sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O PODER DO LIVRO

     O livro, o teatro, o cinema podem ser libertários. Por isso, o poder se incomoda, treme, fica nervoso e, com alguma frequência, pune.
     Para ser breve, a instituição Igreja Católica usou seu poder para punir na Santa Inquisição. A ditadura de Vargas controlava a opinião pública através do DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda. O macartismo puniu nos Estados Unidos durante a Guerra Fria, enquanto  Stálin punia na URSS. As ditaduras militares burguesas puniam na América Latina.
     A História prova o poder da palavra, do livro. Pode a palavra abalar a  Igreja? Pode a palavra, a poesia, corroer os alicerces do Estado ditatorial? Pode, sim, pois as tão poderosas instituições têm medo do livro. Se não, por que persegui-lo? Por que queimá-lo? Por que invadir os palcos e bater em atores? Por que a tortura, física e psicológica?
     No caso do BRASIL RECENTE, o fim do AI5 e outras reformas retiraram a parte mais visível da ditadura. A ditadura visível foi substituída pela invisível, inteligente, a grande imprensa e os monopolizadores do que ver, do que assistir, do que usar.
     Parte da resistência era feita pelos jornais nanicos, também perseguidos, queimados, empastelados. E, muitas vezes, lá se ia a banca de jornais derrotada pelos incêndios das madrugadas. O poderoso poder tem medo de um nanico.
     E hoje, os poderosos da mídia conservadora e representantes da Casa Grande tremem com os cochichos da senzala. Os nanicos foram substituídos pela internet, e a palavra que liberta está aí, de novo, incomodando os poderosos.
     Há muitos motivos para o mau humor, quando se vive em democracia e a Casa Grande tenta levantar o chicote da censura. Mas também se pode usar o bom humor para, de maneira chapliniana, mostrar o poder de um LIVRO.

http://www.viomundo.com.br/humor/cloaca-news-a-privataria-tucana-o-filme.html

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

OS HOMENS E OS VERMES

“Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens,
e a surda força dos vermes.”

(Cecília Meireles)

Àquele canto da cidade, o posto de saúde não chegou. Tampouco a farmácia. Chegou o cobrador de impostos.
Naquele outro canto, a polícia não entra. Tampouco a escola. Chegou a droga, em pedra, em pó, em ervas.
Em quase todos os cantos, o esgoto não chegou. Tampouco o lixeiro. Chegou o mosquito. E as doenças de pele. E as intestinais.
Na casa legislativa e no palácio executivo, a decência não chegou. Tão pouca honra, tão pouca ética. Chegou o salário dobrado, mais que dobrado. E a justiça foi castrada, paradoxalmente, pela lei,
Cantar o que, pelos cantos da cidade entristecida? Derrotados pelos seus algozes eleitos, eleitores atiram ovos...Haja ovos!
Mas, como nos ensina Cecília Meireles, “pelos caminhos do mundo, nenhum destino se perde: há os grandes sonhos dos homens, e a surda força dos vermes.” Os vermes têm força e são surdos aos sonhos dos homens. Mesmo assim, os homens sonham. Sonham com o médico, com a escola, água tratada, esgoto tratado, pelos quais já pagaram e continuam pagando.
Sem os vermes, os homens teriam um manjar de decência, produzido pelo néctar embriagador da Justiça maior que a lei.
Oxalá esteja chegando a hora em que os pretensos donos de nossos destinos irão para o banco dos réus. Tais vermes acreditam ter as rédeas da História em suas mãos. Acreditam que todos os homens somos vermes, mas não perceberam que estão apenas diante de um espelho. De um pequeno espelho. Porém, “pelos caminhos do mundo, nenhum destino se perde”. E, como diz outro poeta, “não sei qual é a hora, mas sei que há a hora”.
Nesta hora, e neste caso, o sonho dos homens começa com as urnas eleitorais, onde não atiraremos alguns poucos ovos. Milhares de ovos da esperança e da ética serão delicada e firmemente depositados. Aos vermes, vermicida!
A partir desta hora e deste caso, que cresçam os grandes sonhos dos homens, suas utopias, sem as quais não há movimento vital. Como viver sem elas, se as utopias nos alimentam, nos energizam?
Se ainda não agarramos a utopia de um futuro com Justiça, ao menos esfregamos o dedo em sua superfície e o colocamos na boca, como uma criança no bolo de aniversário antes da festa.
Quando a hora chegar, vamos nos lambuzar de novos grandes sonhos, pelos caminhos do mundo.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

FINAL DE ANO ESCOLAR

(Seria cômico, se não fosse trágico)

Nós, Professores, Diretores, Coordenadores, Psicólogos e outros envolvidos no processo de ensino-aprendizagem começamos a viver um momento delicado do ano letivo: seu encerramento. Conosco estão igualmente tensos os Alunos, nosso público-alvo, e seus pais. Estamos todos envolvidos nos Conselhos de Classe, última etapa da Promoção ou da Retenção dos alunos. No burburinho das falas, os limites, os dramas pessoais, uma fusão entre a subjetividade e a objetividade para decisões honestas, coerentes com posições tomadas durante todo o ano, por todos os envolvidos, sejam docentes ou discentes.
Acima de tudo, a decisão tem de ser educativa, jamais punitiva. É mais um exercício de autoridade sem cair no autoritarismo. E ter autoridade é muito diferente de ser autoritário. Ter em mãos a promoção ou a retenção de um aluno não pode ser entendido como Poder. Deve, sim, ser um serviço prestado pelo educador ao educando. Por outro lado, o educador não pode ser pressionado por qualquer forma de autoritarismo da Lei, da Direção, ou dos pais.
Fazer parte de um Conselho de Classe é saber superar a visão individual, muitas vezes individualista, e praticar democraticamente a soberania do ato de educar.


domingo, 4 de dezembro de 2011

SÓCRATES E DEMOCRACIA



A ditadura da morte,
a única que os homens não podemos derrubar,

levou Sócrates Brasileiro, brasileiro do mundo.

A outra ditadura

havia caído aos seus pés.

A da morte, ele não conseguiu driblar.



"Ganhar ou perder, sempre com DEMOCRACIA!"

Sempre, sempre, com democracia.

A democracia do atleta -doutor,

alto de gigantes pés pequenos.



No campo, foi grande entre os grandes,

não boiadeiro da boiada de hoje.

Boiadeiro entre boiadeiros

Cerezo, Falcão, Zico, Rivelino ...



Democrata nas vitórias.

Democrata nas derrotas.

Se a política apropriou-se do esporte,

com Sócrates, o esporte apropriou-se da política.

Democracia corintiana e títulos.



Soube ser ídolo e responsável,

atleta e cidadão num só corpo,

braço ao alto dentro e fora do campo.



Se eu fosse o dono do microfone, diria:

O mundo perdeu.

O mundo perdeu.

Agora, de calcanhar:

o mundo perdeu!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

POBREZA NOS EUA



A crise econômica de 2008, nascida, como a de 1929, nos Estados Unidos da América agravou o processo estrutural de concentração da renda, típica do sistema capitalista. E, a todo processo de concentração corresponde um processo de desconcentração da renda das massas mais pobres, transferida para as elites econômicas.



O paradoxo é estrutural: fazer a economia crescer mesmo fazendo a pobreza também crescer. E qualquer proposta de inverter a concentração, criando processos de distribuição da renda é combatida pelas elites. Atualmente, esse fenômeno é visível na ação reacionária do Partido Republicano, especialmente no grupo do Tea Party.
Segundo dados fornecidos pelo Census Bureau, dos Estados Unidos, a pobreza aumentou substancialmente naquele país. A desnutrição, em vários graus, chegou a 1 para cada 5 habitantes e, considerando-se apenas famílias negras e de origem latina, 1 para cada 3. O número de famílias em situação de desnutrição chegou, no total, a 17 milhões. Pelo critério da ONU, uma família é constituída de 4 pessoas. Multiplicando 17 milhões de famílias por 4, chega-se a um resultado alarmante de mais de 60 milhões de pessoas famintas ou subnutridas, para uma população de pouco mais de 200 milhões da maior potência capitalista mundial.

Leia abaixo os dois textos de outras fontes.

Taxa de pobreza aumenta nos EUA

De acordo com relatório divulgado pelo Census Bureau, no dia 13, o índice de pobreza dos EUA aumentou em 2010. Segundo o instituto de pesquisa, o país teve 46,2 milhões de pobres, o que representa 15,1% da população contra 14,3% em 2009. No ano passado, 2,6 milhões de pessoas passaram a viver abaixo da linha de pobreza, o maior número em 52 anos. O índice de pobreza aumentou entre negros, hispânicos, crianças e mulheres, embora os homens, de modo geral, sejam a categoria mais afetada. A taxa de pobreza entre os latinos subiu de 25,3% em 2009 para 26,6% em 2010; entre os negros, a taxa subiu de 25,8% para 27,4%. Já os números entre a população branca aumentaram em apenas 0,5%, enquanto a taxa manteve-se em 12,1% para os asiáticos. A renda familiar anual também apresentou queda de 2,3%, atigindo US$ 49.445, sendo a primeira vez em que o valor fica abaixo de US$ 50.000 desde 1997. A renda média caiu mais entre as faixas com menores salários. O relatório também indica que as dificuldades econômicas fizeram com que pessoas em situação financeira vulnerável passassem a dividir moradias com amigos e parentes. Na população entre 25 e 34 anos, o número de residências compartilhadas aumentou em 25% desde o começo da recessão em 2007. De acordo com analistas, os índices dos jovens, negros e hispânicos são parcialmente explicados pela baixa demanda por trabalhadores em setores que normalmente empregam essas pessoas, como a atividade de construção civil. Os números refletem que as medidas tomadas para a recuperação da economia ainda não conseguiram evitar a piora na situação dos mais pobres.

LINK DA PÁGINA http://www.opeu.org.br
14 de Setembro de 2011 às 08:11
Agência Brasil – O número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza nos Estados Unidos aumentou para 15,1% da população em 2010, chegando ao recorde de 46,2 milhões de pessoas. Os dados são do censo norte-americano, divulgado hoje (13). É o maior contingente de pessoas abaixo da linha da pobreza dos últimos 52 anos, desde que os dados começaram a ser coletados. Em 2009, 14,3% da população norte-americana vivia abaixo da linha da pobreza.
O índice de aumento no número de pobres foi registrado pelo terceiro ano consecutivo e é o maior desde 1993. Atualmente, um em cada seis americanos vive na pobreza. Os Estados Unidos passam por um dos seus piores momentos econômicos. O governo tenta buscar meios para reduzir os impactos da crise, mas há também dificuldades políticas envolvendo as negociações.
Ontem (12), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu ao Congresso que aprove, o mais rápido o possível, sem postergações ou manobras, o projeto de lei que propõe medidas para a geração de empregos. O pacote prevê a criação de postos de trabalho a partir de cortes de impostos, gastos em projetos sociais e ajuda para governos locais e estaduais.
No último dia 8, Obama anunciou cortes de impostos para pequenos negócios e a classe média e o aumento da tributação sobre as grandes empresas e os mais ricos, como fundamentos da proposta de US$ 447 bilhões destinados a reativar a criação de empregos nos Estados Unidos.
*Com informações da BBC Brasil e da Agência Lusa de notícias

terça-feira, 15 de novembro de 2011

15 DE NOVEMBRO: MUDANÇA OU PERMANÊNCIA?








O 15 DE NOVEMBRO

Em 15 de novembro de 1889, um golpe derrubou o regime monárquico e implantou a República no Brasil. O Império já estava se fragilizando institucionalmente desde sua vitória na Guerra do Paraguai. Vários setores da sociedade, embora não aderissem necessariamente aos ideais republicanos, deixaram de apoiar o Império.
O Império era sustentado por alguns pilares sociais, pela velha elite escravocrata, pela nova elite cafeeira do Oeste Paulista, pela Igreja Católica, pelas Forças Armadas e, é claro, por todos os monarquistas. A partir de 1870, esses pilares começaram a ser abalados, por problemas que, sozinhos, não implicariam a mudança do regime. As relações com o clero foram estremecidas pelas “Questões Religiosas”, quando bispos, contrários à maçonaria, foram condenados pelo Império. O Exército voltou da Guerra do Paraguai fortalecido por seu “espírito de corpo” e, cada vez mais, contagiado pelo positivismo de Augusto Comte. As “Questões Militares” aceleraram o descompasso de interesses entre as Forças Armadas e o governo imperial. No Oeste Paulista, a elite cafeeira, a mais rica do Brasil naquele momento, modernizava as relações de trabalho substituindo, gradualmente, a escravidão pela força de trabalho imigrante. Essa elite desejava passar a ter relações diretas com os mercados internacionais, superar o centralismo imperial pela federação, que lhe daria maior autonomia. Não se tratava de República, mas de instalar a “Federação, com coroa ou sem coroa”. Nos últimos anos da monarquia, a elite escravocrata também retirou se apoio ao Império, ferida pela “Questão Social”, ou seja, pela abolição sem indenização. A abolição da escravatura não provocou crise nacional, pois a porcentagem de escravos era pequena, mas levou muitos fazendeiros da Baixada Fluminense e do Vale do Paraíba à crise, pois perderam sua mão de obra e o capital nela investido. E essa velha elite culpou o Império pelo colapso. A fragilização da monarquia contou até com o abandono de monarquistas, que tinham receio de um possível “Terceiro Reinado”, que teria no trono a herdeira Isabel e seu marido francês, o Conde d'Eu.

Entre todos os setores descontentes, que exigiam reformas institucionais, dois se uniram para o golpe contra a monarquia: as classes médias urbanas, naquele momento representadas pelo Exército, e a elite cafeeira do Oeste Paulista, desejosa da Federação. Foi uma aliança de curta duração, pois, após o golpe, começaram as disputas pelo poder republicano.
O dilema era claro, pois o Estado desejado pelas classes médias urbanas diferia do Estado desejado pelas elites agroexportadoras. As classes médias pretendiam industrializar o país, defendiam proteger o capital nacional e o emprego, ampliando o mercado consumidor interno. Exemplos para isso não faltavam, como no caso dos Estados Unidos da América. Todavia, dependente do setor primário de exportações, ligada ao capitalismo internacional, a elite agrária temia as reações dos compradores externos de seus produtos. Afinal estávamos em plena fase imperialista do capitalismo liberal e as potências industriais não se interessavam pelo surgimento de novos países industrializados. Exemplos para isso também não faltam, como os crescentes conflitos entre Inglaterra e França contra o crescimento industrial da recém nascida Alemanha. Uma política industrial e protecionista no Brasil poderia, segundo nossas elites agroexportadoras, abalar nossas relações com as nações já industriais, especialmente com os “irmãos do Norte”, Grã Bretanha e Estados Unidos da América.

Tais divergências explicam a existência de políticas industrializantes nos cinco primeiros anos da República, com Deodoro da Fonseca e, depois, com Floriano Peixoto. Explicam também as poderosas oposições externas e internas a essas políticas. E a indústria não veio com a República. O café, produto primário, gênero de sobremesa, continuou a ser o rei.

A vitória de Prudente de Moraes representou a vitória do setor cafeeiro, que se prolongou até 1930. Os governos da República das Oligarquias não tinham nenhuma política industrializante, apesar de alguns discursos. E o Brasil continuou na periferia do capitalismo industrial, financeiro e imperialista, como era no Império.

A implantação da República em 1889 significou, assim, uma adequação superestrutural (política, institucional) às mudanças infra-estruturais (econômicas e sociais) ocorridas na segunda metade do século XIX. Não significou uma ruptura com a realidade concreta da sociedade brasileira. Modernizaram-se as relações de mando, sem alteração da base material.
A Constituição de 1824, monárquica, estabelecia quatro poderes, a República derrubou o Moderador; o voto era censitário e passou a ser universal e aberto, as eleições eram indiretas (em dois graus) e passaram a ser diretas; o parlamentarismo (“às avessas”) foi substituído pelo presidencialismo; o centralismo pela federação. Ou seja, as instituições políticas se modernizaram. Mas permaneceu a plantation, agora com trabalho assalariado ou outro correlato, fonte do clientelismo político favorável às elites agrárias. Permaneceu o caráter dependente do setor primário de exportações, mantendo as elites, dominantes internamente, dominadas externamente pela burguesia industrial e imperialista. Permaneceu o processo de socialização das perdas, com a política de proteção ao café, visível no Convênio de Taubaté, de 1906. Permaneceu a política de baixa cambial (desvalorizando a moeda nacional), através da qual os exportadores recebiam mais moeda nacional mesmo quando recebiam menos moedas internacionais.
Permaneceu a distância entre a classe dominante e as massas camponesas, maioria da população. Assim, a permanência infra-estrutural foi maior do que a mudança superestrutural.

domingo, 13 de novembro de 2011

DEMOCRACIA LIBERAL E ESTADO TOTALITÁRIO

DISSENSO E CONSENSO NO PERÍODO ENTREGUERRAS

     Entende-se por Entreguerras o período que se estende do final da Primeira e do início da Segunda Guerra Mundial, ou seja, de 1918 a 1939.
     Do ponto de vista das relações internacionais, uma das mais importantes mudanças foi a Revolução Bolchevique, iniciada ainda durante a Primeira Guerra Mundial, que implantou o socialismo soviético na Rússia e derrotou, com seu Exército Vermelho, os “Russos Brancos” e seus aliados internacionais.
     Outra significativa mudança internacional foi a transferência do eixo econômico e diplomático do capitalismo de Londres para Washington. Os Estados Unidos da América passaram de devedores a credores da Europa e iniciaram seu caminho para a posição de centro dinâmico do capitalismo mundial.
     Se a nascente URSS de Lênin fundamentava suas ações na teoria de Marx e Engels, os Estados Unidos da América assentavam-se no liberalismo clássico de Adam Smith. Enquanto a URSS consolidava o Estado forte e desprezava a economia de mercado, os EUA consolidavam a não intervenção do Estado na economia e a “Lei de Mercado”, a “mão invisível” da economia.
Inspiradas na vitória concreta dos sovietes russos, as esquerdas mundiais se organizavam.
     Não é coincidência a fundação de Partidos Comunistas em muitos países da década de 1920. Por outro lado, a socialização dos meios de produção na Rússia apavorava a alta burguesia e demais classes proprietárias no mundo. Essas classes conservadoras estavam dispostas a apoiarem o anticomunismo, o “perigo vermelho”.   
     Nas décadas de 1920 e 1930, as democracias liberais entraram em colapso, arrastando consigo o poder das oligarquias agrárias da periferia do sistema capitalista. A Crise de 1929 e a Grande Depressão que a ela se seguiu são emblemáticas do colapso. O liberalismo ortodoxo não dava respostas nem à crise capitalista, nem ao avanço das esquerdas progressistas, nem à ascensão das extremas direitas totalitárias. O liberalismo clássico estava superado.
     Uma das saídas para salvar o capitalismo foi a implantação da teoria keynesiana, com intervenção do Estado na economia, criando o “Estado de Bem-Estar Social”. A solução não estava em redução do emprego e dos salários, mas ao contrário: fazer crescer o consumo com mais empregos e mais salários. No caso dos Estados Unidos da América, o New Deal foi exemplar, apesar de muitos empresários estadunidenses, agarrados na ortodoxia liberal, terem visto em Roosevelt um “comunista”, pois, afinal, o Estado foi hipertrofiado e passou a ser também empresário, com as estatais.
     No contexto da crise dos anos 1920 e 1930, ocorreu a implantação do fascismo na Itália (1922), do salazarismo em Portugal (1926), do nazismo na Alemanha (1933), do franquismo falangista na Espanha (1939) e dos regimes autoritários na Ásia, especialmente no Japão, e em vários países da América Latina, como no Brasil do Estado Novo de Vargas. O liberalismo e a democracia, de qualquer naipe, estavam superados.

REGIME DE DISSENSO NA DEMOCRACIA LIBERAL BURGUESA

     Vários são os conceitos de democracia. Um deles é “o governo do povo, para o povo e pelo povo”. Para Norberto Bobbio, em seu texto Qual Socialismo? Debate Sobre Uma Alternativa, “por democracia se entende um conjunto de regras que consentem a mais ampla e segura participação da maior parte dos cidadãos, em forma direta ou indireta, nas decisões que interessam a toda a coletividade.” Para ele, as regras para que se tenha uma democracia são sete, integradas entre si, formando um todo:
1- Todo cidadão, sem qualquer distinção, deve gozar de direitos políticos;
2- Todo voto deve ter peso idêntico, ou seja, um voto vale apenas um e somente um;
3- O cidadão é livre para expressar sua opinião, ser respeitado e deve respeitar a expressão do outro;
4- O cidadão deve ser livre para escolher entre um leque de alternativas políticas;
5- O princípio da maioria numérica deve ser a base do resultado das opiniões, através do voto;
6- A decisão da maioria não pode limitar os direitos das minorias, nem impedir que a minoria possa se tornar, com o tempo, maioria;
7- Se apenas uma das regras anteriores for ignorada, não haverá democracia, aparente ou verdadeira.

     Assim, se todos são iguais perante a lei, a isonomia deve ser o princípio da ação política, sem exclusão de ninguém. Exercitar os direitos políticos implica a livre circulação de ideias e de propostas, sem cercear o direito das divergências, do dissenso. Ou, como afirmou Voltaire, ao ser perguntado sobre o que é democracia, “eu posso não concordar com o que você me diz, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las!”

O REGIME DE CONSENSO

     O regime de consenso é típico do totalitarismo, seja de direita, seja de esquerda. Por definição, não admite o dissenso, ou seja, a divergência, a discordância.
     O dissenso é fundamentado na divergência, tem a alma nos Partidos Políticos representantes das partes, das classes, das frações de classes e sua correspondente ideologia. O oxigênio do dissenso é a admissão de cada Partido representa, portanto, uma parte e jamais o todo, a totalidade, o total social.      Já o regime de consenso é fundamentado no Partido Único, arrogando para si mesmo ser expressão do todo, do total, não admitindo outra organização partidária.

     O consenso político à esquerda foi iniciado na URSS, com a transformação do Partido Bolchevique em Partido Comunista da União Soviética, o PCUS. Eufemisticamente admitido como “centralismo democrático”, o totalitarismo, consenso à esquerda, não admitia outras opiniões que não as suas. A “apropriação da verdade” culminou no período da ditadura stalinista, com a perseguição, prisão, expurgo e até morte de representantes do trotskismo, inclusive do próprio Trotsky.

     O consenso político à direita, no mesmo período histórico, nasceu com o fascismo italiano. O Partido Nacional Fascista se colocava acima dos interesses particulares, pessoais, das classes, unindo todos esses interesses em uma única fé, a fé do Estado e no Estado.
     Assim, desprezava a Razão, desprezava o número, elementos essenciais do dissenso. Segundo Mussolini, “São necessárias três condições para a realização completa, total, integral e revolucionária do Estado Corporativo: um partido único por meio do qual se efetue o controle político e também o controle econômico e que seja, acima dos interesses em competição, um laço que una todos em uma fé comum. E isso não é o bastante. Devemos ter, além do partido único, o Estado totalitário, isto é, o Estado que se absorva em si próprio, para transformá-los e torná-los eficazes, toda a energia, todos os interesses e toda a esperança de um povo. (...) Tudo está no Estado, e nada existe de humano ou de espititual, nem qualquer coisa que tenha valor fora do Estado. Nesse sentido, o fascismo é totalitário e o Estado fascista, síntese e união de todos os valores, interpreta, desenvolve e confere poder a todos os aspectos da vida das pessoas.”

domingo, 16 de outubro de 2011

O NAZISMO E O TRABALHO ESCRAVO





O nazismo, como o fascismo, corresponde a uma etapa imperialista do capitalismo. A ditadura de Estado único, partido único e chefe único, confundia, propositadamente, o Partido com o Estado, impondo o consenso totalitário, ou seja, eliminou o dissenso, a discordância típica de regimes democráticos. Mas foi além do fascismo italiano, ao colocar em prática de Estado o racismo, a teoria de sua pretensa raça pura, a ariana.









O crescimento do Partido ocorreu em uma etapa específica da História da humanidade, o denominado Período Entreguerras. A consolidação da vitória bolchevique na Rússia (a partir de 1922, URSS) assustava a burguesia, temerosa da internacionalização da revolução da esquerda. As democracias liberais estavam em colapso e já não conseguiam resolver os graves problemas trazidos pela crise dos anos 20 e 30. Apavorados com a possibilidade do avanço da esquerda, as classes consevadoras passaram a sustentar o Partido que se colocava declaradamente contra o comunismo. Assim, o Partido Nazista cresceu em número de filiados e em número de cadeiras na Reichstag enquanto crescia o número de desempregados na Alemanha. Uma das respostas dadas pelo Estado Nazista àqueles que o apoiaram foi a transformação dos prisioneiros de várias categorias em mão de obra gratuita para as grandes empresas capitalistas alemãs.







Fernando Morais, em seu livro Olga (Editora Alfa-Ômega, 1985), descreve a relação entre a burguesia industrial e o Estado Nazista: “O trabalho na unidade da Siemens era obrigatório para todas as prisioneiras, independentemente da classificação que tivessem, da idade ou do estado de saúde. Mediante acordo celebrado com o governo, a indústria pagaria ao comando do campo 30 centavos de marco por mulher-dia, sem que isso implicasse qualquer forma de remuneração às prisioneiras. As indústrias que, para preservar sua imagem internacional, preferissem não instalar fábricas dentro dos campos de concentração, não tinham por que se preocupar: a SS se encarregava de transportar os prisioneiros até a sede da empresa. Foi através de contratos como o da Siemens que a fábrica da Bayrischen Motorenwerke, que produzia os veículos BMW, utilizava 220 presos alugados do campo de concentração de Buchenwalt; a indústria de lentes Zeiss-Ikon alugava 900 homens do campo de Flossemburg; a siderúrgica Krupp, 500 presos de Buchenwalt; a indústria de veículos Daimler-Bens, fabricante dos luxuosos automóveis Mercedes-Bens, 110 presos de Sachsenhausen; a Volkswagen, 650 presos do campo de concentração de Neuengamme; havia até uma misteriosa indústria Silva GmbH Poltewerke, que chegou a alugar 2 mil mulheres de Ravensbrück. O campo onde esteve Olga, aliás, foi o que forneceu o maior volume de mão de obra escrava. Ao todo, 37.500 mulheres – judias, comunistas, socialistas, social-democratas, ciganas e Testemunhas de Jeová – saíram de Ravensbrück entre 1938 e 1945 para trabalhar de graça para grandes indústrias alemãs.(...) A maioria das prisioneiras de Ravensbrück, porém, era utilizada como mão de obra na fábrica de equipamentos bélicos montada no campo, que produzia desde relés para componentes de armas, disparadores especiais e dispositivos eletrônicos para submarinos, telefones da campanha e espoletas de disparo retardado para bombas, até componentes para os mortais foguetes V-2, concebidos pelo engenheiro Werner Von Braun.”

domingo, 9 de outubro de 2011

NOVO PARQUE PARA CAMPINAS

Está sendo iniciado um belo movimento em Campinas, pela transformação de uma área, dentro de Barão Geraldo, em um parque para a população. Particularmente, apoio a ideia e a repasso aos meus leitores, sejam eles de Campinas ou não. Maiores detalhes em http://www.parquedebarao.com/


domingo, 2 de outubro de 2011

FASCISMO E NAZISMO



O resumo das aulas de fascismo e nazismo está neste blog, com o título TOTALITARISMO, em HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA.

É, sem dúvida, um assunto complexo. Se houver necessidade de esclarecimentos, é só usar os 'COMENTÁRIOS". Prometo responder com brevidade.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

RESUMO: GUERRA CIVIL ESPANHOLA















GUERRA CIVIL ESPANHOLA

IMPACTOS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

MADRI E BARCELONA - grandes conglomerados urbanos
• A Espanha não participa da guerra
• Surto de crescimento econômico
• Crescimento do proletariado
• Crescimento da burguesia
• Crescimento das classes médias

1917
• Custo de vida sobe 140%
• Salários aumentam 117%
• Lucros das grandes empresas = 400%

ECOS DA REVOLUÇÃO RUSSA
• Espontaneísmo revolucionário no campo
• Levantes das centrais anarquistas e socialistas
• Catalunha e País Basco lutam pela autonomia

ORGANIZAÇÕES DE ESQUERDA
• UGT - Unión General de Trabajadores (socialista)
• CNT - Confederación Nacional del Trabajo (anarco-sindicalista)
• PSOE - Partido Social Obrero Español (comunista-stalinista)
• POUM – Partido Obrero Unificado Marxista (trotskista)

INÍCIO DO SÉCULO XX

“A TRINDADE REACIONÁRIA”: EXÉRCITO, LATIFÚNDIO E IGREJA CATÓLICA

ALGUNS NÚMEROS
• 24 MILHÕES DE HABITANTES
• CAMPONESES: 65 A 70% DO TOTAL
• 8 MILHÕES DE POBRES
• 12 MILHÕES DE ANALFABETOS
• SALÁRIOS RURAIS: ENTRE 0,60 E 3,00 PESETAS POR DIA
• PREÇO DO QUILO DO PÃO: 1,00 PESETA

IGREJA: 80 MIL MEMBROS(CONTROLA 1/3 DA RIQUEZA NACIONAL)
• 11.921 PROPRIEDADES RURAIS
• 7.828 PROPRIEDADES URBANAS
• CONTROLA O BANCO URQUIO, AS MINAS DE COBRE DE RIFT, AS ESTRADAS DE FERRO DO NORTE, OS ELÉTRICOS DE MADRI, A CIA. TRANSMEDITERRÂNEA
• (CARDEAL SEGURA TEM RENDA DE 60 MIL PESETAS ANUAIS)
• CONTROLA, DESDE 1851, O ENSINO OFICIAL
• (ENSINA QUE APOIAR OS LIBERAIS É PECADO)
• (NA GUERRA CIVIL, CERCA DE 8.000 CLÉRIGOS FORAM EXECUTADOS)

EXÉRCITO
• 100.000 HOMENS
• 21.966 OFICIAIS
• 566 GENERAIS
• (AS ALTAS PATENTES ERAM EXCLUSIVAS DA ELITE ECONÔMICA)
• (HAVIA, APROXIMADAMENTE, UM OFICIAL PARA CADA CINCO SOLDADOS)

DITADURA DE PRIMO DE RIVERA
• Apoio de grandes proprietários, burguesia industrial, alto clero e alta cúpula militar
• Consentida pelo rei, em nome da “ordem”
• Fim dos partidos políticos. Unión Patriótica: instrumento de propaganda das classes poderosas (1924)

REAÇÕES À DITADURA
• Estudantes universitários e intelectuais
• 1926: Alianza Republicana (Miguel de Unamuno e outros)
• Greves operárias
• Agitação camponesa
• Crise monetária e fuga do capital estrangeiro

SEGUNDA REPÚBLICA (1931)
12.04.1931 VITÓRIA ELEITORAL REPUBLICANA-SOCIALISTA
• 14.04.1931 o rei renuncia
• 28.07.1931 vitória da esquerda para Assembléia Constituinte

REALIZAÇÕES DA SEGUNDA REPÚBLICA

(Presidente Alcalá Zamorra, Primeiro Ministro Manuel Azaña)
Redução da jornada de trabalho: 8 horas
Cultivo obrigatório de terras ociosas
Prioridade de emprego aos trabalhadores locais
Reforma agrária
Aumento real dos salários de professores
Fomento ao ensino fundamental e combate ao analfabetismo
1933: Igreja proibida de exercer o ensino
Total separação Igreja - Estado
Oficialização do casamento civil e legalização do divórcio (desde 1932)

REAÇÕES À REPÚBLICA
• Igreja:“RELIGIÃO, FAMÍLIA, ORDEM, TRABALHO E PROPRIEDADE”
• Conspirações militares e parlamentares
• Confederación Patronal Agrária

CRESCE A DIREITA

• CEDA: Confederación de Derechas Autónomas
• FALANGE: Partido Fascista Espanhol
• MONARQUISTAS RADICAIS: Renovación Española
• DIREITA VENCE ELEIÇÕES EM 1933

A DIREITA NO PODER 1933 A 1936(Presidente Zamorra e Primeiro Ministro Lerroux)
Acordo com Mussoline
Fortalecimento da Falange: Franco nomeado Chefe do Estado Maior Central
Assassinados líderes operários e camponeses, proibida imprensa socialista, suspensa a reforma agrária, aumento da jornada de trabalho

ZAMORRA DISSOLVE O GABINETE LERROUX
• ELEIÇÕES DE 16.02.1936
• POLARIZAÇAO IDEOLÓGICA E SOCIAL
• VITÓRIA DA ESQUERDA
• MANUEL AZAÑA PRIMEIRO MINISTRO
• PRESSÕES DA DIREITA: fascistas Emílio Mola e Franco conspiram para “restabelecer a ordem no interior e o prestígio da Espanha no exterior”
• PRESSÕES DA ESQUERDA: anarco-sindicalistas fomentam greves no campo e nas cidades
• Zamorra destituído em abril de1936
• Azaña, eleito presidente, assume em maio

ECLODE O CONFLITO
(Santiago Quiroga:1º Ministro)
• O governo aprova medidas consideradas como “sovietização” pela direita
• Generais Mola, Sanjurjo e Franco articulam a luta armada contra o governo republicano
18 de julho de 1936: começa a guerra, que se estenderá até 1939

1936: CONJUNTURA EUROPÉIA
• Esquerda Republicana no governo espanhol
• Léon Blum, da Frente Popular (de esquerda) governa a França
• Stalinismo na URSS (de 1924 a 1953)
• A Itália invade a Etiópia
• O III Reich remilitariza a Renânia
• Fascismo em Portugal
• Democracias Liberais em crise (desde 1929)
Cresce a violência da direita e da esquerda

GUERNICA
No dia 26 de abril de 1937, o povoado de Guernica, de 6 mil habitantes, era bombardeado pelos aviões da Legião Condor alemã, em apoio às forças nacionalistas do general Francisco Franco. O bombardeio, ao cair da tarde, num dia de mercado, provocou incêndios que destruíram três quartos da cidade e deixou centenas de mortos. Foi assim que Guernica, base histórica do nacionalismo basco que queria derrubar Franco, se converteu na primeira cidade da História destruída por um ataque aéreo dirigido contra alvos civis.

BRIGADAS INTERNACIONAIS (OS “SOLDADOS DA LIBERDADE”)
• Intelectuais, operários, trabalhadores, artistas, escritores e jovens de todo o mundo (de 54 países)
• Pouca ou nenhuma experiência militar
• Nunca houve,ao mesmo tempo, mais de 15.000 combatentes, num total de 35.000
Cerca de 10.000 morreram em combate

APOIO BÉLICO (até agosto de 1936)
• Italiano: 27 aviões caças, 5 tanques, 12 canhões antiaéreos, 40 metralhadoras
• Alemão: 26 aviões bombardeiros, 15 aviões caças, 20 canhões antiaéreos, 50 metralhadoras, 8.000 fuzis
• Francês: 35 aviões caças, 25 aviões bombardeiros

COMITÊ DE NÃO-INTERVENÇÃO
• Começou a funcionar em setembro de 1936
• Representantes: 27 países
• Lideranças de Portugal e França (fronteiras com a Espanha) além da Inglaterra, Alemanha, Itália, Bélgica, Suécia, Tchecoslováquia e URSS (grandes exportadores de armamento)
Nunca foi plenamente isento de interesses

“NO PASSARÁN”
“É MELHOR MORRER EM PÉ DO QUE VIVER DE JOELOS” (Dolores Ibarruri, “La Pasionária”)
Ofensiva fascista contra Madri, iniciada em 7 de setembro de 1936: tanques, aviões e 20.000 soldados profissionais.
RESISTÊNCIA REPUBLICANA
(até 28 de março de 1939) povo espanhol e Brigadas Internacionais

1938
• Mussoline ordena o ataque aéreo a Barcelona
• Cai Léon Blum, da França
• Deladier retira apoio aos Republicanos e, em julho, bloqueia os depósitos em ouro do Banco da Espanha na França

CONFERÊNCIA DE MUNIQUE (29/9/1938)
(Hitler, Mussoline, Camberlain e Deladier)
ENTREGOU OS SUDETOS TCHECOS AO III REICH,
O QUE SIGNIFICOU ENTREGAR TODA A TCHECOSLOVÁQUIA

A ESPANHA JÁ NÃO ERA MAIS A MAIOR PREOCUPAÇÃO NO CENÁRIO MUNDIAL

A FALTA DE UNIDADE REPUBLICANA
Anarquistas e trotskistas: (“armas para el pueblo” ) queriam uma revolução social e a tomada do poder pelo proletariado pelo fim da propriedade privada
Comunistas stalinistas: queriam a união das forças combatentes contra o avanço fascista e aproximando-se das potências democratas-liberais européias contra a Alemanha e a Itália

GUERRAS DENTRO DA GUERRA
• Guerra dos autonomistas: catalães e bascos
• Guerra entre esquerdas: anarquistas e trotskistas contra stalinistas
• Guerra social: entre operários e camponeses contra a burguesia e oligarquias
• Guerra dos internacionalistas e democratas contra o nazi-fascismo

VITÓRIA FASCISTA NA ESPANHA
• Durante a Guerra Civil Espanhola, formou-se o EIXO ROMA-BERLIN
• Mussoline, Hitler e Hiroito assinam o PACTO ANTIKOMINTERN
• Nacionalistas de Franco implantam a ditadura fascista (de 1939 a 1975)
Cerca de 500.000 mortos, dos quais mais de 30.000 após o fim da guerra, nos cárceres fascistas espanhóis e alemães

FRAGMENTO DE POESIA
Espanha no coração
No coração de Neruda
No vosso e no meu coração
Espanha da Liberdade,
Não a Espanha da opressão.
Espanha Republicana:
A Espanha de Franco não.
Velha Espanha de Pelayo,
Do Cid, do Grã Capitão.
Espanha de honra e verdade,
Não a Espanha da traição!
Espanha da Liberdade;
A Espanha de Franco não!
Espanha Republicana,
Noiva da Revolução.
Espanha atual de Picasso,
De Casals, de Lorca, irmão
Assassinado em Granada!
Espanha no coração
De Pablo Neruda, Espanha
No vosso e em meu coração!
Espanha da Liberdade:
A Espanha de Franco, não.
(MANUEL BANDEIRA)

“Em sua política de tentar conter o imperialismo da Alemanha e da Itália, as democracias européias optaram por sacrificar primeiro a República espanhola e, posteriormente, a Tchecoslováquia. O tiro saiu pela culatra. Pouco depois, tiveram de enfrentar com armas o mesmo perigo que parte da Espanha e o movimento antifascista internacional tentou combater durante quase três longos anos.”
(BEIGUELMAN-MESSINA, Gisele. A Guerra Civil Espanhola.Scipione, 1994)

RESUMO: CRISE DE 1929 E GRANDE DEPRESSÃO









A CRISE DE 1929

A DÉCADA DA PROSPERIDADE (1919 A 1929)
• Os EUA passaram de devedores a credores da Europa: efeitos da Primeira Guerra Mundial
• A Europa, destruída, importava dos EUA, capital, bens de capital, bens de consumo
• Euforia de crescimento norte-americano e interdependência das economias
• Empresários agrícolas elevaram a produção e seus investimentos para atenderem à crescente demanda interna e à europeia
• Especulação criava fortunas da noite para o dia no mercado financeiro e a aplicação em ações superou a aplicação no setor produtivo: entre 1925 e 1929, o mercado de ações recebeu o dobro de investimentos das aplicações no setor industrial
• A PARTIR DE 1924, A EUROPA, RECONSTRUÍDA, DIMINUIU SUAS IMPORTAÇÕES E ADOTOU O PROTECIONISMO
• COMEÇARAM OS ESTOQUES INVENDÁVEIS, FRUTOS DA SUPERPRODUÇÃO
• O MERCADO INTERNO, MESMO ESTIMULADO PELO “AMERICAN WAY OF LIFE”, NÃO CONSEGUIU EQUILIBRAR A RELAÇÃO ENTRE OFERTA E PROCURA

LIBERALISMO ECONÔMICO

• O PRESIDENTE HOOVER, DO PARTIDO REPUBLICANO, BASEADO NO LIBERALISMO CLÁSSICO, NÃO INTERVÉM NA ECONOMIA, ACREDITANDO QUE APENAS A “MÃO INVISÍVEL” DO MERCADO RESOLVERIA A CRISE DE SUPERPRODUÇÃO
• PARA REDUZIR OS ESTOQUES INVENDÁVEIS, EMPRESAS DEMITIRAM TRABALHADORES LEVANDO AO CRESCIMENTO DO SUBCONSUMO
• Entre 1923 e 1929, os salários subiram 8% e os preços de produtos industrializados 72%

“A QUINTA-FEIRA NEGRA” 24/10/1929

• 16 milhões de títulos foram colocados à venda sem que aparecessem compradores
Os preços dos títulos desabaram
• (Exemplos: as ações da US Steel caíram de 250 para 22 pontos, as da Chrysler de 135 para 5)

A GRANDE DEPRESSÃO

• NASCEU NOS EUA E TORNOU-SE MUNDIAL
• FALÊNCIAS, DESEMPREGO, MISÉRIA, BANDITISMO …

O COLAPSO NOS EUA

• 4 MIL BANCOS FALIRAM
• 85 MIL EMPRESAS PRODUTIVAS FALIRAM
• PRODUÇÃO CAI 50%
• SALÁRIOS CAEM 20%
• 14 MILHÕES DE DESEMPREGADOS
• PREÇOS DE PRODUTOS AGRÍCOLAS DESPENCAM: AGRICULTORES PERDEM SUAS TERRAS (HIPOTECADAS AOS BANCOS)

O COLAPSO NA EUROPA

• EUA repatriam seu capital emprestado anteriormente (só em 1928/29, 7,5 bilhões de dólares tinham sido emprestados a vários países)
• Importações caem em média 32% em vários países
• Exportações para os EUA caem de 4,5 bilhões de dólares (1929) para 1,3 bilhão (1933)
• Falência do Banco Kredtanstalt (Áustria), Banco Rotschild (França), bancos Danatbank e Dresdner (Alemanha)
• Produção alemã cai 39%
• Comércio internacional cai 25%
• Exportação inglesa cai 70%
• Desemprego mundial chega a 30 milhões

O COLAPSO EM OUTRAS REGIÕES

• Crise nas exportações mundiais de matérias-primas e de alimentos para os centros industrializados
• No Brasil, os estoques de café subiram de 7,3 milhões de sacas (1927) para 27,5 milhões (1930). O preço do café caiu mais de 30%. O crédito externo foi suspenso e os empréstimos anteriores deveriam ser liquidados. Nas vésperas da quebra de 1929, o café representava 72,5% das exportações brasileiras

O NEW DEAL (“NOVO AJUSTE”)

• Presidente Roosevelt, baseado em Keynes:
• “A ÚNICA COISA A TEMER É O PRÓPRIO MEDO” (Discurso de posse de Roosevelt)

• Amplo apoio aos desempregados
• Grandes obras públicas
• Reforma no setor agrícola
• Protecionismo alfandegário
• Intervenção do Estado na economia

TEORIA KEYNESIANA (NEOCAPITALISMO)

• INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA
• PLANEJAMENTO ESTATAL
• EMPRESAS ESTATAIS
• ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL
• NACIONALISMO ECONÔMICO
• HIPERTROFIA DO PODER EXECUTIVO

CHILE, 11 DE SETEMBRO DE1973











Em 11 de setembro de 1973, foi encerrada a experiência do único governo socialista eleito democraticamente na América Latina. Caiu Salvador Allende, Presidente do Chile, num golpe de Estado que desembocou na ditadura militar liderada por Augusto Pinochet.

No livro História das Sociedades Americanas, de Rubin Aquino e outros, encontramos: “Pode-se dizer que o Dia da Traição – como ficou conhecido o 11 de setembro – amanhecera muito antes: nasceu nas mansões da burguesia, dispostas a destruir a institucionalidade democrática, para não perder seus privilégios; nasceu nos escritórios das grandes empresas norte-americanas e da CIA (...); nasceu nos quartéis e nos cassinos oficiais (...); nasceu nas redações dos jornais de direita (...); nasceu nos corredores do Congresso (...); nasceu nas reuniões secretas da Opus Dei, da Pátria e Liberdade, e de outras organizações de caráter fascista.”

Clóvis Rossi, em seu livro A Contrarrevolução na América Latina, diz: “O governo norte-americano da época, chefiado por Richard Nixon, participou ativamente dessa conspiração (...). O governo [do Chile] foi vítima de uma grande desestabilização muito bem conduzida, inclusive com o apoio de oito milhões de dólares enviados pelos Estados Unidos (...).”

CONTEXTO INTERNACIONAL: GUERRA FRIA
Até o final na Segunda Guerra Mundial, a União Soviética era o único país socialista. A partir daí, o socialismo avançou muito, chegando, por exemplo, à Polônia, Estônia, Lituânia, Letônia, Iugoslávia, Checoslováquia, Hungria, Romênia, Bulgária, China, Vietnã do Norte, Coréia do Norte.
Contra essa expansão socialista, os Estados Unidos lançaram a Doutrina Truman, em 1947, e passaram a combater de todas as formas as lutas progressistas e antiimperialistas em todos os continentes. No caso da América Latina, “(...) o imperialismo dos EUA esforçava-se para deter com quaisquer meios a ascensão do movimento democrático antiimperialista no continente e com esse objetivo tomou uma série de medidas militares e políticas. Assim, em 1947, no Rio de Janeiro, foi assinado o Pacto de Defesa do Hemisfério (Tratado Interamericano de Assistência Recíproca – TIAR); preparava-se a reorganização da União Pan-Americana; em 1948 foi criada a Organização dos Estados Americanos (OEA), destinada a ser durante muitos anos um dos meios políticos da ingerência dos EUA nos assuntos internos dos Estados latino-americanos. Os EUA organizaram, com esse objetivo, golpes reacionários em uma série de países da América Latina: Bolívia (1946), Venezuela (1948), Equador (1946), Nicarágua (1947), Costa Rica (1948), El Salvador (1948), Peru (1948), Colômbia (1949) e Cuba (1952). Sob a pressão dos EUA, começou a ser proibida a atividade dos Partidos Comunistas e organizações sindicais progressistas.” (KUDATCHKINE, M. Chile: Experiências de Luta Pela Unidade das Forças de Esquerda e Por Transformações Revolucionárias)

OS ANOS DE 1940 E 1950 NO CHILE
Em 1948, o governo conservador do Chile publicou a “Lei da Defesa da Democracia”, que passou a ser conhecida popularmente como a “Lei Maldita”, contra o crescimento do movimento operário. Milhares de chilenos foram violentamente perseguidos, mortos ou presos em verdadeiros campos de concentração. Pablo Neruda demonstrou a indignação do povo: “Eu acuso o presidente Gonzáles Videla de empenhar-se em uma guerra inútil e estéril contra o povo e o pensamento popular do Chile, e de querer dividir artificialmente os chilenos.”
Em 1953, reagindo ao refluxo forçado do movimento sindical, nasceu a CUT (Central Única de Trabalhadores do Chile). Várias forças democráticas e populares se juntaram: católicos, comunistas, socialistas, radicais e independentes. A “Declaração de Princípios do II Congresso da CUT” dizia: “Os trabalhadores do Chile, independentemente de ideologias, credos religiosos, sexo e nacionalidade, consideram a Central Única de Trabalhadores o mais eficiente instrumento na luta pelos direitos sociais e pela unidade monolítica. A Central Única de Trabalhadores é um importante meio de luta contra a grande burguesia, a oligarquia antinacional e o imperialismo, contra as repressões e a miséria.”
Em 1956, as forças populares evoluíram com a formação da FRAP – Frente de Ação Popular, da qual faziam parte trabalhadores, setores das classes médias intelectuais e estudantes. O imperialismo norte-americano e a crise econômica serviram de argamassa dessa união que provocou um avanço qualitativo no processo de organização popular e democrático.
Em 1958, Jorge Alessandri venceu as eleições contra o candidato socialista Salvador Allende. Era a reação das oligarquias e do imperialismo ao crescimento do movimento popular. As forças reacionárias e conservadoras aglutinavam-se no PDC – Partido Democrático Cristão.

ECOS DA REVOLUÇÃO CUBANA
Em janeiro de 1959, a Revolução Cubana, partindo de Sierra Maestra, chegava em Havana, enquanto o ditador Fulgêncio Batista abandonava Cuba. Os guerrilheiros, força avançada das massas populares, chegaram ao poder.
No início dos anos 60, o povo e o governo revolucionário derrotaram, na Baía dos Porcos, as forças invasoras reacionárias patrocinadas pela CIA e pelo governo norte-americano. Derrotadas nas armas, as forças da reação expulsaram Cuba da OEA e iniciaram o bloqueio econômico após a chamada “Crise dos Mísseis”.
Para muitos analistas, os EUA entregaram Cuba em uma bandeja para a URSS: isolada pelo bloco capitalista da Guerra Fria, Cuba declara o caráter socialista de sua revolução.
No cenário da bipolarização mundial, o socialismo chegava à América Latina, vitorioso e a poucas milhas do líder do bloco capitalista. E servia de espelho, de fonte de inspiração, para progressistas não só do Chile, mas de toda a América Latina e do mundo dominado pelo imperialismo.
Contudo, os ecos de Sierra Maestra também despertaram uma atitude contrarrevolucionária do imperialismo. Nos Estados Unidos, nascia a Aliança Para o Progresso, uma tentativa de impedir que outras Cubas surgissem, ou, no dizer da época, impedir que “novas ilhas de insanidade” despontassem.

OS ANOS DE 1960 NO CHILE
No Chile, a crise típica de uma economia satelitizada tornava-se aguda: inflação, desemprego, redução da produção agrícola, dívida externa, domínio externo da produção de cobre, do salitre, do ferro, da eletricidade, do petróleo, da indústria química. No campo, 0,7% dos proprietários possuíam 61,6% das terras cultiváveis. Tal quadro era o terreno fértil para crescerem as críticas nacionalistas, progressistas e socialistas.
O pulsar silencioso da revolução levou as classes conservadoras a adotarem o discurso da mudança. Ou seja, como em muitas oportunidades, o conservadorismo adotou o discurso da “revolução” para realizar reformas que nada mudavam a essência estrutural. O PDC lançou o programa conhecido por “Revolução em Liberdade”, que tinha de tudo, menos revolução. Apoiado na alta burguesia, no imperialismo ianque, em vários setores da classe média e na Igreja Católica, o PDC venceu as eleições de 1964, levando Eduardo Frei à Presidência da República.
Rubin Aquino, em seu livro citado nos ensina: “A política desenvolvimentista do governo Frei, no entanto, resultou em uma efetiva adequação do país à penetração do capital estrangeiro, especialmente o norte-americano.” A respeito desse governo, uma revista norte-americana de negócios, a Hanson’s American Letters, assim se pronunciou: “Nenhum governo de extrema direita tratou com mais generosidade com que o fez Frei às empresas norte-americanas.”
As tensões sociais desembocaram em muitas greves, entre 1967 e 1969. A repressão foi violenta, e, como escreveu E. Gonzáles em La Tragédia Chilena, “a Revolução sem sangue que prometeu Frei se transformou ao final em sangue sem Revolução.”
Diante da violência do governo, o movimento popular entrou numa fase ofensiva, apoiado nas massas, na pequena burguesia nacional, na intelectualidade e nos estudantes. Desta forma, estruturou-se a UP – Unidade Popular, que venceu as eleições de 1970, com Salvador Allende.

O GOVERNO DA UNIDADE POPULAR
Já eleito, Salvador Allende discursou em 5 de setembro de 1970: “Foram o homem e a mulher anônimos do Chile que tornaram possível este fato socialmente transcendente. Milhares de chilenos semearam com sua dor e sua esperança esta hora que pertence ao povo. E em outras fronteiras e outros países, a vitória alcançada é vista com profunda satisfação. O Chile apresenta uma alternativa para outros povos da América e do mundo. A força vital da unidade romperá os diques das ditaduras e abrirá caminho para que os povos possam ser livres e construir o seu próprio destino. (...) se a vitória não foi fácil, difícil será a consolidação do nosso triunfo e a construção da nova sociedade, da nova convivência social, da nova moral e da nova pátria.”
O nacionalismo e o estatismo marcaram, desde o início, o governo de Allende. Nacionalizou a mineração e o beneficiamento do cobre, então responsável por 80% da renda em moedas estrangeiras. Estatizou quase todo sistema bancário, as indústrias têxteis, siderúrgicas, as comunicações. A reforma agrária revolucionou o campo, estabelecendo em 80 hectares o limite máximo da propriedade das terras agricultáveis.
Ainda no primeiro ano do governo da Unidade Popular, o desemprego caiu para menos da metade, cresceu a produção de alimentos e de outros produtos, aumentou o poder aquisitivo dos trabalhadores e o analfabetismo foi reduzido.
Tais resultados favoreceram a vitória das forças democráticas e progressistas nas eleições municipais e na reforma constitucional de 1971, que estatizou todas as riquezas do subsolo chileno.
Todavia, diante do avanço das forças populares, articularam-se as forças de reação, com as oligarquias rurais, as elites financeiras e industriais, todas ligadas, em maior ou menor grau, ao imperialismo norte-americano. O governo Nixon, a CIA (Central de Inteligência Americana) e muitas empresas norte-americanas envolveram-se diretamente nos planos de desestabilização do governo popular de Allende, aliás, desde antes de sua posse. “O grau de decisão visando a provocar a queda do governo arrastou a classe dominante chilena até medidas de extrema criminalidade: trezentas mil cabeças de gado foram contrabandeadas para a Argentina; promoveu-se a matança indiscriminada de reses destinadas à reprodução; milhares de hectares de terra ficaram sem semear (...) dez milhões de litros de leite foram atirados aos rios e nas estradas (...) A dimensão do ódio era tamanha que se preferia o dilúvio a Allende.”(ALTAMIRANDO, C. Dialética de Uma Derrota). Segundo um jornalista norte-americano, em depoimento posteriormente confirmado por um diretor da CIA, “Lançar o Chile em um verdadeiro caos econômico era a palavra de ordem da burguesia e do imperialismo.” (Citado por Rubin Aquino, em seu livro História das Sociedades Americanas).
A proposta da UP de chegar ao socialismo sem luta armada foi interrompida pela organização de grupos fascistas violentos, armados e financiados pelos dólares norte-americanos. Enquanto isso, mais uma vez, as urnas deram a vitória às forças populares em novembro de 1972, reforçando suas posições no Congresso.
Porém, a partir de 1973, as Forças Armadas passaram a deixar claro seu papel golpista, a fim de derrubarem o governo pelas armas, já que não conseguiam pelo voto. Vários atentados terroristas e de sabotagem se somaram ao bloqueio econômico norte-americano e às paralisações do sistema de transportes.
A crise se aprofunda com a divisão interna das forças da UP. A esquerda radical pretendia a tomada do poder político através das armas para acelerar o processo de chegada ao socialismo. Mas o governo Allende não aceitava a hipótese de ruptura institucional: “Companheiros trabalhadores: temos que nos organizar. Criar e criar o Poder Popular, porém não antagônico nem independente do governo, que é a força fundamental e a alavanca que têm os trabalhadores para avançar no processo revolucionário.” (Salvador Allende, informe ao povo sobre um frustrado golpe de militares em junho de 1973, em Chile: História de una Ilusión). Ainda sobre a divisão interna das forças da Unidade Popular, Allende fala aos dirigentes dos partidos de esquerda, em julho de 1972: “Cada partido deve se preocupar em elevar o nível ideológico de seus militantes, de sua disciplina, e impulsionar a estratégia comum da Unidade Popular, base do governo dos trabalhadores. Há apenas um só governo, este a que eu presido, e que não somente é o único legitimamente constituído, mas, por sua definição, e conteúdo de classe, um governo que serve aos legítimos interesses dos trabalhadores. E com a mais profunda consciência revolucionária, eu não permitirei que nada nem ninguém atente à plenitude do governo legítimo do país.”

Entretanto, a via pacífica, institucional, se esgotou. A fragilidade da UP se revela no fato de que, embora o Poder Executivo estivesse em suas mãos, nucleadas em Allende, o Legislativo e o Judiciário não estavam. E o movimento popular, democrático e pacífico pagou um preço alto ao acreditar na tradição de que os quartéis são apolíticos e fiéis ao seu papel institucional de defesa da Constituição e da legalidade: “enquanto a classe operária ganhava votos, o sistema ganhava fuzis”, nos dizeres de Altamirando, em obra citada.

11 DE SETEMBRO DE 1973: CONSUMADA A TRAGÉDIA
Na madrugada de 11 de setembro de 1973, partindo de Valparaíso, uma ação conjunta das três forças armadas iniciou o cerco a Santiago, especialmente ao Palácio de La Moneda. O Presidente Allende defendeu seu governo, desta vez, e pela primeira vez, de armas na mão. Morreu durante o combate. Em sua última mensagem ao povo, declarou: “Os generais traidores não sabem o que é um homem honrado. Assim se escreve a primeira página desta história. Meu povo e a América escreverão o resto!”

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

11 DE SETEMBRO



Em 11 de setembro de 1973, em plena Guerra Fria, um golpe militar apoiado abertamente pelos Estados Unidos da América, derrubou o Presidente Salvador Allende do Chile. Instalou-se uma ditadura militar burguesa, liderada pelo General Augusto Pinochet.


Neste blog, há um texto sobre a História recente do Chile, para aprofundar as análises desse golpe que colocou fim à única experiência de um governo popular e socialista eleito democraticamente. Publico um vídeo narrado por alguém que passou pelo golpe e faz comparações humanistas com o 11 de setembro dos EUA.





http://www.youtube.com/watch?v=7vrSq4cievs

domingo, 11 de setembro de 2011

TEXTOS: REVOLUÇÃO FRANCESA















“Desde a abertura dos Estados Gerais em 1789, a roupa possui um significado político. Michelet descreveu a diferença entre a sociedade dos deputados do terceiro Estado, à frente da procissão de abertura, como uma massa de homens vestidos de negro com trajes modestos e o grupo refulgente dos deputados da nobreza com seus chapéus de plumas, suas rendas, seus paramentos de ouro. Segundo o inglês John Moore, uma grande simplicidade, e na verdade a avareza no vestuário era considerada prova de patriotismo." ( Michelle Perrot)

Num panfleto publicado em 1789, um dos líderes da Revolução Francesa afirmava:
“Devemos formular três perguntas:
- O que é o Terceiro Estado? Tudo.
- O que tem ele sido em nosso sistema político? Nada.
- O que pede ele? Ser alguma coisa.”
(citado por Leo Huberman, História da Riqueza do Homem, 1979)

"Quem, portanto, ousaria dizer que o Terceiro Estado não tem em si tudo o que é necessário para formar uma nação completa? Ele é o homem forte e robusto que tem um dos braços ainda acorrentado. Se suprimíssemos a ordem privilegiada, a nação não seria algo de menos e sim alguma coisa mais. Assim, o que é o Terceiro Estado? Tudo, mas um tudo livre e florescente. Nada pode caminhar sem ele, tudo iria infinitamente melhor sem os outros."
(E. J. Sieyes. "Qu'est-ce que le Triers Êtat.")

"Prossigo: mil vozes servem de arauto para a novidade... 'A Bastilha foi tomada' .... Não acreditei e fui ver o cerco de perto .... No meio da 'Greve' encontro um corpo sem cabeça estendido no meio do riacho, rodeado por cinco ou seis indiferentes. Faço perguntas ... É o governador da Bastilha."
(Restil de la Bretonne, "As Noites Revolucionárias", São Paulo: Estação Liberdade,1989, p. 58).

Em 6 de agosto de 1789, o deputado Buzot, como solução para a crise financeira do Estado, na tribuna da Constituinte: "Eu sustento que os bens eclesiásticos pertencem à Nação"(Citado por Pierre de La Gorce)


CONSTITUIÇAO CIVIL DO CLERO
4. É proibido a toda igreja ou paróquia e a todo cidadão francês reconhecer em caso algum, sob qualquer pretexto que seja, a autoridade de um bispo ordinário ou metropolitano cuja sede esteja estabelecida sob a denominação de uma potencia estrangeira, nem de seus representantes residentes na França ou em outro lugar: tudo sem prejuízo para a unidade da fé e de comunhão que será mantida com a chefia manifesta da Igreja universal, do modo como será dito em seguida.

20. Todos os títulos e serviços outros que aqueles mencionados na presente constituição, as dignidades, canonicatos, prebendas, meias-prebendas, capelas, capelanias, tanto de igrejas catedrais quanto de igrejas colegiadas, e todos capítulos regulares e seculares de um e outro sexo, as abadias e priorados em regra ou comenda, também de um e outro sexo e todos os outros benefícios e prestimônios geralmente ordinários, de qualquer natureza e sob
qualquer denominação que seja, são, a contar do dia da publicação do presente decreto, extintas e suprimidas, e semelhantes jamais serão restabelecidas.

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO
“1. Os homens nascem e permanecem livres e iguais quanto aos direitos. As distinções sociais só podem ser baseadas na utilidade comum.
2.A finalidade de toda associação política é a preservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Tais direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão.”

“Mais especificamente, as exigências do burguês foram delineadas na famosa Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. Este documento é um manifesto contra a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um manifesto a favor de uma sociedade democrática e igualitária.”
(HOBSBAWN, Eric. A Era das Revoluções: 1789-1848. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977. p. 77)

CONSTITUI’CÃO DE 1791
Preâmbulo:
"Não há mais nobreza, nem distinções hereditárias, nem distinções de Ordens, nem regime feudal... Não há mais nem venalidade, nem hereditariedade de qualquer ofício público; não há mais para qualquer porção da Nação, nem para qualquer indivíduo qualquer privilégio nem exceção..."

CAPÍTULO II
Artigo 1. A Realeza é indivisível e hereditariamente delegada de varão a varão, pela ordem de primogenitura, em exclusão perpétua das mulheres e de sua descendência.
Artigo 2. A pessoa do Rei é inviolável e sagrada; seu único título é o de Rei dos Franceses.
Artigo 3. Não existe na França autoridade superior à da Lei. O Rei reina por ela e não pode exigir a obediência senão em nome da lei.
Artigo 4. O Rei, no ato de sua elevação ao trono, ou a partir do momento em que tiver atingido a maioridade, prestará à Nação, na presença do Corpo legislativo, o juramento de ser fiel à Nação e à Lei, de empregar todo poder que lhe foi delegado para, manter a Constituição decretada pela Assembléia Nacional constituinte nos anos de 1789, 1791, e de fazer executar as leis [...]..

"Em lugar da tirania de 100.000 nobres, teremos a de 1 milhão de agiotas". (Marat, sobre o voto censitário)

CONVENÇÃO JACOBINA E O TERROR
"O Comitê de Salvação Pública, quando chefiado por Robespierre, ordenou uma mobilização em massa, adotou rigorosas medidas econômicas, controlando a produção, racionando os víveres, fixando os preços máximos dos gêneros de primeira necessidade, bem como o nível máximo dos salários, e instituiu ainda tribunais revolucionários para eliminar todos os suspeitos de serem adversários da Revolução. Essas medidas do Comitê instauraram na França o período do Terror."
(HOLLANDA, Sérgio Buarque de. "História da Civilização". São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1975. [adapt.])

"Santa guilhotina,
protetora dos patriotas,
rogai por nós
Santa guilhotina,
terror dos aristocratas,
protegei-nos
Máquina adorável,
tende piedade de nós
Máquina admirável,
tende piedade de nós
Santa guilhotina,
livrai-nos de nossos inimigos
Ó Celeste Guilhotina,
Abrevias rainhas e reis,
Por tua influência divina
Reconquistamos nossos direitos.
(...)
enriquece tua bagagem
com cabeças de tirano!"
(Citado por ARASSE, Daniel. "A Guilhotina e o Imaginário do Terror". São Paulo: Ática, 1989. p.106-107.)

"O difícil não é fazer, mas controlar uma revolução" (Mirabeau)

"É pela violência que se deve estabelecer a liberdade, e este momento exige a organização do despotismo da liberdade" (Marat, defendendo a criação do Comitê da Salvação Pública, 1793)

LEI DOS MÁXIMOS (29 de Setembro de 1793)
A Convenção Nacional [...] decreta o seguinte:
Art. 1º - Os objetos que a Convenção nacional entendeu serem de primeira necessidade, e de que julgou dever fixar o máximo ou o mais alto preço são [...]
Art. 3º - O máximo do preço dos [...] gêneros e mercadorias enunciado no art. 1º será, em toda a extensão da república, [...] o preço que cada uma delas tinha em 1790 [...]mais um terço [...].
Art. 8º O máximo, ou mais alto preço respectivo, dos salários, soldadas, mão-de-obra e jornadas de trabalho em cada lugar será fixado, a começar na publicação desta lei [...] pelos conselhos gerais das comunas, no praticado em 1790, ao qual se juntará mais a metade desse preço [...]

“É pela violência que se deve estabelecer a liberdade; o momento requer a organização do despotismo da liberdade, para esmagar o despotismo dos reis.” (Marat, editor do jornal O Amigo do Povo)

"Não havia leis que me impedissem " (Luis XVI, defendendo-se da acusação de traição)

A base do governo popular em revolução é ao mesmo tempo a virtude e o terror, a virtude, sem a qual o terror é funesto, o terror, sem a virtude é impotente”. (Discurso de Robespierre, na Convenção)

Chegou a hora da igualdade passar a foice por todas as cabeças. Portanto, legisladores, vamos colocar o terror na ordem do dia." (Discurso de Robespierre na Convenção)

"O Terror é a luta da liberdade contra seus inimigos" (Robespierre)


"Liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome" (Mme. Roland, ao ser presa em 1793)

"(...) a revolução que não se radicaliza morre melancolicamente, como a burguesa. A rigor, uma só revolução existe, a que se deflagrou em 1789: enquanto viveu, ela quis expandir-se, e, assim, a República Francesa se considerou e tentou universal - até o momento em que a pretensão de libertar o mundo se converteu na de anexá-lo, em que os ideais republicanos se reduziram ao imperialismo bonapartista."
(Ribeiro, Renato Janine. A ÚLTIMA RAZÃO DOS REIS. São Paulo, Cia. das Letras, 1993.)


Calendário da Revolução Francesa

Frimário (frimaire): 21 de novembro a 20 de dezembro
Nivoso (nivôse): 21 de dezembro a 19 de janeiro
Pluvioso (pluviôse): 20 de janeiro a 18 de fevereiro
Ventoso (ventôse): 19 de fevereiro a 20 de março
Germinal (germinal): 21 de março a 19 de abril
Florial (floréal): 20 de abril a 19 de maio
Pradial (prairial): 20 de maio a 18 de junho
Messidor (messidor): 19 de junho a 18 de julho
Termidor (thermidor): 19 de julho a 17 de agosto
Frutidor (fructidor): 18 de agosto a 20 de setembro
Vindimiário (vendémiaire): 22 de setembro a 21 de outubro
Brumário (brumaire): 22 de outubro a 20 de novembro
(Napoleão, em 1805, determinou a volta do Calendário Gregoriano)

. "Os revolucionários, especialmente na França, viram-na como a primeira república do povo, inspiração de toda a revolta subsequente. Pois esta não era uma época a ser medida pelos critérios cotidianos. Isto é verdade. Mas para o francês da sólida classe média que estava por trás do Terror, ele não era nem patológico nem apocalíptico, mas primeiramente e sobretudo o único método efetivo de preservar seu país." (HOBSBAWM, Eric. "A Era das revoluções". Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981,
p. 86.)




quarta-feira, 7 de setembro de 2011

GANA E BRASIL: PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FUTEBOL





Na segunda-feira, 5 de setembro de 2011, assisti ao jogo de futebol entre Gana e Brasil, pela Rede Globo, narrado por Galvão Bueno e comentado por Casagrande e Arnaldo César Coelho. Sim, leitores, usei meu ócio para colocar minha bunda no sofá e assistir a um jogo da seleção.
Durante a partida, ouvi diálogos do tipo:
- Será que foi impedimento?
- Vamos ver, vamos ver ...
- É, foi ... um pouquinho ... talvez um joelho!

E, com alta tecnologia, o lance foi repetido, virado de lado, revirado, parado, retomado. Sim, senhores, era muito importante saber se “um pouco” impedido é impedimento. Nossa vida mudou muito depois disso e até a fome dos somalis acabou.
Mas, como ócio é ócio e sou uma pessoa normal, continuei diante da TV. Um atleta de Gana conversou com o árbitro. E nosso todo poderoso Galvão Bueno comenta: “Sei lá, ele deve, de alguma forma, falar inglês para poder conversar com o árbitro!!!”
Minha bunda (que linda palavra africana!) levantou-se, indignada, e respondeu ao Galvão: “Oh, Galvão Bueno, como pode um ganês falar inglês?”

UMA BREVE HISTÓRIA DE GANA

O REINO DE GANA, na África Sul Saariana, foi poderoso centro criador de camelos, comercializados com povos bérberes do Norte. Comercializava ainda ouro, sal, tecidos cavalos e tâmaras. Entre os séculos X e XII atingiu seu apogeu, ocupando uma vasta área onde hoje situam-se, além de Gana, Mali e Mauritânia
No século XIII, acabou sendo dominado pelo Reino de Mali e dele fez parte. O Reino de Mali marcou-se pela construção de ricas mesquitas e grandes centros de estudos, como o de Tombuctu, atraindo cientistas, poetas, literatos, religiosos. É dessa época a realização de suntuosas peregrinações a Meca, como a de 1325.
Mas o Reino de Mali, que incluía o de Gana, foi dominado pelo reino de Songhai no final do século XIV.
DOMÍNIO PORTUGUÊS
No século XV, em sua expansão marítima e comercial, Portugal realizou o périplo africano, ou seja, contornou o continente africano, para chegar à Índia. Na África Ocidental, atlântica, fundou, em 1482, o Castelo de São Jorge da Mina, que se tornou uma das mais importantes feitorias lusas no comércio mercantilista. A partir dela, os portugueses dominaram vasta região, incluindo Acra, hoje capital de Gana. Dali saíram milhares de escravos em direção ao Brasil e a outras partes da América Colonial. África e América eram as molduras do quadro Atlântico onde se pintou a acumulação de capital através do tráfico humano.
DOMÍNIO HOLANDÊS
Em 1642, dois anos após a Restauração Portuguesa contra a Espanha, os holandeses ainda estavam ocupando áreas do Nordeste brasileiro. Entre os acordos luso-flamengos, um estipulava a entrega de São Jorge da Mina aos holandeses, líderes então da intermediação de mercadorias no capitalismo comercial.
DOMÍNIO INGLÊS
No início do século XIX, nasciam o neocolonialismo e o imperialismo, frutos do capitalismo industrial. E Gana caiu sob domínio britânico. A Grã Bretanha apossou-se da região, derrotando militarmente seus concorrentes europeus e massacrando a resistência negra local. Com os canhões ingleses vieram sua língua, sua moral calvinista, seus pregadores e, é claro, seus comerciantes. A grande burguesia britânica assumia sua missão civilizadora, o fardo do homem branco.
INDEPENDÊNCIA POLÍTICA
Gana foi, portanto, território do imperialismo inglês, do início do século XIX até 1957. Naquele ano, Gana tornou-se independente politicamente, na avassaladora onda libertária afro-asiática da descolonização, durante a Guerra Fria. Adotou para si a máxima “É melhor ser independente para governar sozinho, bem ou mal, do que ser governado por outros!”
Até hoje usa o lema Freedon and Justice (Liberdade e Justiça) e seu hino nacional chama-se God Bless Our Homeland Ghana (Deus Abençoe Nossa Pátria Gana).

TABOM

Voltando a falar de futebol, ganha-pão de tantas pessoas, em 27 de junho de 2006, o coração do chefe tribal ganês, Nii Azumah V, ficou dividido entre Gana e Brasil, como deve ter ficado na segunda-feira, 5 de setembro de 2011. Naquela data, Brasil e Gana disputavam entre si a passagem para as quartas de final da Copa do Mundo de futebol. Mas seu coração não era o único dividido entre torcer pela sua seleção ou pela seleção de suas origens históricas, o Brasil.
Mais de 2.000 ganeses são descendentes diretos de 70 escravos brasileiros que, tendo adquirido a alforria no Brasil, voltaram para Gana, para suas tribos seculares. Ao lá chegarem, em 1836, falavam apenas a língua portuguesa. Quando lhes perguntavam algo sobre a situação da viagem ou da saúde, mesmo não entendendo seus interlocutores, respondiam: “Tá Bom!”
Estava nascendo, assim, a comunidade brasileira Tabom, em Gana. Quase dois séculos depois, cultuam suas origens brasileiras. A maioria mora no bairro portuário de Jamestown, em Acra, capital de Gana. Ali, na Alameda Brazil, está o Brazil House, local de encontro dos tabons com sua história brasileira.



Em abril de 2005, pela primeira vez na História, um presidente do Brasil foi a Gana. Lula percorreu alguns países africanos, num esforço para estreitar as relações econômicas e diplomáticas. Naquele encontro em Gana, Lula recebeu e vestiu uma manta entregue apenas aos que passam a ser considerados reis pela comunidade Tabom.

Queridos leitores, nunca mais digam que eu não escrevo sobre futebol. Se gostaram de meu texto, ou se não gostaram, agradeçam ao Galvão Bueno, um dos gênios da Rede Globo.

domingo, 4 de setembro de 2011

TEXTOS: IMPERIALISMO






Jules Ferry



"O imperialismo é filho da industrialização”
(Jules Ferry, 1º Ministro francês, em 1880)
Cecil Rodhes
“O mundo está todo parcelado, e o que resta dele está sendo dividido, conquistado, colonizado. Pense nas estrelas que vemos à noite… Eu anexaria os planetas, se pudesse; penso sempre nisso.”
(Cecil Rhodes, colonialista ingles, em 1895)

“Sustento que somos a primeira raça do mundo, e quanto mais do mundo habitarmos, tanto melhor será para a raça humana…Se houver um Deus, creio que Ele gostaria que eu pintasse o mapa da África com as cores britânicas.”
(Idem, 1897)

" Considerei a existência de Deus e decidi que há uma boa chance de que ele exista. Se ele realmente existir, deve estar trabalhando em um plano. Portanto, se devo servir a Deus, preciso descobrir o plano e fazer o melhor possível para ajudá-lo em sua execução. Como descobrir o plano? Primeiramente, procurar a raça que Deus escolheu para ser o instrumento divino da futura evolução. Inquestionavelmente, é a raça branca… Devotarei o restante de minha vida ao propósito de Deus e a ajudá-lo a tornar o mundo inglês."
(Idem, 1897)

“A universal nação ianque pode regenerar e libertar o povo do México em poucos anos; e cremos que é parte de nosso destino civilizar esse belo país e capacitar seus habitantes para apreciar algumas das numerosas vantagens e bênçãos de que dispõem”. (Artigo do New York Herald, em 1847)


“A penosa escassez de prata (...) pode ser remediada unicamente – como se remediou a escassez de ouro – com a aplicação da iniciativa norte-americana nas minas do México. A prata cunhada nunca será abundante nos Estados Unidos se as suas fronteiras meridionais não incluírem as jazidas minerais do México.” (Artigo da United States Review, em 1853)

Senador Beveridge
“Deus designou o povo norte-americano como Sua nação eleita para finalmente levar a regeneração ao mundo (...) Somos depositários do progresso do mundo, guardiães de sua paz!” (Senador Albert J. Beveridge, dos EUA, início do século XX)


“A natureza distribuiu no planeta os depósitos e a abundância de suas matérias- primas; enquanto localizou o gênero inventivo das raças brancas e a ciência da utilização das riquezas naturais nesta extremidade continental que é a Europa, concentrou os mais vastos depósitos dessas matérias-primas nas Áfricas, Ásias tropicais, Oceanias equatoriais, para onde as necessidades de viver e de criar lançariam o elã dos países civilizados. Estas imensas extensões incultas, de onde poderiam ser tiradas tantas riquezas deveriam ser deixadas virgens, abandonadas à ignorância ou à incapacidade? (...) A humanidade total deve poder usufruir da riqueza total espalhada pelo planeta. Esta riqueza é o tesouro comum da humanidade.” (Texto de Albert Sarraut, em Grander ET Servitude Coloniales, Paris, 1931)
Kipling
Tomai o fardo do Homem Branco -
Envia teus melhores filhos
Vão, condenem seus filhos ao exílio
Para servirem aos seus cativos;
Para esperar, com arreios
Com agitadores e selváticos
Seus cativos, servos obstinados,
Metade demônio, metade criança.
(...)
Tomai o fardo do Homem Branco -
As guerras selvagens pela paz -
Encha a boca dos Famintos,
E proclama, das doenças, o cessar;
E quando seu objetivo estiver perto
(O fim que todos procuram)
Olha a indolência e loucura pagã
Levando sua esperança ao chão.
(...)
Tomai o fardo do homem branco -
Vós, não tenteis impedir -
Não clamem alto pela Liberdade
Para esconderem sua fadiga
Porque tudo que desejem ou sussurrem,
Porque serão levados ou farão,
Os povos silenciosos e calados
Seu Deus e tu, medirão.
(Rudyard Kipling, escitor anglo-indiano)


“Se algum mal for feito a nossos cidadãos, acertaremos nossas contas, até as últimas, com os responsáveis (...) A política do governo dos Estados Unidos consiste em (...) proteger todos os direitos assegurados a potências amigas, por tratados e leis internacionais, e salvaguardar para o mundo o princípio do comércio igual e imparcial com todas as partes do Império Chinês.” (Diplomata John Hay, sobre o comércio com a China, no final do século XIX)
Almirante Mahan
“O que quer que façam ou não, os norte-americanos devem agora começar a olhar para longe.” (Almirante Alfred T. Mahan, ideólogo do imperialismo norte-americano, em 1890)

"O interesse egoísta é um objetivo não somente legítimo como também fundamental para a política nacional" (Idem)
Theodore Roosevelt e seu Big Stick

“Fale com suavidade, mas empunhe o grande porrete!” (Theodore Roosevelt, Presidente dos EUA, a respeito da América Latina, no início do século XX)
Taft
”Não está longe o dia em que três bandeiras de listras e estrelas marcarão em três lugares a extensão de nosso território: uma no Polo Norte, outra no Canal do Panamá e a terceira no Polo Sul. Todo o hemisfério será nosso, de fato, como, em virtude de nossa superioridade racial, já é nosso moralmente’. (Willian H. Taft, Presidente dos EUA, em 1912)