foi o ecelerado crescimento demográfico da população no Brasil, com a chegada de muitos portugueses e muitos escravos. No século XVI, a população mal chegava aos 100.000 habitantes, chegando a 300.000 no século XVII, dos quais 200.000 eram escravos. No século XVIII, com a mineração, atingiu 3.300.000, sendo 1.200.000 escravos. Índios não integrados ao sistema não são contabilizados. Importante acrescentar o porcentual de escravos em relação à população livre: no século XVII, constituíam 63% do total e, no XVIII, apenas 36%. O que ocorreu foi a chegada de um enorme contingente de portugueses. Segundo o historiador Boxer, já citado anteriormente, três a quatro mil saíram anualmente da metrópole em direção ao Brasil, especialmente para a região das minas. Para Portugal, o fenômeno foi tão preocupante que, em 1720, o rei passou a controlar a saída de portugueses. Um observador da época, contemporâneo desses fatos, o jesuíta Antonil, publicou em 1711 um livro fundamental para se entender o período, Cultura e Opulência do Brasil, onde escreveu: “A sede insaciável do ouro estimulou a tantos deixarem suas terras e meterem-se por caminhos tão ásperos como o das minas, que dificultosamente se poderá dar conta do número de pessoas que atualmente lá estão (...). Das cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil, vão brancos, pardos, pretos e muitos índios, de que os paulistas se servem. A mistura é de toda condição de pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, seculares e clérigos, e religiosos de diversos institutos, muitos dos quais não têm no Brasil convento ou casa.”








    • OS CAMINHOS DO OURO
    A longa distância entre o litoral e a região das minas era, penosamente, percorrida por dois caminhos principais, o Caminho Geral do Sertão e o Caminho do Rio São Francisco. O primeiro saía de São Paulo, passava pelo vale do rio Paraíba e chegava ao rio Grande, onde se bifurcava para o rio das Velhas e para o rio Doce. Em 1700 (aproximadamente), surgiu o Caminho Velho, ligando o Caminho Geral do Sertão ao porto de Parati, de onde se chegava ao Rio de Janeiro, por mar. Depois foi aberto o Caminho Novo, ligando por terra o Rio de Janeiro a Pindamonhangaba, de onde se rumava ao Caminho Geral do Sertão. O segundo nascia no porto de Cachoeira, no Recôncavo Baiano, percorria o vale do rio São Francisco até a região mineradora. Acabou sendo o mais importante, devido à maior facilidade de transpor obstáculos naturais. A topografia e a proximidade da água tornou esse caminho o mais usado, pelo homem e pelo gado nordestino, em direção às áreas mineradoras. Em relação ao Sul do Brasil, também abriram-se caminhos, para o transporte de charque, de couro e do gado em pé. Saíam das estâncias sulinas, passavam por Vacarias, chegavam a Sorocaba, de onde seguiam para Minas Gerais, para Goiás e para Mato Grosso.





    • OS DESCAMINHOS DO OURO
    Por mais que a metrópole tentasse controlar a produção e a circulação do ouro, sempre houve muito desvio do metal precioso. Agir dentro da lei dependia muito da honestidade pessoal. Além disso, as poucas casas de fundição eram distantes dos centros produtores e a circulação de moedas era escassa. Assim, mineradores usavam o ouro para a compra de artigos de sua necessidade, frades não pagavam impostos e estimulavam outros habitantes a fazerem o mesmo. São famosos os “Santos do Pau Oco”, uma das muitas maneiras de lesar o fisco. Mercadores, tropeiros e traficantes de escravos recebiam e pagavam em ouro não quintado. Boa parte desse ouro chegava na África, levada por traficantes. Comandantes de navios levavam ouro contrabandeado para Lisboa. Produtos ingleses levavam mais uma parte ilegal do metal para Londres. Em outras palavras, o contrabando de ouro uniu os dois lados do Atlântico, tanto quanto o comércio lícito. Assim escreveu Antonil, em seu livro já citado: “E o pior é que a maior parte do ouro que se tira das minas passa em pó e em moedas para reinos estranhos e a menor é a que fica em Portugal e nas cidades do Brasil, salvo o que se gasta em cordões (...) e outros brincos, dos quais se vêem carregadas as mulatas de mau viver e as negras, muito mais que as senhoras.”





    • O OURO E O EMBRIÃO DA CLASSE MÉDIA
    A economia açucareira não permitiu a formação de uma classe intermediária entre o explorador senhor de engenho e o explorado escravo. Na mineração, caiu brutalmente a porcentagem de escravos; embora seu número absoluto tenha crescido, o número de trabalhadores livres cresceu muito mais. O surgimento do mercado interno, a urbanização do interior e a alta especialização do trabalho minerador forjaram uma nova classe, composta por pessoas que chegaram a atingir 30% da população. Essa classe média, nascida na mineração, passou por crises de retração e de expansão, acompanhando a economia, vindo a se consolidar nos fins do século XIX.





    • O OURO E A ADMINISTRAÇÃO PORTUGUESA
    Para Portugal, administrar significava fiscalizar. A legislação sobre a mineração era minuciosa e opressora. Um órgão foi criado em 1702, a Intendência das Minas, responsável, entre outras coisas, pela distribuição das datas em regiões auríferas. Em 1720, foram criadas as Casas de Fundição, para transformar o ouro em barras e cobrar impostos, principalmente o quinto, numa tentativa de eliminar o contrabando de ouro em pó e em pepitas, proibido de circular. Além do quinto (20%), havia a finta (cobrança fixa em ouro) e a capitação (cobrança por cabeça de escravo). Em 1750, em plena decadência da produção devido ao esgotamento das minas, foi extinta a capitação, mas fixado um tributo mínimo de 100 arrobas anuais por região, ou seja, um imposto de uma tonelada e meia em ouro. Caso tal quantia não fosse atingida, o rei poderia decretas a derrama, cobrança de impostos em atraso, que previa, inclusive, o confisco de bens dos devedores pela Coroa. Por outro lado, o eixo econômico e demográfico se transferia do Nordeste açucareiro decadente para o Centro-Sul em expansão. Soma-se a isso que as hostilidades entre portugueses e espanhóis no Sul do Brasil, envolvendo as disputas pelos Sete Povos das Missões e pela Colônia do Sacramento. Por isso, a capital do Brasil foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763. Naqueles anos, a administração portuguesa tinha D. José I como rei e seu ministro, Pombal. Aplicava-se em Portugal e em suas colônias o racionalismo proposto pelo iluminismo, embora o Estado continuasse a ser absolutista. Era o chamado Despotismo Esclarecido.





    • O OURO E A PRODUÇÃO CULTURAL
    A mineração proporcionou a formação de uma elite branca rica e letrada. Muitos filhos dessas famílias abastadas foram estudar na Europa, principalmente nas universidades de Coimbra e de Montpellier. Assim, estudantes brasileiros ou luso-brasileiros tiveram contato direto com o fervor das idéias iluministas, fundadas na razão, críticas do Antigo Regime. Para a massa negra, escrava ou alforriada, para mulatos e para brancos pobres, poucas alternativas culturais restavam. Podiam frequentar as confrarias ou irmandades, associações voluntárias que assumiram o trabalho social de fundo caritativo, como o hospitalar, o educativo e até o lazer. As confrarias organizavam e custeavam as procissões religiosas, consideradas pelos pesquisadores como o divertimento favorito da população local. Para o estudioso Boxer, em livro já citado, o profano e o sagrado se misturavam nessas manifestações: “alegremente revestidas, ricamente decoradas, com seus mascarados, músicos, dançarinos, serviam às necessidades sociais (...). Oferecem a única oportunidade em que todas as classes se misturam em termos de igualdade aproximativa”. As irmandades tiveram ainda papel relevante nas obras arquitetônicas barrocas, principalmente na construção de igrejas. Nascido na Europa da Contrarreforma, o Barroco associava poder, religião católica e riqueza, o que não faltava no período da mineração. Na arquitetura e na escultura barrocas brasileiras, destacou-se Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Suas obras mais conhecidas estão em Congonhas do Campo e Ouro Preto. Na literatura produzida na época da mineração, salienta-se o Arcadismo, com obras de Cláudio Manuel da Costa e de Thomas Antônio Gonzaga, entre outras.





    • O OURO E A DEPENDÊNCIA PORTUGUESA
    Desde a União Ibérica (1580 a 1640) e das lutas pela Restauração do Trono, Portugal vinha caindo na dependência em relação à Inglaterra (procure a publicação desse assunto neste blog). Em 1703, Portugal e Inglaterra assinaram o Tratado de Methuen, mais conhecido por Tratados dos Panos e Vinhos, que consolidou a dependência lusa. A entrada de manufaturas inglesas a baixos preços e com tarifas aduaneiras também baixas matou as manufaturas portuguesas. Enquanto isso, o enriquecimento de colonos brasileiros, graças à mineração, fez aumentar o consumo de manufaturas e até de produtos de luxo. O desequilíbrio da balança comercial portuguesa era pago com o ouro brasileiro. Enquanto Portugal ancorava-se nos dogmas mercantilistas do capitalismo comercial, a Grã Bretanha acumulava suficiente capital para a passagem da manufatura para a maquinofatura, da oficina doméstica para a fábrica, para o capitalismo industrial.





    • O OURO, REVOLTAS DE ESCRAVOS E QUILOMBOS
    A escravidão em si já é uma violência. Essa não é apenas uma visão nossa, do século XXI. É, acima de tudo, uma visão de quem era, na época, escravizado. A tal violência soma-se a grave fome sofrida por todos os envolvidos no processo do início da mineração, nos finais do século XVII e início do XVIII. Pela lógica do sistema escravocrata, quem mais sofria era, evidentemente, o escravo. Diz a sabedoria popular que “onde há fome, não há lei”. Muitos escravos agiram individualmente contra a situação de penúria e passaram a roubar e a matar por comida. Porém, muitos se rebelaram coletivamente, fugindo e formando inúmeros quilombos, como o do Campo Grande, que chegou a abrigar mais de 15.000 pessoas.





    • O OURO E AS REVOLTAS COLONIAIS
    Em futura publicação trataremos de revoltas ligadas à mineração e ocorridas em Minas Gerais, como a Guerra dos Emboabas (1708/1709), a Revolta de Vila Rica, a de Felipe dos Santos (1720) e a Inconfidência Mineira (1789). Por enquanto, falaremos um pouco da Guerra dos Mascates, ocorrida em Pernambuco, entre 1709 e 1710.





    • O que uma revolta em Pernambuco, entre Olinda e Recife, tem a ver com a mineração, cujos centros produtores estavam, como vimos, em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás?
    O essencial da resposta a esta pergunta encontra-se nesta mesma publicação. Peço que tentem a resposta e mandem pelos comentários. Prometo analisar e dar meu comentário para as respostas enviadas.





    • UMA VISÃO MARXISTA DA MINERAÇÃO
    Segundo Karl Marx, num sistema de produção, o importante não é o que se produz, mas como se produz. No caso do Brasil colonial, as exportações de açúcar totalizaram £300.000.000 (trezentos milhões de libras) e a de ouro apenas £150.000.000 (cento e cinquenta milhões de libras). Se o sistema dependesse apenas do total exportado, o açúcar teria sido muito mais importante nas transformações qualitativas na colônia. Contudo, as transformações proporcionadas pela mineração foram muito mais marcantes, quantitativa e qualitativamente, mudando a economia, a sociedade, a política, a geografia do território brasileiro, a ideologia.