INTRODUÇÃO: O SURGIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DA IGREJA COMO INSTITUIÇÃO
(Constantino)
Nascido e crescido dentro do Império Romano, o cristianismo
obteve vitórias importantes no século IV, depois de séculos de
perseguição. Em 313, o Imperador Constantino
deu liberdade de culto aos cristãos,
pelo Edito de Milão. Foi ele também quem convocou o Primeiro Concílio de Niceia, em 325, condenando o arianismo, uma
das primeiras e mais importantes heresias cristãs, além de reconhecer que o
bispo de Roma, e não outro, seria o
chefe da Igreja.
(Concílio de Niceia)
No final do século IV, o imperador Teodósio converteu o
cristianismo na religião oficial do
Estado Romano, inclusive proibindo o paganismo e confiscando templos dos
não-cristãos.
Estavam, assim, iniciadas as relações entre a Igreja e o
Estado que se desenvolveriam na Idade Média, às vezes de aproximação, mas
muitas vezes de conflitos entre as partes.
Ao nascer, a Igreja identificou-se com o poder instituído do Baixo
Império Romano adotando para sua organização interna o modelo administrativo e
hierárquico do Estado. A crise estrutural do modo de produção escravista e as
invasões bárbaras, ocorridas do século III ao século IX, redundaram no fim da
unidade do Estado romano no Ocidente, substituída pelo fracionamento de vários
reinos bárbaros. Enquanto a unidade romana desaparecia, a Igreja passou a ser a
única instituição verdadeiramente organizada, centralizada, capaz de oferecer
proteção e socorro às populações indefesas. Foi a Igreja, ainda, quem preservou
grande parte da cultura clássica, greco-romana, da destruição típica de uma
conjuntura belicosa e destruidora.
Foi nesse contexto, no
qual sua capacidade organizacional e unificada superou a capacidade do Estado,
que a Igreja assumiu o caráter católico, ou seja, de universal. Além disso, os membros do clero passaram a ser
a maioria da minoria intelectual, monopolizando o saber elaborado, o ensino, as
atividades culturais, a formulação dos princípios jurídicos, éticos e
comportamentais.
A TEORIA DOS DOIS GLÁDIOS
Em 494, o Papa Gelásio I afirma a supremacia da Igreja sobre
o Estado, com sua Teoria dos Dois Gládios,
depois reforçada pelo Papa Gregório I (590-604) e Gregório VII (1073-1085). Essa
teoria afirma que o Gládio Espiritual governa as almas e o Gládio Temporal
governa os corpos. A primeira trata do espírito, e é superior á segunda, que trata do corpo.
Assim, o Poder Espiritual, da Igreja nucleada no papado, é superior ao Poder
Terreno, dos leigos, dos príncipes, dos reis, dos imperadores.
AS RELAÇÕES ENTRE A IGREJA E OS FRANCOS
Clóvis (481-511), unindo as tribos dos francos, tornou-se
rei e, apoiado pelo Papa, converteu-se ao cristianismo. Estavam iniciadas as
fortes relações entre a Igreja e o Estado Franco.
Depois de Clóvis, os reis merovíngios tornaram-se “reis
indolentes” e o verdadeiro dirigente do Reino foi o major domus (“mordomo”) ou Maire
de Palais (“Prefeito do Palácio”). Um deles foi Carlos Martel (ou Martelo) que,
em 732, derrotou os muçulmanos em Poitiers, impedindo o avanço do Islão na
Gália cristianizada.
(Carlos Martel e a Batalha de Poitiers)
Seu filho, Pepino,
o Breve, reforçou ainda mais a ligação com o papado romano. A Igreja precisava
das forças dos francos contra os lombardos e contra os bizantinos, e Pepino, o
Breve, precisava do apoio papal para legitimar seu golpe contra o último rei
merovíngio. Tornou-se Rei dos Francos, iniciando a Dinastia Carolíngia,
abençoado por Roma. Por seu lado, derrotou os lombardos e doou à Igreja as
terras do Patrimônio de São Pedro. Tomou ainda, dos bizantinos, a região de Ravena, incorporando-a
aos domínios papais. Formaram-se, assim, os Estados
Pontificais, ou Estados da Igreja.
(Carlos Magno: Imperador)
Com Carlos Magno, considerado o maior imperador medieval,
mais uma vez as relações Estado-Igreja beneficiaram os dois lados: Carlos Magno
derrotou definitivamente os lombardos, assegurando e ampliando as terras papais
e o Papa Leão III, no Natal do ano 800 o coroou Imperador Romano do Ocidente, o
que é um paradoxo, pois o imperador era franco, bárbaro, não romano.
A QUERELA (OU QUESTÃO) DAS INVESTIDURAS
Entre os anos de 1075 e 1122, ocorreu um dos mais
importantes choques entre o Estado e a Igreja, conhecido como Querela das
Investiduras. Envolveu, ente outros
fatores, o direito de nomear bispos, ou seja, de praticar a investidura.
Do ponto de vista do imperador de Sacro Império Romano Germânico, era um
direito seu, pois o bispado encontrava-se territorialmente dentro do Império.
Do ponto de vista papal, evocando a Teoria
dos Dois Gládios, era direito da Igreja, do Gládio Espiritual.
(Papa Gregório VII)
O Papa Gregório VII lutou contra os desvios clericais,
contra os desregramentos eclesiásticos, como a simonia, o nicolaísmo e contra a
interferência leiga, temporal, nas decisões da Igreja. Para ele, era preciso
purificar o comportamento clerical e consolidar a supremacia da Igreja sobre o
Estado. Publicou um dos mais importantes
documentos políticos da História da Igreja, o Dictatus Papae, que, entre outras coisas, proibia a investidura
leiga e proibia qualquer autoridade leiga de intervir em eleições e escolhas
eclesiásticas.
O imperador Henrique IV, interessado em manter feudos
eclesiásticos vassalos do Império, recusou-se a acatar as decisões de Roma. Gregório
VII o excomungou, o que significava a
privação dos direitos imperiais e a liberação para a ruptura dos laços de
fidelidade de seus vassalos. Henrique IV
foi obrigado a pedir perdão ao Papa, num
episódio conhecido por Humilhação de
Canossa.
O choque entre a Igreja e o Sacro Império continuou até
a Concordata de Worms (1122), entre o
Papa Calixto II e o imperador Henrique V. Consagrou-se a supremacia da Igreja
sobre o Estado.
(Felipe, o Belo)
Durante o processo de formação da monarquia nacional
francesa, Felipe IV, o Belo (1285-1314), estendeu seu domínio por vastas áreas,
como a da região de Champagne, local de realização das feiras mais importantes
da Baixa Idade Média, que atraía mercadores e mercadorias de três continentes,
Europa, Ásia e África. Tentou, sem
sucesso anexar a rica região de Flandres. No campo jurídico, fundamentou seu governo
no Direito Romano, que pressupunha um
poder centralizado.
Porém, o Papa Bonifácio VIII pretendia manter a supremacia
da Igreja contra a centralização do poder real.
Quando Felipe, o Belo, cobrou impostos sobre o clero, o Papa reagiu da
maneira tradicional, excomungando o rei, na intensão de enfraquecê-lo diante de
seus vassalos. Contudo, a reação da
Monarquia Francesa foi manter os tributos e prender o Papa. O universalismo pontifical foi abalado pelo
crescimento da afirmação do poder monárquico.
Com a morte de Bonifácio VIII, Felipe, o Belo, interferiu e conseguiu a eleição do novo Papa,
o francês Clemente V. Pressionado pelo rei, Clemente V foi obrigado a
transferir a sede do papado de Roma para Avignon, dando início ao Cativeiro de Avignon, que se prolongou
de 1307 a 1377.
(Avignon)
Vários pontífices foram eleitos sob pressão da França e
mantiveram a sede naquela cidade
francesa, até que o Papa Gregório XI reconduziu a sede da Igreja para Roma, em
1377.
Porém, no ano seguinte, Gregório XI morreu e as próximas
eleições papais ocorreram em clima de competição entre as várias forças
europeias, o que levou ao Cisma do
Ocidente, que durou de 1378 a 1417. O novo Papa, Clemente VII, tomou posse
em Avignon, apoiado pela França, Aragão, Castela, Leão, Chipre, Borgonha,
Saboia e Nápolis. Outro Papa foi eleito em Roma, apoiado pela Dinamarca,
Inglaterra, Flandres, Sacro Império, Hungria, Norte da Itália, Irlanda,
Noruega, Polônia e Suécia. Portanto, a cristandade europeia tinha, ao mesmo
tempo, dois Papas, um em Avignon e outro em Roma.
A eleição e o exercício do papado não era
apenas uma questão religiosa, interna da Igreja, mas um jogo político e
diplomático dos poderes laicos.
Mas a situação do Cisma se complicou ainda mais, em 1409,
quando o Concílio de Pisa tentou
anular a força dos dois Papas, escolhendo um terceiro. Agora, a cristandade
tinha três Papas. Acelerava-se a crise institucional da Igreja Católica.
Em 1414, no Concílio
de Constança, a Igreja conseguiu finalmente voltar a se unificar, tendo
apenas um Papa, Martinho V, que assumiu em Roma, em 1417.
Muito bom! Parabéns, professor! Li tudo e fui resolver uma questão da UEM sobre esse assunto e acertei! ;)
ResponderExcluirExcelente!
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