quarta-feira, 1 de agosto de 2012
DELMIRO GOUVEIA
Delmiro Gouveia nasceu no Ceará, em 1863 e morreu assassinado em 1917. Viveu sua juventude e início da vida adulta durante uma grave situação econômica que afetou o Nordeste brasileiro, profundamente afetado pela grande depressão mundial, ocorrida entre 1873 e 1896, durante a qual os mercados mundiais compradores de produtos primários (como o açúcar e o algodão nordestinos) estavam em retração.
À profunda crise mundial, soma-se a política econômica adotada pelo Império, que privilegiava o Sudeste, principalmente o setor exportador de café, principal produto nacional. A Coleção Rebeldes Brasileiros, fascículo 8, publicada pela Caros Amigos reproduz um editorial do Jornal do Recife: "Dia por dia vão se modificando mais profundamente as condições de existência do norte e do sul do Império [por culpa sobretudo da centralização monárquica, que] absorveu todos os recursos e toda a vitalidade das províncias do norte, sem jamais satisfazer o múltiplo e variadíssimo encargo que assumira, [criando] esta situação em que metade do Brasil, do São Francisco ao Amazonas, é um cadáver que se decompõe, atado à outra metade que o espezinha".
Depois de ter amargado períodos de grandes lucros e de crises financeiras, Delmiro Gouveia se instala, em 1903, num distrito de Água Branca, chamado Estação da Pedra, um município que hoje recebe seu nome. Aproveitando o potencial hidrelétrico de Paulo Afonso, instalou uma usina geradora de eletricidade, montou uma fábrica de fios de linhas para a indústria têxtil. "Mas o projeto de Delmiro não era o de uma simples fábrica. Parte fundamental dele era a organização do trabalho de da própria vida dos funcionários, como fator de superação do atraso em que estava mergulhado o sertão. Isso incluía não só a pioneira utilização da energia elétrica e de matérias-primas nacionais para a produção, como também a construção de uma vila operária, núcleo habitacional dotado de saneamento básico, luz e uma elaborada rede de transportes e distribuição. Em 1917, contavam-se ali cerda de 250 casas, chafarizes, lavanderias e banheiros coletivos, loja, padaria, farmácia, feira semanal e escolas (...) Havia médico e dentista, cinema, pista de patinação, banda de música,posto do correio e telégrafo". (Coleção Rebeldes Brasileiros)
A marca Linhas Estrela, de Delmiro Gouveia passou a concorrer com a produção do grupo inglês Machine Cotton (atual Linhas Corrente). Num comportamento típico do capitalismo monopolista e imperialista, o grupo inglês tentou, por várias vezes, comprar as fábricas de Delmiro Gouveia, que sempre se negou a aceitar as propostas.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a oferta das linhas produzidas pelos ingleses foi reduzida e as Linhas Estrela ganharam o mercado brasileiro. A produção passou a ser realizada 24 horas por dia, chegando a 20.000 carretéis/dia. Delmiro Gouveia "instalou depósitos no Rio de Janeiro, Recife, João Pessoa e Fortaleza e, dessa forma, chegou a empregar 3.500 pessoas em diversas áreas. Em 1916, as linhas Estrela abasteciam até mesmo os mercados da Argentina, Chile, Peru e outros países andinos". (Idem)
Porém, em 10 de outubro de 1917, Delmiro Gouveia foi assassinado. Até hoje, agosto de 2012, data da publicação deste texto, não houve conclusão da culpa do crime. A fábrica da Pedra continuou em funcionamento por mais alguns anos, dirigida por sócios de Delmiro Gouveia. Mas a Machine Cotton voltou a a agir no sentido de monopolizar o mercado de fios de linhas: "a Machine Cotton volta a se impor na América do Sul. Por todo o Brasil, os comerciantes são chantageados para não vender as linhas da marca Estrela (...) Além disso, a Machine Cotton adota a prática do dumping: vende suas linhas no Brasil pela metade do preço na Inglaterra, apesar dos gastos com fretes e tarifas. As fábricas menores se rendem e são liquidadas ou o truste as incorpora". (Idem)
Embora o presidente Arthur Bernardes, em 1926, tenha elevado as tarifas alfandegárias sobre as linhas importadas, tentando proteger a indústria nacional, o presidente Washington Luís, em 1929, pressionado por banqueiros ingleses, derruba o protecionismo. Foi o atestado de óbito da marca Linhas Estrela. O grupo inglês comprou a fábrica brasileira e, dias depois, uma equipe de demolidores chega à Estação da Pedra, com a missão de destruir a marretadas todo o maquinário existente. Depois, os homens juntaram todo o ferro imprestável em carros puxados por bois e o levaram para a cachoeira de Paulo Afonso. Jogaram tudo penhasco abaixo". (Idem)
http://www.youtube.com/watch?v=dAfT5pdzSn4&feature=results_main&playnext=1&list=PLD665C5FFDFBB6252
Estive na cidade de Delmiro Gouveia agora em julho, Wagner. é emocionante ler as homenagens a ele ali, na praça da fábrica criada por ele.
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