ORIGENS
A Guerra de Secessão consolidou o capitalismo nos Estados Unidos da América. O Norte burguês, industrial e protecionista se impôs ao Sul aristocrático, agrário, livre-cambista e escravista.
Na virada do século XIX para o XX, a Doutrina Monroe desembocou na Doutrina Roosevelt e no Big Stick de Theodore Roosevelt. O capitalismo norte-americano, consolidado internamente, debruçou seu olhar para a América Latina. O Destino Manifesto, fundamento ideológico da expansão territorial interna, ultrapassou as fronteiras físicas. Os territórios conquistados ao México, o caso panamenho contra a Colômbia em função do canal do Panamá, a Emenda Platt imposta a Cuba, a invasão dos mariners em Tampico, no México revolucionário são exemplos inegáveis do embrionário, mas já truculento, imperialismo norte-americano. Dispensando metáforas, em 1912, o Presidente Willian H. Taft disse: “Não está longe o dia em que três bandeiras de listras e estrelas marcarão em três lugares a extensão do nosso território: uma no pólo Norte, outra no Canal do Panamá e a terceira no pólo Sul. Todo hemisfério será nosso, de fato, como, em virtude de nossa superioridade racial, já é nosso moralmente”.
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Ao se dissipar a fumaça da Primeira Guerra Mundial, Washington substituía Londres como pólo do capitalismo. Os Estados Unidos passaram de devedores a credores da Europa. E sua burguesia traduziu a guerra como um grande e lucrativo negócio. Seus produtos entraram em áreas até então dominadas por mercadorias europeias, inclusive na própria Europa.
Segundo alguns analistas, a Primeira Guerra Mundial fez surgir o “quarto ciclo sistêmico de acumulação”, precedido pelo genovês (século XV e XVI), pelo holandês (séculos XVI e XVII) e pelo britânico (séculos XVIII e XIX). Nos dizeres de Giovanni Arrighi, o ciclo norte-americano dominou o “longo século XX” (Ler neste blog meu texto anterior: Imperialismo Britânico na Índia – 2).
O PERÍODO ENTRE-GUERRAS E A SEGUNDA GUERRA
No início do Período Entre-Guerras, muitos empréstimos e investimentos ingleses (e franceses) se perderam com a Revolução Bolchevique e com a Guerra Civil (1918/21) na Rússia. Enquanto isso, o capitalismo norte-americano dava enormes saltos de ganhos em produtividade, frutos do avanço tecnológico e metodológico implementados na produção. Mercadorias com a marca Made In USA ganhavam o mundo.
A Crise de 1929 e a Grande Depressão nos anos 30 do século XX nasceram nos Estados Unidos, mas atingiram todo o mundo capitalista. Não interromperam o processo da ascensão norte-americana no cenário mundial, apenas o retardaram. Estruturalmente, entrava em crise o liberalismo clássico, ortodoxo. O New Deal de Roosevelt, fundamentado em Keynes, começou a recuperação dos Estados Unidos e, durante a Segunda Guerra Mundial, o desemprego norte-americano, que tinha chegado a 25% da população ativa, tangenciou o zero. Assim, no Período Entre-Guerras e, principalmente, na Segunda Guerra, os Estados Unidos confirmaram sua posição de centro do quarto ciclo sistêmico de acumulação. Recorro novamente a Giovanni Arrighi sobre os efeitos internacionais da Segunda Guerra Mundial: “... esse confronto traduziu-se no estabelecimento de uma nova ordem mundial, centrada nos EUA e organizada por esse país. Em alguns aspectos fundamentais, ela diferia da extinta ordem mundial britânica e se transformou na base de uma nova fase de reprodução ampliada da economia mundial capitalista. No fim da Segunda Guerra Mundial, já estavam estabelecidos os principais contornos desse novo sistema mundial: em Bretton Woods foram estabelecidas as bases do novo sistema monetário mundial; em Hiroshima e Nagasaki, novos meios de violência haviam demonstrado quais seriam os alicerces militares da nova ordem; em Francisco, novas formas e regras para a legitimação da gestão do Estado e da guerra tinham sido explicadas na Carta das Nações Unidas”.
INÍCIO DO PÓS-GUERRA
Em 1947, ano do lançamento da Doutrina Truman e do Plano Marshall, os Estados Unidos detinham em seus cofres 70% do ouro do mundo. Para impedirem o avanço socialista, transportaram para o bloco capitalista, por eles liderado, a “segurança social” iniciada internamente com o New Deal. O Plano Marshall e o derrame de dólares nos países do bloco pretendiam estancar o caos social do pós-guerra, para anularem o crescimento da outra vitoriosa da Segunda Guerra, a União Soviética. Era o mundo bipolar da Guerra Fria, uma nova ordem em relação à velha ordem do imperialismo britânico passado.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
IMPERIALISMO BRITÂNICO NA ÍNDIA -2-
Veneza e Gênova dominaram o comércio mediterrâneo na Baixa Idade Média, no chamado Renascimento Comercial. A Europa feudal, em colapso, via crescerem os pólos comerciais, as feiras, o renascimento das cidades, o retorno do uso da moeda, a busca do lucro individual e o surgimento de atividades financeiras, nas quais o dinheiro era a mercadoria para ganhar dinheiro. As famílias Médici, florentina, e Függer, alemã, são exemplos do enriquecimento proporcionado por atividades mercantis e bancárias.
A partir do século XV, com as grandes navegações oceânicas, o eixo econômico deslocou-se para o Atlântico-Índico. O Mediterrâneo minguava comercialmente, arrastando as cidades italianas tão poderosas até então. A tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, e a chegada de Vasco da Gama a Calicute, em 1498, foram o golpe mortal na supremacia histórica do comércio mediterrâneo.
Portugal e Espanha dividiram o mundo e nasciam os grandes impérios coloniais. Os ibéricos, mergulhados na ideologia católica da Contrarreforma, perseguiram e expulsaram judeus. Com eles, o capital móvel de Portugal e Espanha migrou para lugares mais tolerantes, notadamente para a Holanda.
A Holanda estava em guerra contra os Habsburgos do Sacro Império e da Espanha. Mas aproximou-se de Portugal, com o qual formou a associação luso-flamenga, fundamental para a montagem da empresa açucareira do Brasil, financiando, transportando, refinando e, principalmente, distribuindo o açúcar brasileiro no mercado europeu. Assim, a Holanda ficou com a maior parcela dos lucros gerados pelo produto da colônia portuguesa. Tinha, então, a supremacia do comércio Ocidental.
A União Ibérica (1580/1640) e o embargo do açúcar brasileiro por Felipe II da Espanha não acabou com a supremacia holandesa. Ao invadir o Brasil, passou a produzir aqui, com financiamento de uma empresa de capital misto, a Companhia das Índias Ocidentais.
Mas, a Revolução Puritana na Inglaterra, através do Ato de Navegação (1651) de Oliver Cromwell, interrompeu a hegemonia batava e iniciou a supremacia britânica. Fazem parte desse processo os tratados assinados entre Portugal e Inglaterra pelo apoio desta na luta pela Restauração do trono português. Portugal perdera, então, parte de seu império ultramarino, como as Ilhas Molucas e o Ceilão para a Holanda, Tanger e Bombaim para a Inglaterra. Em 1703, Portugal assinou, com a Inglaterra, o Tratado de Methuen, também conhecido por “Tratado dos Panos e Vinhos”. Enquanto existiu, o ouro brasileiro sustentou os constantes déficits da balança comercial portuguesa ou, como diz um autor, “o ouro do Brasil entrava pela porta de Portugal e saía pela janela”. Ou, ainda, “o ouro provocou buracos na Brasil, altares em Portugal e máquinas na Inglaterra”. A Revolução Comercial, com a exploração das colônias, o tráfico negreiro, a pirataria e a ação corsária, forneceu capital para a Inglaterra liderar a Revolução Industrial.
A Inglaterra consolidou-se como centro dinâmico do capitalismo industrial, em detrimento de outros reinos europeus ancorados no monopólio comercial exercido sobre áreas periféricas. Mas a produção fabril, em larga escala, não admitia mais a manutenção de mercados enclausurados pelos dogmas mercantilistas. Na primeira metade do século XIX desmoronavam os impérios ibéricos e a América Latina deixou de ser periferia do capitalismo comercial e passou a ser periferia do capitalismo industrial britânico. O liberalismo econômico derrotara o mercantilismo, mas aperfeiçoava a divisão internacional do trabalho, iniciada pelo regime do pacto colonial das antigas metrópoles.
A partir da metade do século XIX, com os efeitos da chamada Segunda Revolução Industrial, o neocolonialismo e o imperialismo escrevem uma nova história na África e na Ásia. E a Inglaterra confirma sua hegemonia no capitalismo monopolista, discursando sobre as “vantagens” do liberalismo. A Guerra dos Sipaios na Índia, as Guerras do Ópio na China e a Guerra dos Bôeres na África do Sul são inquestionáveis demonstrações da força dos canhões britânicos, em nome do “liberalismo econômico”. Vejamos o que diz um estudioso do imperialismo britânico: “O domínio britânico sobre o equilíbrio de poder europeu foi suplementado e complementado pela consolidação do império territorial da Grã-Bretanha na Índia, depois do chamado Grande Motim de 1857 [Guerra dos Sipaios, palavra de origem híndi (shipahi) que significa soldado].
O controle sobre a Índia significava comandar recursos financeiros e materiais – inclusive recursos humanos militares – que nenhuma nação ou conjunto provável de nações poderia igualar e nenhum grupo dominante, de momento, poderia desafiar em termos militares.
[...] Ao mesmo tempo, o regime britânico unilateral de livre comércio [liberalismo econômico] ligou o mundo inteiro à Grã-Bretanha. Esta se tornou o “mercado” mais conveniente e eficiente para obter meios de pagamentos e de produção e para colocar produtos primários. [...]Além disso, como em todos os ciclos sistêmicos de acumulação anteriores, a intensificação das pressões competitivas acarretada pela fase de expansão material associou-se, desde o início, a uma grande guinada do comércio e da produção para as finanças, por parte da classe capitalista britânica. A segunda metade do século XIX caracterizou-se não apenas por grandes levas de exportação de capital da Grã-Bretanha, como já foi assinalado, mas também pela expansão das redes bancárias provinciais britânicas, aliada à crescente integração delas nas redes de City, o centro financeiro londrino”.
(ARRIGHI, Giovanni. O Longo Século XX: Dinheiro, Poder e as Origens do Nosso Tempo. São Paulo. Contraponto/UNESP, 1996)
A partir do século XV, com as grandes navegações oceânicas, o eixo econômico deslocou-se para o Atlântico-Índico. O Mediterrâneo minguava comercialmente, arrastando as cidades italianas tão poderosas até então. A tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, e a chegada de Vasco da Gama a Calicute, em 1498, foram o golpe mortal na supremacia histórica do comércio mediterrâneo.
Portugal e Espanha dividiram o mundo e nasciam os grandes impérios coloniais. Os ibéricos, mergulhados na ideologia católica da Contrarreforma, perseguiram e expulsaram judeus. Com eles, o capital móvel de Portugal e Espanha migrou para lugares mais tolerantes, notadamente para a Holanda.
A Holanda estava em guerra contra os Habsburgos do Sacro Império e da Espanha. Mas aproximou-se de Portugal, com o qual formou a associação luso-flamenga, fundamental para a montagem da empresa açucareira do Brasil, financiando, transportando, refinando e, principalmente, distribuindo o açúcar brasileiro no mercado europeu. Assim, a Holanda ficou com a maior parcela dos lucros gerados pelo produto da colônia portuguesa. Tinha, então, a supremacia do comércio Ocidental.
A União Ibérica (1580/1640) e o embargo do açúcar brasileiro por Felipe II da Espanha não acabou com a supremacia holandesa. Ao invadir o Brasil, passou a produzir aqui, com financiamento de uma empresa de capital misto, a Companhia das Índias Ocidentais.
Mas, a Revolução Puritana na Inglaterra, através do Ato de Navegação (1651) de Oliver Cromwell, interrompeu a hegemonia batava e iniciou a supremacia britânica. Fazem parte desse processo os tratados assinados entre Portugal e Inglaterra pelo apoio desta na luta pela Restauração do trono português. Portugal perdera, então, parte de seu império ultramarino, como as Ilhas Molucas e o Ceilão para a Holanda, Tanger e Bombaim para a Inglaterra. Em 1703, Portugal assinou, com a Inglaterra, o Tratado de Methuen, também conhecido por “Tratado dos Panos e Vinhos”. Enquanto existiu, o ouro brasileiro sustentou os constantes déficits da balança comercial portuguesa ou, como diz um autor, “o ouro do Brasil entrava pela porta de Portugal e saía pela janela”. Ou, ainda, “o ouro provocou buracos na Brasil, altares em Portugal e máquinas na Inglaterra”. A Revolução Comercial, com a exploração das colônias, o tráfico negreiro, a pirataria e a ação corsária, forneceu capital para a Inglaterra liderar a Revolução Industrial.
A Inglaterra consolidou-se como centro dinâmico do capitalismo industrial, em detrimento de outros reinos europeus ancorados no monopólio comercial exercido sobre áreas periféricas. Mas a produção fabril, em larga escala, não admitia mais a manutenção de mercados enclausurados pelos dogmas mercantilistas. Na primeira metade do século XIX desmoronavam os impérios ibéricos e a América Latina deixou de ser periferia do capitalismo comercial e passou a ser periferia do capitalismo industrial britânico. O liberalismo econômico derrotara o mercantilismo, mas aperfeiçoava a divisão internacional do trabalho, iniciada pelo regime do pacto colonial das antigas metrópoles.
A partir da metade do século XIX, com os efeitos da chamada Segunda Revolução Industrial, o neocolonialismo e o imperialismo escrevem uma nova história na África e na Ásia. E a Inglaterra confirma sua hegemonia no capitalismo monopolista, discursando sobre as “vantagens” do liberalismo. A Guerra dos Sipaios na Índia, as Guerras do Ópio na China e a Guerra dos Bôeres na África do Sul são inquestionáveis demonstrações da força dos canhões britânicos, em nome do “liberalismo econômico”. Vejamos o que diz um estudioso do imperialismo britânico: “O domínio britânico sobre o equilíbrio de poder europeu foi suplementado e complementado pela consolidação do império territorial da Grã-Bretanha na Índia, depois do chamado Grande Motim de 1857 [Guerra dos Sipaios, palavra de origem híndi (shipahi) que significa soldado].
O controle sobre a Índia significava comandar recursos financeiros e materiais – inclusive recursos humanos militares – que nenhuma nação ou conjunto provável de nações poderia igualar e nenhum grupo dominante, de momento, poderia desafiar em termos militares.
[...] Ao mesmo tempo, o regime britânico unilateral de livre comércio [liberalismo econômico] ligou o mundo inteiro à Grã-Bretanha. Esta se tornou o “mercado” mais conveniente e eficiente para obter meios de pagamentos e de produção e para colocar produtos primários. [...]Além disso, como em todos os ciclos sistêmicos de acumulação anteriores, a intensificação das pressões competitivas acarretada pela fase de expansão material associou-se, desde o início, a uma grande guinada do comércio e da produção para as finanças, por parte da classe capitalista britânica. A segunda metade do século XIX caracterizou-se não apenas por grandes levas de exportação de capital da Grã-Bretanha, como já foi assinalado, mas também pela expansão das redes bancárias provinciais britânicas, aliada à crescente integração delas nas redes de City, o centro financeiro londrino”.
(ARRIGHI, Giovanni. O Longo Século XX: Dinheiro, Poder e as Origens do Nosso Tempo. São Paulo. Contraponto/UNESP, 1996)
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
IMPERIALISMO BRITÂNICO NA ÍNDIA
OS PRIMEIROS CICLOS SISTÊMICOS DE ACUMULAÇÃO DE CAPITAL
Veneza e Gênova dominaram o comércio mediterrâneo na Baixa Idade Média, no chamado Renascimento Comercial. A Europa feudal, em colapso, via crescerem os pólos comerciais, as feiras, o renascimento das cidades, o retorno do uso da moeda, a busca do lucro individual e o surgimento de atividades financeiras, nas quais o dinheiro era a mercadoria para ganhar dinheiro. As famílias Médici, florentina, e Függer, alemã, são exemplos do enriquecimento proporcionado por atividades mercantis e bancárias.
A partir do século XV, com as grandes navegações oceânicas, o eixo econômico deslocou-se para o Atlântico-Índico. O Mediterrâneo minguava comercialmente, arrastando as cidades italianas tão poderosas até então. A tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, e a chegada de Vasco da Gama a Calicute, em 1498, foram o golpe mortal na supremacia histórica do comércio mediterrâneo.
Portugal e Espanha dividiram o mundo e nasciam os grandes impérios coloniais. Os ibéricos, mergulhados na ideologia católica da Contrarreforma, perseguiram e expulsaram judeus. Com eles, o capital móvel de Portugal e Espanha migrou para lugares mais tolerantes, notadamente para a Holanda.
A Holanda estava em guerra contra os Habsburgos do Sacro Império e da Espanha. Mas aproximou-se de Portugal, com o qual formou a associação luso-flamenga, fundamental para a montagem da empresa açucareira do Brasil, financiando, transportando, refinando e, principalmente, distribuindo o açúcar brasileiro no mercado europeu. Assim, a Holanda ficou com a maior parcela dos lucros gerados pelo produto da colônia portuguesa. Tinha, então, a supremacia do comércio Ocidental.
A União Ibérica (1580/1640) e o embargo do açúcar brasileiro por Felipe II da Espanha não acabou com a supremacia holandesa. Ao invadir o Brasil, passou a produzir aqui, com financiamento de uma empresa de capital misto, a Companhia das Índias Ocidentais.
Mas, a Revolução Puritana na Inglaterra, através do Ato de Navegação (1651) de Oliver Cromwell, interrompeu a hegemonia batava e iniciou a supremacia britânica. Fazem parte desse processo os tratados assinados entre Portugal e Inglaterra pelo apoio desta na luta pela Restauração do trono português. Portugal perdera, então, parte de seu império ultramarino, como as Ilhas Molucas e o Ceilão para a Holanda, Tanger e Bombaim para a Inglaterra.
Em 1703, Portugal assinou, com a Inglaterra, o Tratado de Methuen, também conhecido por “Tratado dos Panos e Vinhos”. Enquanto existiu, o ouro brasileiro sustentou os constantes déficits da balança comercial portuguesa ou, como diz um autor, “o ouro do Brasil entrava pela porta de Portugal e saía pela janela”. Ou, ainda, “o ouro provocou buracos na Brasil, altares em Portugal e máquinas na Inglaterra”.
A Revolução Comercial, com a exploração das colônias, o tráfico negreiro, a escravidão, a pirataria e a ação corsária, forneceu capital para a Inglaterra liderar a Revolução Industrial. A Inglaterra consolidou-se como centro dinâmico do capitalismo industrial, em detrimento de outros reinos europeus ancorados no monopólio comercial exercido sobre áreas periféricas.
Mas a produção fabril, em larga escala, não admitia mais a manutenção de mercados enclausurados pelos dogmas mercantilistas.
Na primeira metade do século XIX desmoronavam os impérios ibéricos e a América Latina deixou de ser periferia do capitalismo comercial e passou a ser periferia do capitalismo industrial britânico. O liberalismo econômico derrotara o mercantilismo, mas aperfeiçoava a divisão internacional do trabalho, iniciada pelo regime do pacto colonial das antigas metrópoles.
O NEOCOLONIALISMO E O IMPERIALISMO
A partir da metade do século XIX, com os efeitos da chamada Segunda Revolução Industrial, o neocolonialismo e o imperialismo escrevem uma nova história na África e na Ásia. E a Inglaterra confirma sua hegemonia no capitalismo monopolista, discursando sobre as “vantagens” do liberalismo. A Guerra dos Sipaios na Índia, as Guerras do Ópio na China e a Guerra dos Bôeres na África do Sul são inquestionáveis demonstrações da força dos canhões britânicos, em nome do liberalismo econômico.
A Índia, a partir do século XIX, tornou-se um dos mais marcantes exemplos do poder devastador do Império Britânico. Antes, em sua história milenar, existiam aproximadamente setenta mil aldeias de economia autossuficiente. Sua riqueza cultural marcada por dezenas de línguas, centenas de dialetos, múltiplas etnias e religiões.
A beleza e a qualidade de suas mercadorias, especialmente os tecidos, eram apreciadas em todo o mundo. Por exemplo, encantaram Alexandre Magno e os macedônicos que lá chegaram com seu império. E os romanos com seu império. E os muçulmanos, com seu Islão. E os portugueses, com seu império marítimo-comercial.
Porém, foi a “missão civilizadora” do Império Britânico que mudou para sempre a História da Índia. Vejamos o que diz um estudioso do assunto.
“Explorando a Índia, a Grã-Bretanha, hábil em preparar os lucros, sabia ao mesmo tempo evitar as perdas. Desde o dia em que começou a ter na Índia um vasto mercado para suas manufaturas, a Inglaterra esforçou-se por arruinar as indústrias regionais. A Índia havia sido, até meados do século XIX, um país exportador de artigos fabricados. Nas cidades e nas grandes vilas exerciam-se, antigamente, profissões cujos produtos eram conhecidos em todo o mundo. Durante mais de um século e meio foi, sobretudo pelo tráfico dos tecidos finos e dos bordados da Índia e por sua venda nos mercados da Europa, que se enriqueceu a Companhia – antes do desenvolvimento da economia industrial na Grã-Bretanha. Porém, o desenvolvimento da indústria dos tecidos de algodão de Manchester tornava-os rivais dos da Índia. Para lhes assegurar um mercado (...), golpearam a indústria da Índia. De 1814 a 1835, o número de peças de fazendas importadas da Índia pela Grã-Bretanha caiu de 1.266.000 para 306.000. Em contraposição, o baixo preço das fazendas bitânicas fez com que elas fossem aceitas no mercado da Índia, onde pouco a pouco substituíram os tecidos locais: de 1814 a 1835, sua importação de 818.000 jardas subiu para 51.777.000. As indústrias indianas estagnaram; a vida industrial declina cada vez mais em lugares outrora florescentes. A Índia tornou-se um país quase que exclusivamente agrícola, produzindo matérias-primas e recebendo os artigos manufaturados do estrangeiro".
(GEORGE, Pierre. Geografia Econômica. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1970)
Vejamos o que diz outro estudioso: “O domínio britânico sobre o equilíbrio de poder europeu foi suplementado e complementado pela consolidação do império territorial da Grã-Bretanha na Índia, depois do chamado Grande Motim de 1857 [Guerra dos Sipaios, palavra de origem híndi (shipahi) que significa soldado]. O controle sobre a Índia significava comandar recursos financeiros e materiais – inclusive recursos humanos militares – que nenhuma nação ou conjunto provável de nações poderia igualar e nenhum grupo dominante, de momento, poderia desafiar em termos militares.[...] Ao mesmo tempo, o regime britânico unilateral de livre comércio [liberalismo econômico] ligou o mundo inteiro à Grã-Bretanha. Esta se tornou o “mercado” mais conveniente e eficiente para obter meios de pagamentos e de produção e para colocar produtos primários. [...]Além disso, como em todos os ciclos sistêmicos de acumulação anteriores, a intensificação das pressões competitivas acarretada pela fase de expansão material associou-se, desde o início, a uma grande guinada do comércio e da produção para as finanças, por parte da classe capitalista britânica. A segunda metade do século XIX caracterizou-se não apenas por grandes levas de exportação de capital da Grã-Bretanha, como já foi assinalado, mas também pela expansão das redes bancárias provinciais britânicas, aliada à crescente integração delas nas redes de City, o centro financeiro londrino” (ARRIGHI, Giovanni. O Longo Século XX: Dinheiro, Poder e as Origens do Nosso Tempo. São Paulo. Contraponto/UNESP, 1996).
DO IMPERIALISMO BRITÂNICO AO NORTE-AMERICANO
A Guerra de Secessão consolidou o capitalismo nos Estados Unidos da América. O Norte burguês, industrial e protecionista se impôs ao Sul aristocrático, agrário, livre-cambista e escravista. Na virada do século XIX para o XX, a Doutrina Monroe desembocou na Doutrina Roosevelt e no Big Stick de Theodore Roosevelt. O capitalismo norte-americano, consolidado internamente, debruçou seu olhar para a América Latina. O Destino Manifesto, fundamento ideológico da expansão territorial interna, ultrapassou as fronteiras físicas. Os territórios conquistados ao México, o caso panamenho contra a Colômbia em função do canal do Panamá, a Emenda Platt imposta a Cuba, a invasão dos mariners em Tampico, no México revolucionário são exemplos inegáveis do embrionário, mas já truculento, imperialismo norte-americano. Dispensando metáforas, em 1912, o Presidente Willian H. Taft disse: “Não está longe o dia em que três bandeiras de listras e estrelas marcarão em três lugares a extensão do nosso território: uma no pólo Norte, outra no Canal do Panamá e a terceira no pólo Sul. Todo hemisfério será nosso, de fato, como, em virtude de nossa superioridade racial, já é nosso moralmente”.
Ao se dissipar a fumaça da Primeira Guerra Mundial, Washington substituía Londres como pólo do capitalismo. Os Estados Unidos passaram de devedores a credores da Europa. E sua burguesia traduziu a guerra como um grande e lucrativo negócio. Seus produtos entraram em áreas até então dominadas por mercadorias europeias, inclusive na própria Europa.
Segundo alguns analistas, a Primeira Guerra Mundial fez surgir o “quarto ciclo sistêmico de acumulação”, precedido pelo genovês (século XV e XVI), pelo holandês (séculos XVI e XVII) e pelo britânico (séculos XVIII e XIX). Nos dizeres de Giovanni Arrighi, o ciclo norte-americano dominou o “longo século XX”.
No início do Período Entre-Guerras, muitos empréstimos e investimentos ingleses (e franceses) se perderam com a Revolução Bolchevique e com a Guerra Civil (1918/21) na Rússia. Enquanto isso, o capitalismo norte-americano dava enormes saltos de ganhos em produtividade, frutos do avanço tecnológico e metodológico implementados na produção. Mercadorias com a marca Made In USA ganhavam o mundo. A Crise de 1929 e a Grande Depressão nos anos 30 do século XX nasceram nos Estados Unidos, mas atingiram todo o mundo capitalista. Não interromperam o processo da ascensão norte-americana no cenário mundial, apenas o retardaram. Estruturalmente, entrava em crise o liberalismo clássico, ortodoxo. O New Deal de Roosevelt, fundamentado em Keynes, começou a recuperação dos Estados Unidos e, durante a Segunda Guerra Mundial, o desemprego norte-americano, que tinha chegado a 25% da população ativa, tangenciou o zero.
Assim, no Período Entre-Guerras e, principalmente, na Segunda Guerra, os Estados Unidos confirmaram sua posição de centro do quarto ciclo sistêmico de acumulação.
Recorro novamente a Giovanni Arrighi sobre os efeitos internacionais da Segunda Guerra Mundial: “... esse confronto traduziu-se no estabelecimento de uma nova ordem mundial, centrada nos EUA e organizada por esse país. Em alguns aspectos fundamentais, ela diferia da extinta ordem mundial britânica e se transformou na base de uma nova fase de reprodução ampliada da economia mundial capitalista. No fim da Segunda Guerra Mundial, já estavam estabelecidos os principais contornos desse novo sistema mundial: em Bretton Woods foram estabelecidas as bases do novo sistema monetário mundial; em Hiroshima e Nagasaki, novos meios de violência haviam demonstrado quais seriam os alicerces militares da nova ordem; em São Francisco, novas formas e regras para a legitimação da gestão do Estado e da guerra tinham sido explicadas na Carta das Nações Unidas”. Em 1947, ano do lançamento da Doutrina Truman e do Plano Marshall, os Estados Unidos detinham em seus cofres 70% do ouro do mundo. Para impedirem o avanço socialista, transportaram para o bloco capitalista, por eles liderado, a “segurança social” iniciada internamente com o New Deal. O Plano Marshall e o derrame de dólares nos países do bloco pretendiam estancar o caos social do pós-guerra, para anularem o crescimento da outra vitoriosa da Segunda Guerra, a União Soviética. Era o mundo bipolar da Guerra Fria, uma nova ordem em relação à velha ordem do imperialismo britânico passado.
Veneza e Gênova dominaram o comércio mediterrâneo na Baixa Idade Média, no chamado Renascimento Comercial. A Europa feudal, em colapso, via crescerem os pólos comerciais, as feiras, o renascimento das cidades, o retorno do uso da moeda, a busca do lucro individual e o surgimento de atividades financeiras, nas quais o dinheiro era a mercadoria para ganhar dinheiro. As famílias Médici, florentina, e Függer, alemã, são exemplos do enriquecimento proporcionado por atividades mercantis e bancárias.
A partir do século XV, com as grandes navegações oceânicas, o eixo econômico deslocou-se para o Atlântico-Índico. O Mediterrâneo minguava comercialmente, arrastando as cidades italianas tão poderosas até então. A tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, e a chegada de Vasco da Gama a Calicute, em 1498, foram o golpe mortal na supremacia histórica do comércio mediterrâneo.
Portugal e Espanha dividiram o mundo e nasciam os grandes impérios coloniais. Os ibéricos, mergulhados na ideologia católica da Contrarreforma, perseguiram e expulsaram judeus. Com eles, o capital móvel de Portugal e Espanha migrou para lugares mais tolerantes, notadamente para a Holanda.
A Holanda estava em guerra contra os Habsburgos do Sacro Império e da Espanha. Mas aproximou-se de Portugal, com o qual formou a associação luso-flamenga, fundamental para a montagem da empresa açucareira do Brasil, financiando, transportando, refinando e, principalmente, distribuindo o açúcar brasileiro no mercado europeu. Assim, a Holanda ficou com a maior parcela dos lucros gerados pelo produto da colônia portuguesa. Tinha, então, a supremacia do comércio Ocidental.
A União Ibérica (1580/1640) e o embargo do açúcar brasileiro por Felipe II da Espanha não acabou com a supremacia holandesa. Ao invadir o Brasil, passou a produzir aqui, com financiamento de uma empresa de capital misto, a Companhia das Índias Ocidentais.
Mas, a Revolução Puritana na Inglaterra, através do Ato de Navegação (1651) de Oliver Cromwell, interrompeu a hegemonia batava e iniciou a supremacia britânica. Fazem parte desse processo os tratados assinados entre Portugal e Inglaterra pelo apoio desta na luta pela Restauração do trono português. Portugal perdera, então, parte de seu império ultramarino, como as Ilhas Molucas e o Ceilão para a Holanda, Tanger e Bombaim para a Inglaterra.
Em 1703, Portugal assinou, com a Inglaterra, o Tratado de Methuen, também conhecido por “Tratado dos Panos e Vinhos”. Enquanto existiu, o ouro brasileiro sustentou os constantes déficits da balança comercial portuguesa ou, como diz um autor, “o ouro do Brasil entrava pela porta de Portugal e saía pela janela”. Ou, ainda, “o ouro provocou buracos na Brasil, altares em Portugal e máquinas na Inglaterra”.
A Revolução Comercial, com a exploração das colônias, o tráfico negreiro, a escravidão, a pirataria e a ação corsária, forneceu capital para a Inglaterra liderar a Revolução Industrial. A Inglaterra consolidou-se como centro dinâmico do capitalismo industrial, em detrimento de outros reinos europeus ancorados no monopólio comercial exercido sobre áreas periféricas.
Mas a produção fabril, em larga escala, não admitia mais a manutenção de mercados enclausurados pelos dogmas mercantilistas.
Na primeira metade do século XIX desmoronavam os impérios ibéricos e a América Latina deixou de ser periferia do capitalismo comercial e passou a ser periferia do capitalismo industrial britânico. O liberalismo econômico derrotara o mercantilismo, mas aperfeiçoava a divisão internacional do trabalho, iniciada pelo regime do pacto colonial das antigas metrópoles.
O NEOCOLONIALISMO E O IMPERIALISMO
A partir da metade do século XIX, com os efeitos da chamada Segunda Revolução Industrial, o neocolonialismo e o imperialismo escrevem uma nova história na África e na Ásia. E a Inglaterra confirma sua hegemonia no capitalismo monopolista, discursando sobre as “vantagens” do liberalismo. A Guerra dos Sipaios na Índia, as Guerras do Ópio na China e a Guerra dos Bôeres na África do Sul são inquestionáveis demonstrações da força dos canhões britânicos, em nome do liberalismo econômico.
A Índia, a partir do século XIX, tornou-se um dos mais marcantes exemplos do poder devastador do Império Britânico. Antes, em sua história milenar, existiam aproximadamente setenta mil aldeias de economia autossuficiente. Sua riqueza cultural marcada por dezenas de línguas, centenas de dialetos, múltiplas etnias e religiões.
A beleza e a qualidade de suas mercadorias, especialmente os tecidos, eram apreciadas em todo o mundo. Por exemplo, encantaram Alexandre Magno e os macedônicos que lá chegaram com seu império. E os romanos com seu império. E os muçulmanos, com seu Islão. E os portugueses, com seu império marítimo-comercial.
Porém, foi a “missão civilizadora” do Império Britânico que mudou para sempre a História da Índia. Vejamos o que diz um estudioso do assunto.
“Explorando a Índia, a Grã-Bretanha, hábil em preparar os lucros, sabia ao mesmo tempo evitar as perdas. Desde o dia em que começou a ter na Índia um vasto mercado para suas manufaturas, a Inglaterra esforçou-se por arruinar as indústrias regionais. A Índia havia sido, até meados do século XIX, um país exportador de artigos fabricados. Nas cidades e nas grandes vilas exerciam-se, antigamente, profissões cujos produtos eram conhecidos em todo o mundo. Durante mais de um século e meio foi, sobretudo pelo tráfico dos tecidos finos e dos bordados da Índia e por sua venda nos mercados da Europa, que se enriqueceu a Companhia – antes do desenvolvimento da economia industrial na Grã-Bretanha. Porém, o desenvolvimento da indústria dos tecidos de algodão de Manchester tornava-os rivais dos da Índia. Para lhes assegurar um mercado (...), golpearam a indústria da Índia. De 1814 a 1835, o número de peças de fazendas importadas da Índia pela Grã-Bretanha caiu de 1.266.000 para 306.000. Em contraposição, o baixo preço das fazendas bitânicas fez com que elas fossem aceitas no mercado da Índia, onde pouco a pouco substituíram os tecidos locais: de 1814 a 1835, sua importação de 818.000 jardas subiu para 51.777.000. As indústrias indianas estagnaram; a vida industrial declina cada vez mais em lugares outrora florescentes. A Índia tornou-se um país quase que exclusivamente agrícola, produzindo matérias-primas e recebendo os artigos manufaturados do estrangeiro".
(GEORGE, Pierre. Geografia Econômica. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1970)
Vejamos o que diz outro estudioso: “O domínio britânico sobre o equilíbrio de poder europeu foi suplementado e complementado pela consolidação do império territorial da Grã-Bretanha na Índia, depois do chamado Grande Motim de 1857 [Guerra dos Sipaios, palavra de origem híndi (shipahi) que significa soldado]. O controle sobre a Índia significava comandar recursos financeiros e materiais – inclusive recursos humanos militares – que nenhuma nação ou conjunto provável de nações poderia igualar e nenhum grupo dominante, de momento, poderia desafiar em termos militares.[...] Ao mesmo tempo, o regime britânico unilateral de livre comércio [liberalismo econômico] ligou o mundo inteiro à Grã-Bretanha. Esta se tornou o “mercado” mais conveniente e eficiente para obter meios de pagamentos e de produção e para colocar produtos primários. [...]Além disso, como em todos os ciclos sistêmicos de acumulação anteriores, a intensificação das pressões competitivas acarretada pela fase de expansão material associou-se, desde o início, a uma grande guinada do comércio e da produção para as finanças, por parte da classe capitalista britânica. A segunda metade do século XIX caracterizou-se não apenas por grandes levas de exportação de capital da Grã-Bretanha, como já foi assinalado, mas também pela expansão das redes bancárias provinciais britânicas, aliada à crescente integração delas nas redes de City, o centro financeiro londrino” (ARRIGHI, Giovanni. O Longo Século XX: Dinheiro, Poder e as Origens do Nosso Tempo. São Paulo. Contraponto/UNESP, 1996).
DO IMPERIALISMO BRITÂNICO AO NORTE-AMERICANO
A Guerra de Secessão consolidou o capitalismo nos Estados Unidos da América. O Norte burguês, industrial e protecionista se impôs ao Sul aristocrático, agrário, livre-cambista e escravista. Na virada do século XIX para o XX, a Doutrina Monroe desembocou na Doutrina Roosevelt e no Big Stick de Theodore Roosevelt. O capitalismo norte-americano, consolidado internamente, debruçou seu olhar para a América Latina. O Destino Manifesto, fundamento ideológico da expansão territorial interna, ultrapassou as fronteiras físicas. Os territórios conquistados ao México, o caso panamenho contra a Colômbia em função do canal do Panamá, a Emenda Platt imposta a Cuba, a invasão dos mariners em Tampico, no México revolucionário são exemplos inegáveis do embrionário, mas já truculento, imperialismo norte-americano. Dispensando metáforas, em 1912, o Presidente Willian H. Taft disse: “Não está longe o dia em que três bandeiras de listras e estrelas marcarão em três lugares a extensão do nosso território: uma no pólo Norte, outra no Canal do Panamá e a terceira no pólo Sul. Todo hemisfério será nosso, de fato, como, em virtude de nossa superioridade racial, já é nosso moralmente”.
Ao se dissipar a fumaça da Primeira Guerra Mundial, Washington substituía Londres como pólo do capitalismo. Os Estados Unidos passaram de devedores a credores da Europa. E sua burguesia traduziu a guerra como um grande e lucrativo negócio. Seus produtos entraram em áreas até então dominadas por mercadorias europeias, inclusive na própria Europa.
Segundo alguns analistas, a Primeira Guerra Mundial fez surgir o “quarto ciclo sistêmico de acumulação”, precedido pelo genovês (século XV e XVI), pelo holandês (séculos XVI e XVII) e pelo britânico (séculos XVIII e XIX). Nos dizeres de Giovanni Arrighi, o ciclo norte-americano dominou o “longo século XX”.
No início do Período Entre-Guerras, muitos empréstimos e investimentos ingleses (e franceses) se perderam com a Revolução Bolchevique e com a Guerra Civil (1918/21) na Rússia. Enquanto isso, o capitalismo norte-americano dava enormes saltos de ganhos em produtividade, frutos do avanço tecnológico e metodológico implementados na produção. Mercadorias com a marca Made In USA ganhavam o mundo. A Crise de 1929 e a Grande Depressão nos anos 30 do século XX nasceram nos Estados Unidos, mas atingiram todo o mundo capitalista. Não interromperam o processo da ascensão norte-americana no cenário mundial, apenas o retardaram. Estruturalmente, entrava em crise o liberalismo clássico, ortodoxo. O New Deal de Roosevelt, fundamentado em Keynes, começou a recuperação dos Estados Unidos e, durante a Segunda Guerra Mundial, o desemprego norte-americano, que tinha chegado a 25% da população ativa, tangenciou o zero.
Assim, no Período Entre-Guerras e, principalmente, na Segunda Guerra, os Estados Unidos confirmaram sua posição de centro do quarto ciclo sistêmico de acumulação.
Recorro novamente a Giovanni Arrighi sobre os efeitos internacionais da Segunda Guerra Mundial: “... esse confronto traduziu-se no estabelecimento de uma nova ordem mundial, centrada nos EUA e organizada por esse país. Em alguns aspectos fundamentais, ela diferia da extinta ordem mundial britânica e se transformou na base de uma nova fase de reprodução ampliada da economia mundial capitalista. No fim da Segunda Guerra Mundial, já estavam estabelecidos os principais contornos desse novo sistema mundial: em Bretton Woods foram estabelecidas as bases do novo sistema monetário mundial; em Hiroshima e Nagasaki, novos meios de violência haviam demonstrado quais seriam os alicerces militares da nova ordem; em São Francisco, novas formas e regras para a legitimação da gestão do Estado e da guerra tinham sido explicadas na Carta das Nações Unidas”. Em 1947, ano do lançamento da Doutrina Truman e do Plano Marshall, os Estados Unidos detinham em seus cofres 70% do ouro do mundo. Para impedirem o avanço socialista, transportaram para o bloco capitalista, por eles liderado, a “segurança social” iniciada internamente com o New Deal. O Plano Marshall e o derrame de dólares nos países do bloco pretendiam estancar o caos social do pós-guerra, para anularem o crescimento da outra vitoriosa da Segunda Guerra, a União Soviética. Era o mundo bipolar da Guerra Fria, uma nova ordem em relação à velha ordem do imperialismo britânico passado.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
H.Q.
H.Q.
Chico Bento nos contou
(O Bode Orelhana lhe falou)
Que Tio Patinhas
Os Irmãos Metralha gerou.
Ele contou os Patinhas do mundo
E os dedos da mão usava
E, a cada tempo,
De menos dedos precisava.
Contou os Metralhas do mundo.
Os seus dedos das mãos e dos pés usou,
os da centopéia que passava,
E aos dedos da Rosinha somou.
A cada tempo,
De mais dedos precisava.
A Mafalda lhe contou
Que os Patinhas nadam em dinheiro
E mais dinheiros querem
Pra nadarem mais em dinheiros
E aos Metralhas não.
E o Chico Buarque lhe cantou:
“Chame o ladrão,
Chame o ladrão,
Chame o ladrão!”
A Graúna do Henfil lhe contou
Ser Mickey agente da CIA,
E, na família Donald,
Não há filhinhos
Só tio e tia.
Só há sobrinhos.
.Vieram todos da chocadeira elétrica?
É que, para aquelas bandas,
Nas terras de Mickeys e Patinhas próprias,
Não há amor,
Só “relações impróprias”.
Cruiz, credo!
Inda bem qui ocê tem pai e mãe, Chico.
I a galinha Giserda.
Inda bem qui ocê tem Chico, Chico.
I as goiaba do Nhô Lau.
Inda bem qui ocê tem Henfil, Chico.
I a Mafalda, Chico.
Ainda bem que temos você, Chico!
Nóis carece di mais u que, Chico?
Chico Bento nos contou
(O Bode Orelhana lhe falou)
Que Tio Patinhas
Os Irmãos Metralha gerou.
Ele contou os Patinhas do mundo
E os dedos da mão usava
E, a cada tempo,
De menos dedos precisava.
Contou os Metralhas do mundo.
Os seus dedos das mãos e dos pés usou,
os da centopéia que passava,
E aos dedos da Rosinha somou.
A cada tempo,
De mais dedos precisava.
A Mafalda lhe contou
Que os Patinhas nadam em dinheiro
E mais dinheiros querem
Pra nadarem mais em dinheiros
E aos Metralhas não.
E o Chico Buarque lhe cantou:
“Chame o ladrão,
Chame o ladrão,
Chame o ladrão!”
A Graúna do Henfil lhe contou
Ser Mickey agente da CIA,
E, na família Donald,
Não há filhinhos
Só tio e tia.
Só há sobrinhos.
.Vieram todos da chocadeira elétrica?
É que, para aquelas bandas,
Nas terras de Mickeys e Patinhas próprias,
Não há amor,
Só “relações impróprias”.
Cruiz, credo!
Inda bem qui ocê tem pai e mãe, Chico.
I a galinha Giserda.
Inda bem qui ocê tem Chico, Chico.
I as goiaba do Nhô Lau.
Inda bem qui ocê tem Henfil, Chico.
I a Mafalda, Chico.
Ainda bem que temos você, Chico!
Nóis carece di mais u que, Chico?
ENVELHECER COM MEL
Há muito tempo sou leitor apaixonado de Affonso Romano de Sant'Anna. Seus textos e sua experiência de vida são inspiradores. Procurem conhecer sua obra e seu blog.
Um de seus textos bateu em mim com força: "ENVELHECER COM MEL OU COM FEL?" Então, em estado de encantamento, coloquei minha caneta preguiçosa para trabalhar e nasceu este poemaplágio. Se ficou bom, a culpa é do mestre inspirador. Se não, a culpa é minha, arremedo de poeta.
ENVELHECER COM MEL
Aquela velhice-destino
Não quero, não.
Deixar os rins, dentes e intestinos
Nas mesas cirúrgicas
De mutiladora dispersão.
Quero envelhecer com mel.
Não quero ser do mundo
Um crítico azedo,
Não resmungar pelos cantos,
Estorvo mórbido:
Ao enxugar prantos,
Ser macio e sólido.
Se impossível ser apolínico,
Tesão messalínico,
Não ser caso clínico
E, sim, paladínico.
Quero envelhecer com mel.
Que a velhice não me venha
Aos trancos,
Solavancos,
Aos barrancos.
Que não haja pânico,
Apenas planar ao vento,
Sem atrito,
Sem conflito,
Sem grito.
Envelhecer num sussurro cênico.
Quero envelhecer com mel.
Quero envelhecer com mel,
Ser apenas vinho
Na garrafa da Vida fermentado,
Na adega do Prazer estocado
E, quando velho, desejado.
Ou,
Velhice da faca afiada
-corte consumido-
Afiadíssimo, no encaixe da mão cozinheira.
Assim, a velhice será apenas o desgaste,
Ir-me desgastando
Gostando do desgaste,
Engaste gasto ao gosto do vento.
Quero envelhecer com mel
E morrer será apenas evaporar,
Ao vento me encaixando,
Sem gemido,
Sem resmungo,
Sem dor,
Sem rima.
Quero envelhecer com mel,
Deixar por herança alma de arco-íris,
Sol sem queixa do entardecer,
Lua sem ódio do amanhecer.
Um de seus textos bateu em mim com força: "ENVELHECER COM MEL OU COM FEL?" Então, em estado de encantamento, coloquei minha caneta preguiçosa para trabalhar e nasceu este poemaplágio. Se ficou bom, a culpa é do mestre inspirador. Se não, a culpa é minha, arremedo de poeta.
ENVELHECER COM MEL
Aquela velhice-destino
Não quero, não.
Deixar os rins, dentes e intestinos
Nas mesas cirúrgicas
De mutiladora dispersão.
Quero envelhecer com mel.
Não quero ser do mundo
Um crítico azedo,
Não resmungar pelos cantos,
Estorvo mórbido:
Ao enxugar prantos,
Ser macio e sólido.
Se impossível ser apolínico,
Tesão messalínico,
Não ser caso clínico
E, sim, paladínico.
Quero envelhecer com mel.
Que a velhice não me venha
Aos trancos,
Solavancos,
Aos barrancos.
Que não haja pânico,
Apenas planar ao vento,
Sem atrito,
Sem conflito,
Sem grito.
Envelhecer num sussurro cênico.
Quero envelhecer com mel.
Quero envelhecer com mel,
Ser apenas vinho
Na garrafa da Vida fermentado,
Na adega do Prazer estocado
E, quando velho, desejado.
Ou,
Velhice da faca afiada
-corte consumido-
Afiadíssimo, no encaixe da mão cozinheira.
Assim, a velhice será apenas o desgaste,
Ir-me desgastando
Gostando do desgaste,
Engaste gasto ao gosto do vento.
Quero envelhecer com mel
E morrer será apenas evaporar,
Ao vento me encaixando,
Sem gemido,
Sem resmungo,
Sem dor,
Sem rima.
Quero envelhecer com mel,
Deixar por herança alma de arco-íris,
Sol sem queixa do entardecer,
Lua sem ódio do amanhecer.
MAIS UM POEMA: O Velho e o (A) Mar
O VELHO E O (A) MAR
O velho pescador acreditava dominar todos os mares.
Lançava sozinho sua sorte em cada rede,
Apontava a quilha no meio de todas as ondas,
Voava veloz ao vento de popa como um velho verso.
Um dia, encontrou um mar novo e agitado,
Tentou quebrar suas ondas com a velha quilha,
Mas foi tragado e mora nas águas.
Conchas e ossos e corais e cores e eternidade.
O velho amante acreditava dominar todos os amares.
Lançava sozinho sua arte em cada sorte,
Quilhava as ondas apontando todos os meios,
Versava a vida velha de papo de verso velho.
Um dia, encontrou um amar novo e agitado,
Quebrou as sondas da quilha-tentação
E foi tragado e chora as mágoas.
Manchas e fossos e temporais e dores e profundidade
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Mais Poemas (alguns já musicados)
TEU CORPO
Achar-me e perder-me em teu corpo,
Nele navegar como Ulisses desejo,
Corpodisséia.
Levantar vôo e pousar em teu corpo,
Nele navegar como Santos Dumont desejo,
Corpespaço.
Odisséia de meu espaço,
Concreto de meu concreto,
Espaço de meu acorde,
Acorde de meu concerto,
Conserto de meu concerto.
ENGOV
Zoon do zumbido,
Bidu do som
Do foguete,
Da fogueira,
Do míssil,
Da miss,
Da massa,
Barcachaça,
Zoon ido,
Zoon bido,
Libido.
LUA FÉRTIL
Se você e eu
Nos deitarmos em nosso quintal
Na Lua das três horas,
Nascerão flores em nossas peles
E a cidade sentirá nosso perfume.
TERRA RUIVA
Enganou-se o astronauta:
A Terra não é azul!
É ruiva como os fios de espiga de milho no México,
É ruiva como o pôr-do-sol no Peru.
É ruiva como as minas de cobre no Chile,
É ruiva como a lava dos vulcões no Caribe,
Como um Campari com gelo na Itália.
É ruiva!
Como um fio de cabelo esquecido em meu lençol.
QUERO A RUIVA
(Musicada por Rodolfo Dartan)
No Brasil, há mistura racial:
É preto, é branco, é preto e branco,
É índio, é branco, é índio e branco,
É espanhol, italiano, japonês,
Tudo especial.
Mas a música esqueceu
De cantar uma figura,
Só canta morena gostosa
E “lora” burra.
Não canta a ruiva,
Nem a sua formosura.
Toda ruiva de verdade
É muito imitada.
Tem morena e tem loira
De ruiva mascarada,
Nos cabelos muita tinta
Prá ficar avermelhada.
Toda ruiva de verdade
É muito encantadora,
Tem pintas pelo corpo
E a cara sedutora.
Quero a ruiva sedutora,
Quero a ruiva encantadora,
Quero a ruiva imitada.
Quero a ruiva,
Quero a ruiva.
SETE DE JULHO
(Para Maiakovski)
Você errou, poeta:
O tiro no peito
Apenas transferiu seu endereço
Desta para outra datcha,
Onde a balalaica
Não pára nunca de tocar.
Sua nova casa é o coração dos homens.
Aprendemos com você
“A poesia-toda é uma viagem ao desconhecido”
E “o bom livro é necessário a mim,
A vocês, ao camponês e ao operário”.
Aprendemos que o livro é Sol
E o Sol-livro deve iluminar todas as gentes,
Pois “gente é prá brilhar!”
Por enquanto, por aqui,
As gentes não têm recebido essa luz.
A luz-única é azul acinzentada,
Luz chumbo
Luz pesada que escurece, cega e ensurdece.
Vladimir, o seu Sol tem estado sem brilho,
Pois não é produto do deus-Mercado.
Hoje o brilho vem das telinhas, brilhopaco,
Mas nas ruas o seu Sol ainda ilumina
Timidamente
Tímidas mentes,.
Aquece consciências,
Esquenta esperanças.
Num beco qualquer
De uma rua qualquer,
Alguém se lembra desse sete de julho,
Do tiro no peitopoema
E olha para o céu,
Procurando decifrar os “nacos de nuvens”,
No rastro dos quais
“se estafa o sol-amarela girafa”.
Esse alguém não está só,
Esse alguém está Sol.
NANA TERRA
Ouço o murmúrio da terra,
cansada da monocultura.
Ouço o chorar da terra
no crepitar da queimada,
no crepitar da esperança.
Ouço o lamento da terra,
terraterror de tanta química.
Murmuro ao chorar da terra
palavras da quimiquesperança.
Cansada, a lágrimolha a terra
salgando a amarga cana doce.
Era terra erra, erra era Terra.
Cana cana cana cana cana ca
naca naca naca naca naca naca
anacana anacana anacana nana
nana nana nana nana nana
naanaa naanaa naanaa
nana
nana
PSIU!!!
MODINHA DOS QUINZE ANOS
(Musicada por mim, em 1993)
Janaína no teatro
Tem a força de uma atriz,
Minha estrela luminosa,
Que diz o que ninguém diz.
Toma um chopp no barzinho
E arranca mil esperas
Sempre tem um amorzinho
Dando bola pras paqueras.
Mas, amor é coisa séria
E não arte pequenina.
De amar não quer miséria,
De resto, tudo, a menina.
Seu nome já foi cantado
Por gente melhor que eu,
Mas foi tão amado
Como neste verso meu.
Janaína do teatro,
Janaína do boteco,
Janaína do chopinho,
Janaína do corpinho,
Janaína dos copinhos,
Janaína dos quinze aninhos.
Achar-me e perder-me em teu corpo,
Nele navegar como Ulisses desejo,
Corpodisséia.
Levantar vôo e pousar em teu corpo,
Nele navegar como Santos Dumont desejo,
Corpespaço.
Odisséia de meu espaço,
Concreto de meu concreto,
Espaço de meu acorde,
Acorde de meu concerto,
Conserto de meu concerto.
ENGOV
Zoon do zumbido,
Bidu do som
Do foguete,
Da fogueira,
Do míssil,
Da miss,
Da massa,
Barcachaça,
Zoon ido,
Zoon bido,
Libido.
LUA FÉRTIL
Se você e eu
Nos deitarmos em nosso quintal
Na Lua das três horas,
Nascerão flores em nossas peles
E a cidade sentirá nosso perfume.
TERRA RUIVA
Enganou-se o astronauta:
A Terra não é azul!
É ruiva como os fios de espiga de milho no México,
É ruiva como o pôr-do-sol no Peru.
É ruiva como as minas de cobre no Chile,
É ruiva como a lava dos vulcões no Caribe,
Como um Campari com gelo na Itália.
É ruiva!
Como um fio de cabelo esquecido em meu lençol.
QUERO A RUIVA
(Musicada por Rodolfo Dartan)
No Brasil, há mistura racial:
É preto, é branco, é preto e branco,
É índio, é branco, é índio e branco,
É espanhol, italiano, japonês,
Tudo especial.
Mas a música esqueceu
De cantar uma figura,
Só canta morena gostosa
E “lora” burra.
Não canta a ruiva,
Nem a sua formosura.
Toda ruiva de verdade
É muito imitada.
Tem morena e tem loira
De ruiva mascarada,
Nos cabelos muita tinta
Prá ficar avermelhada.
Toda ruiva de verdade
É muito encantadora,
Tem pintas pelo corpo
E a cara sedutora.
Quero a ruiva sedutora,
Quero a ruiva encantadora,
Quero a ruiva imitada.
Quero a ruiva,
Quero a ruiva.
SETE DE JULHO
(Para Maiakovski)
Você errou, poeta:
O tiro no peito
Apenas transferiu seu endereço
Desta para outra datcha,
Onde a balalaica
Não pára nunca de tocar.
Sua nova casa é o coração dos homens.
Aprendemos com você
“A poesia-toda é uma viagem ao desconhecido”
E “o bom livro é necessário a mim,
A vocês, ao camponês e ao operário”.
Aprendemos que o livro é Sol
E o Sol-livro deve iluminar todas as gentes,
Pois “gente é prá brilhar!”
Por enquanto, por aqui,
As gentes não têm recebido essa luz.
A luz-única é azul acinzentada,
Luz chumbo
Luz pesada que escurece, cega e ensurdece.
Vladimir, o seu Sol tem estado sem brilho,
Pois não é produto do deus-Mercado.
Hoje o brilho vem das telinhas, brilhopaco,
Mas nas ruas o seu Sol ainda ilumina
Timidamente
Tímidas mentes,.
Aquece consciências,
Esquenta esperanças.
Num beco qualquer
De uma rua qualquer,
Alguém se lembra desse sete de julho,
Do tiro no peitopoema
E olha para o céu,
Procurando decifrar os “nacos de nuvens”,
No rastro dos quais
“se estafa o sol-amarela girafa”.
Esse alguém não está só,
Esse alguém está Sol.
NANA TERRA
Ouço o murmúrio da terra,
cansada da monocultura.
Ouço o chorar da terra
no crepitar da queimada,
no crepitar da esperança.
Ouço o lamento da terra,
terraterror de tanta química.
Murmuro ao chorar da terra
palavras da quimiquesperança.
Cansada, a lágrimolha a terra
salgando a amarga cana doce.
Era terra erra, erra era Terra.
Cana cana cana cana cana ca
naca naca naca naca naca naca
anacana anacana anacana nana
nana nana nana nana nana
naanaa naanaa naanaa
nana
nana
PSIU!!!
MODINHA DOS QUINZE ANOS
(Musicada por mim, em 1993)
Janaína no teatro
Tem a força de uma atriz,
Minha estrela luminosa,
Que diz o que ninguém diz.
Toma um chopp no barzinho
E arranca mil esperas
Sempre tem um amorzinho
Dando bola pras paqueras.
Mas, amor é coisa séria
E não arte pequenina.
De amar não quer miséria,
De resto, tudo, a menina.
Seu nome já foi cantado
Por gente melhor que eu,
Mas foi tão amado
Como neste verso meu.
Janaína do teatro,
Janaína do boteco,
Janaína do chopinho,
Janaína do corpinho,
Janaína dos copinhos,
Janaína dos quinze aninhos.
POESIA: REFLEXO
REFLEXO:OXELFER
A Física é pouca, não o poema.
PRINCÍPIO DA REVERSIBILIDADE.
No palco, diante do espelho,
O ator troca de identidade.
Na platéia, você e eu.
NO PALCO VOCÊ PARA MIM NO ESPELHO: NO ESPELHO EU PARA VOCÊ NO PALCO
Mas a Física não explica
Tornar-se objeto a imagem,
Fazer-se mulher a mensagem,
Fazer-se poema a miragem.
A Física é pouca, não o poema.
PRINCÍPIO DA REVERSIBILIDADE.
No palco, diante do espelho,
O ator troca de identidade.
Na platéia, você e eu.
NO PALCO VOCÊ PARA MIM NO ESPELHO: NO ESPELHO EU PARA VOCÊ NO PALCO
Mas a Física não explica
Tornar-se objeto a imagem,
Fazer-se mulher a mensagem,
Fazer-se poema a miragem.
domingo, 5 de dezembro de 2010
UM POUCO DE ÁFRICA
ÁFRICA
“As
agências internacionais de notícias têm falseado enormemente a realidade dos
problemas africanos contemporâneos, por seus enfoques episódicos e parciais.
(…) o crivo ocidentalizante é tão forte que a realidade africana é pintada como
um quadro de figuras exóticas, caricaturais, onde os homens não têm consciência
de que fazem história”.
(SARAIVA, José Flávio
Sombra. Formação da África Contemporânea.
São Paulo. Atual, 1987)
A IGREJA CATÓLICA NO SÉCULO XV
A IGREJA CATÓLICA NO SÉCULO XV
“(...) nós lhe concedemos, por estes presentes
documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de
invadir, buscar, capturar e subjugar (...) reduzir suas pessoas à perpétua
escravidão.”
(Papa Nicolau V, pela Bula Dum Diversas, em 1452, autorizando Portugal a
escravizar africanos)
PRECONCEITO
(Palavras de Charles Linné, 1778)
•
" Homem Selvagem: quadrúpede, mudo, peludo
• Americano:
cor de cobre, colérico, ereto. Cabelo negro, liso, espesso; narinas largas,
semblante rude, barba rala; obstinado, alegre, livre. Guia-se pelo costume.
• Europeu:
claro, sanguíneo, musculoso; cabelo louro, castanho, ondulado; olhos
azuis; delicado, perspicaz, inventivo. Coberto por vestes justas.
Governado por leis.
• Asiático:
escuro, melancólico, rígido; cabelos negros; olhos escuros, severo, orgulhoso,
cobiçoso. Coberto de vestimentas soltas. Governado por opiniões.
• Africano:
negro, fleumático, relaxado. Cabelos negros, crespos; pele acetinada; nariz
achatado, lábios túmidos; engenhoso, indolente, negligente. Unta-se com
gordura. Governado pelo capricho."
PRECONCEITO
“Oh,
se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia, e passada ao Brasil,
conhecera bem quanto deve a Deus e a Sua Santíssima Mãe por este que pode
parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande
milagre!” (VIEIRA, Padre
Antônio. Sermão XIV)
PRECONCEITO
“Não há
trabalho, nem gênero de vida no mundo mais parecido à cruz e paixão
de Cristo, que o vosso em um desses engenhos. Em um engenho sois imitadores de
Cristo crucificado [...] Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isso se compõe a vossa imitação, que se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio”. (VIEIRA. Sermões. Apud BOSI, Alfredo. A dialética da Colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 172.)
Cristo crucificado [...] Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isso se compõe a vossa imitação, que se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio”. (VIEIRA. Sermões. Apud BOSI, Alfredo. A dialética da Colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 172.)
PRECONCEITO
(Palavras de Hegel, em 1830)
Caçador bosquímano |
HISTÓRIA ORAL
“Qualquer adjetivo seria fraco para qualificar a importância que a
tradição oral tem nas civilizações e culturas africanas. Nelas, é a palavra
falada que
transmite de geração a geração o patrimônio cultural de um povo. A
soma de conhecimentos sobre a natureza e a vida, (…) o relato dos eventos do
passado (…), o canto ritual, a lenda, a poesia – tudo isso é guardado pela
memória coletiva, a verdadeira modeladora da alma africana e arquivo de sua
história. Por isso, já se disse que “cada ancião que morre na África é uma
biblioteca que se perde”. (Amadou
Hampaté Bâ. A Palavra, Memória Viva na África)
Um griot (contador de histórias) |
PROBLEMAS DA FALTA DE DOCUMENTOS
ESCRITOS
“A
ausência de documentos escritos (...) para as provas materiais em que os
cientistas baseiam suas descobertas, acrescidos de uma pressuposição há muito
divulgada entre os cientistas brancos de que os africanos negros seriam
incapazes de produzir semelhantes civilizações, criaram enorme obstáculos à
descoberta da verdade”. (Mitchell
Adams. Zimbábue, Uma Civilização Africana Desaparecida. Em Os
últimos Mistérios do Mundo. Lisboa. Seleções do Reader’s Digest, 1979)
ESCRAVIDÃO ANTES DA CHEGADA DOS
EUROPEUS
“O
escravo era uma espécie de parente – com direitos diferentes de outros
parentes, diferentes posições na família e no lar, mas, no entanto, um espécie
de parente. Os escravos tinham de ser ou capturados, ou adquiridos de seus
parentes, que os “vendiam como escravos”. Isto significa que (…) alguns grupos
pegavam seus criminosos ou, geralmente, parentes não desejados e executavam o
ritual que “rompia o parentesco”. (…) Esses escravos trabalhavam (…) mas também
casavam-se, inseriam suas famílias no grupo social e formavam uma parte
legítima da família ampliada”. (BOHANNON. Paul. História
Ilustrada da Escravidão)
“A ÁFRICA VIVE (...) PRISIONEIRA DE
UM PASSADO INVENTADO POR OUTROS”
(Mia Couto, Um Retrato Sem Moldura)
SOMOS TODOS AFRICANOS
A teoria mais aceita entre os pesquisadores é de que o Homem, a partir da África, seu lugar de nascimento, migrou para os outros cantos do mundo.
ALGUNS NÚMEROS
(Dados aproximados)
Terceiro continente em terras: 22,5% do globo
Área aproximada: 30.000.000km2
54
países (em 2011)
10% da população mundial.
Indústria não chega a 1% da mundial
Disparidade de riqueza entre as nações
10% da população mundial.
Indústria não chega a 1% da mundial
Disparidade de riqueza entre as nações
90%
da platina do mundo,
75%
do titânio,
66%
da produção de diamantes,
57% da produção de ouro,
45% do cobalto,
23% do antimônio e do fosfato,
17% do manganês,
15% da bauxita e do zinco,
10% do cromo e do petróleo.
57% da produção de ouro,
45% do cobalto,
23% do antimônio e do fosfato,
17% do manganês,
15% da bauxita e do zinco,
10% do cromo e do petróleo.
HIV em 2012
No
mundo – 35,3
milhões
Na África Subsaariana – 25 milhões
IDH em 2013
Dos 40 países de índices mais baixos, 34 são
da África Subsaariana.
RENDA NA ÁFRICA SUBSAARIANA (2010)
48,5% inferior a US$ 1,25 por dia
PIB AFRICANO (2012)
2,8% do
PIB mundial
MORTALIDADE INFANTIL (2012)
1. Serra Leoa: 117 (por mil nascidos)
2. Angola: 100
3. Rep. Democrática do Congo: 100
4. Rep. Centro-Africana: 91
5. Somália: 91
Por comparação:
Brasil: 13
Japão, Luxemburgo, Noruega, Suécia, Liechenstein: 2
REFUGIADOS
Em 2012, 12 milhões de refugiados:
fome, doenças, perseguições religiosas, guerras tribais, epidemias.
ÁFRICA NORTE-SAARIANA OU MEDITERRÂNEA
Predomínio étnico de camitas, semitas, tuaregues e etíopes.
A História da África se cruza com a dos egípcios, dos fenícios, dos cartagineses, dos gregos, dos macedônicos de Alexandre Magno. Com a História da expansão romana e do Império Bizantino, com a História da formação do reino dos vândalos (bárbaros), do Império Árabe Muçulmano (do século VIII ao XV) e do Império Turco Otomano (do século XV ao XX)
REINOS AFRICANOS HISTÓRICOS
Predomínio étnico de camitas, semitas,
tuaregues, etíopes, bantos e sudaneses.
REINO DE KUSH:
Ao Sul do Egito, onde hoje é o Sudão.
Rico e oro, intermediário comercial entre o Egito e a África Central. Chegou a
tomar o Egito, onde reinou por 70 anos (25ª Dinastia), até ser conquistado
pelos assírios.
REINO DE AXUM:
Onde hoje é a Etiópia. Comércio regular
com povos do Mediterrâneo, Mar Vermelho, Pérsia, Índia, Ceilão e Império
Bizantino. Era reino cristão e foi derrotado e isolado pela expansão islâmica
do século VII.
REINO DE ZIMBÁBUE:
Poderoso até a chegada dos portugueses,
com a produção de joias de ouro, peças de marfim e de cobre.
REINO DE GANA:
Hoje, Mali e Mauritânia.
Domesticação de camelos, comércio com
povos berberes: ouro, sal tecidos, cavalos, tâmaras. Apogeu entre os séculos X
e XII.
REINO DE MALI:
Hoje, Mali, Senegal e Guiné.
Dominou o Reino de Gana, no séc. XIII, liderados pelo
príncipe Sundiata Keita. Dominou
toda a bacia do rio Niger. Construção
de ricas mesquitas e grandes centros de estudos, como o de Tombuctu, atraindo
cientistas, poetas, literatos, religiosos. Realização
de suntuosas peregrinações a Meca, como a de 1325. Dominada
pelo reino de Songhai no final do século XIV
REINO DE SONGHAI:
Vasto
território a sudoeste do Saara.
Universidades, como a de Sankore (séc. XII) e,
depois, em Tombuctu (séc. XIV e XV).
Ataques
do norte e de portugueses.
REINO IORUBÁ
REINO IORUBÁ
Formado no século XI, desenvolveu a manufatura de tecidos
e a metalurgia do cobre e do bronze. A língua iorubá e a religião dos orixás
espalharam-se por muitos povos africanos e foram transportados para a América,
especialmente para o Brasil, através do tráfico negreiro.
ÁFRICA SUBSAARIANA
Há uma diversidade étnica, cultural e linguística, com organização em famílias, clãs e tribos com economia fundada na caça, na pesca, no extrativismo e na agricultura itinerante.
A abundância de espaço e grande oferta de sobrevivência natural dificultam a fixação de base territorial, ao contrário dos povos da África Norte-Saariana.
RELIGIÕES NAS ÁFRICAS
Características gerais: oralidade (sociedades ágrafas), politeismo, animismo (crença em espíritos presentes na Natureza), crença na vida pós-morte e na reencarnação.
Algumas correspondências entre as
entidades africanas e as católicas são riquíssimas:
• Exu - Santo Antônio, no Rio de Janeiro, Bará no Rio Grande do Sul;
• Oxumaré - São Bartolomeu;
• Ogum - São Jorge;
• Oxossi - São Sebastião (São Jorge na Bahia);
• Xangô - São Jerônimo, São João Batista, São Miguel Arcanjo;
• Iemanjá - Nossa Senhora dos Navegantes;
• Oxum - Nossa Senhora da Conceição;
• Iansã - Santa Bárbara;
• Omulu - São Roque;
• Obá - Santa Rita de Cássia, Santa Joana d'Arc;
• Obaluaê - São Lázaro;
• Nanã - Sant'Anna;
• Oxalá - Divino Jesus Cristo.
As religiões africanas acreditam na existência de uma fonte criadora universal, um Deus supremo, chamado Olorum. Algumas das entidades, quando incorporadas, podem nomeá-lo de outra forma, como por exemplo, Zambi para os pretos-velhos, Tupã para caboclos, entre outros, mas são todos o mesmo Deus.
Pregam a obediência aos ensinamentos básicos dos valores humanos, como: fraternidade, caridade e respeito ao próximo, sendo a caridade uma máxima encontrada em todas as manifestações existentes.
O aspecto animista defende o culto aos orixás como manifestações divinas, em que cada orixá controla e se confunde com um elemento da natureza do planeta ou da própria personalidade humana, em suas necessidades e construções de vida e sobrevivência;
A manifestação dos Guias exercita o trabalho espiritual incorporado em seus médiuns ou "aparelhos"; o mediunismo é uma forma de contato entre o mundo físico e o espiritual, e manifesta-se de diferentes formas:
1. Uma doutrina, uma regra, uma conduta moral e espiritual que é seguida em cada casa de forma variada e diferenciada, mas que existe para nortear os trabalhos de cada terreiro;
2. A crença na imortalidade da alma;
3. A crença na reencarnação e nas leis cármicas
Além das religiões tipicamente nascidas da cultura africana, em muitos povos africanos é forte a presença das três grandes religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo
POVOS
AFRICANOS: DESTAQUES
Etnias africanas |
Bantos: Predominantes na região sul da África,
representam o grupo mais numeroso do continente, divididos em centenas de
subgrupos.
Pigmeus: caracterizados por
apresentarem pele negra e pequena estatura, se concentram na região da África
Equatorial.
Sudaneses: Dedicados à agricultura, os sudaneses
habitam as savanas localizadas entre a região do Atlântico até o vale do Rio
Nilo. Chegaram a apresentar um elevado estágio de civilização no contexto das
Grandes Navegações.
Nilotas: Habitam a região sul do rio Nilo e são
caracterizados por apresentarem pele negra e elevada estatura.
Khoikhoi: Concentrados no Sudoeste da África,
são conhecidos pelos europeus como hotentotes. Ocupavam uma extensa faixa no
sul da África.
Bérberes: Conjunto de povos que vivem no Norte
da África e que falam as línguas bérberes. Convertida ao islamismo a partir do
século VIII, essa população se insere nas mais variadas etnias que caracterizam
o norte do continente.
COLONIALISMO MERCANTILISTA
O tráfico de escravos provoca a corrosão nas sociedades africanas e aumenta os choques grupais. Ocorre a exploração sistemática da costa africana em função da colonização da América.
Além do comércio de escravos, o ouro, o marfim e gêneros tropicais fixam europeus na África: o capitalismo comercial integra a África à América. África e América tornaram-se molduras de um triste quadro atlântico, no qual, em primeiro plano, foi pintado com sangue o tráfico de pessoas. O escravo era duplamente gerador de capital, por ter duplo valor: valor de troca, como uma mercadoria traficável, e valor de uso, como produtor de mercadoria.
Assim, os lucros emanados do tráfico de escravos, da escravidão e da pirataria tornaram-se bases da acumulação primitiva de capital na Europa. E mais, sustentaram o assalariamento das relações de trabalho em substituição às relações servis: definhava o modo-de-produção feudal e estava aberto o caminho para a consolidação do capitalismo.
TOTAL GERAL DE
PESSOAS ARRANCADAS DA ÁFRICA
Tráfico transaariano: 4.820.000
Tráfico no Mar Vermelho e na
África Oriental: 2.400.000
Tráfico no Atlântico: 11.313.000
TOTAL: 18.133.000
ALGUMAS
HISTÓRIAS
A
LIBÉRIA
•
Origem: organização filantrópica dos EUA, a
American Civilization Society, de 1816.
•
Escravos libertos dos EUA migram para lá e, em
1847, ocorre a independência do país, com capital em Monróvia (de Monroe).
O
CABO
•
Em 1652, o Cabo da Boa Esperança era ocupado
por holandeses. Os boers são seus descendentes
•
Em 1806, durante as guerras napoleônicas,
ingleses se apropriam da região e, no Congresso de Viena, legitimam sua
ocupação. Era um ponto estratégico fundamental até a inauguração do Canal de
Suez, em 1869.
ARGÉLIA
•
Ocupada pela França em 1830, aproveitando a
crise do Império Turco Otomano.
SENEGAL
•
Portugueses montaram feitorias , disputadas
depois por franceses e ingleses. O fim do tráfico negreiro fez decair o
interesse europeu na região, até sua conquista pela França de Napoleão III, em
1852.
RUANDA
•
Tutsis dominados pela Alemanha. Ficou para a
Bélgica, apoiada nos Hutus. Hutus massacram tutsis
CONGO
•
Leopoldo II da Bélgica ocupa o Congo em 1880,
como sua propriedade particular.
CAMARÕES
•
Localizado no delta do rio Niger, foi ocupado pelos alemães em 1880
NEOCOLONIALISMO E IMPERIALISMO
No século XIX, trinta milhões de quilômetros
quadrados e mais de cem milhões de pessoas ficaram sob a tutela de poucos
Estados europeus em menos de dez anos.
A Segunda Revolução Industrial e o liberalismo econômico geraram a crise cíclica do capitalismo, o descompasso entre a superprodução e o subconsumo.
Os países industrializados precisavam de novos
mercados para investirem seu excedente de capital, suas mercadorias e até seu
excedente demográfico. Precisavam de fontes de energia, como petróleo e carvão,
e também de matérias primas, de ouro, de diamantes...
IDEOLOGIA IMPERIALISTA
IDEOLOGIA IMPERIALISTA
1. KIPLING e a “missão civilizadora”, expressa em seu poema “O Fardo do Homem Branco”, de 1899. Homenageava a vitória norte-americana na Guerra Hispano-Americana (1898), na qual os EUA receberam Porto Rico, as ilhas Guam, as Filipinas e interferiram na independência de Cuba.
2. DAVID LIVINGSTONE era missionário escocês. Propagou o comércio e a
fé como “missões civilizadoras”
3. JULES FERRY, 1º Ministro francês, em 1880: “O imperialismo é filho da industrialização”
4. CECIL
RHODES era inglês e atuou na África do Sul, explorando minas de diamantes.
Comprou, com seus sócios, vastas extensões de terra, onde nasceu a Rodésia,
atuais Zâmbia e Zimbabue.
“O mundo está todo parcelado, e o que resta dele está sendo dividido, conquistado, colonizado. Pense nas estrelas que vemos à noite… Eu anexaria os planetas, se pudesse; penso sempre nisso.”
“Sustento que somos a primeira raça do mundo, e quanto mais do mundo habitarmos, tanto melhor será para a raça humana…Se houver um Deus, creio que Ele gostaria que eu pintasse o mapa da África com as cores britânicas.”
CONGRESSO DE BERLIM (1884/85)
Foi convocado por Otto Von Bismarck e contou com a participação de 14 países. Foi definida a partilha africana, cujas fronteiras foram traçadas pelos europeus.
É claro que, como a partilha foi
feita para atender aos interesses dos colonizadores, não foram respeitados os
interesses dos colonizados; foram separadas comunidades afins e agrupadas
comunidades rivais.
A maioria das fronteiras foi desenhada em linhas retas. As
futuras e constantes catástrofes provocadas por guerras intergrupais estavam
desenhadas. Mas as culpas continuam recaindo sobre os africanos, que, de fato,
são frutos e não sementes.
DESCOLONIZAÇÃO
DESCOLONIZAÇÃO
O processo de descolonização foi acelerado a partir da 1ª Guerra Mundial, das crises do Entre-Guerras e, principalmente da 2ª Guerra. Portanto, ocorreu em plena Guerra Fria.
Nos confrontos mundiais, as metrópoles precisaram formar tropas com colonos. Estes notaram que seus dominadores também morriam, sofriam, choravam e temiam a violência da guerra. Desmoronava o mito da “superioridade europeia”.
No Tratado de Versalhes (1919), os vencedores exigiram o fim dos impérios derrotados (alemão, austríaco e turco) e, em sua retórica, falavam em “respeito à autodeterminação dos povos”
No Período Entre-Guerras (1919-1939), as nações imperialistas, vencedoras do conflito mundial, reforçaram seus domínios coloniais, mercados para a economia em crise.
Durante a 2ª Guerra, novamente precisaram dos colonos, desta vez contra o nazifascismo.
E, no pós-guerra, na fundação da ONU (1945) e na Declaração dos Direitos (1948), a autodeterminação dos povos foi novamente defendida. As nações mais poderosas davam, paradoxalmente, um motivo, uma bandeira, para as lutas das nações por elas dominadas.
RENASCIMENTO AFRICANO: PAN-AFRICANISMO
A independência do Haiti, em 1804, provocou, nas elites escravocratas, o receio da “haitinização” da luta pela libertação negra.
O pan-africanismo nasceu nas Antilhas britânicas e nos EUA. Edward Blyden, ligado à criação da Libéria, valorizava o saber moderno, que não é nem branco nem negro, sem perder a identidade negra.
Du
Bois, dos EUA, defendia o movimento pan-negro.
CONGRESSOS PAN-AFRICANOS
CONGRESSOS PAN-AFRICANOS
Em 1900, ocorreu a 1ª Conferência, entre haitianos e norte-americanos (não havia africanos).
Em outros (1919, 1921, 1923, 1927) discutiram-se alternativas para a libertação dos africanos.
Principais
reivindicações:
1. Liberdade completa aos povos da África e aos povos de origem africana
2. Igualdade da raça negra com todas as raças
3. Controle das terras africanas pelos africanos
4. Abolição dos trabalhos forçados e dos impostos abusivos
5. Liberdade de comunicação no interior e ao longo da costa africana
RENASCIMENTO AFRICANO: MOVIMENTO DA NEGRITUDE
Iniciado por intelectuais negros, como Aimé
Cesaire e Léopold Senghor, não aceitava a “assimilação cultural” imposta pelo
dominador branco, que negava os valores dos colonizados:
“Um senegalês é um senegalês, não um francês!”
Tratava-se da afirmação da identidade negra
contra o imperialismo cultural.
LEOPOLD SENGHOR, DO SENEGAL, ideólogo político
do socialismo-negritude, pregava:
• 1. Uma revolução socialista não é necessária na
África, pois o socialismo já é um fato milenar no continente e se apresenta
mais eficaz que aquele proposto por Marx
• 2. O capitalismo é um elemento alheio à
África, pois foi imposto pelo processo colonial
• 3. O socialismo autóctone deve ser a base da
África independente.
ÁFRICA
E BRASIL
O ESCRAVO DENTRO DE NÓS
“O
Brasil é um país extraordinariamente africanizado. E só a quem não conhece
a
África pode escapar o quanto há de africano nos gestos, nas maneiras de ser e
de viver e no sentimento estético do brasileiro (…) O escravo
ficou dentro de nós, qualquer que seja nossa origem(…) Com ou sem
remorsos, a escravidão é o processo mais longo e mais importante de nossa
história”. (COSTA E SILVA, A. O Brasil,
a África e o Atlântico no Século XIX)
Mulher brasileira e nossa negritude |
Vieram para o Brasil principalmente três grupos culturais, divididos em centenas de subgrupos: os sudaneses, os guineano-sudaneses (islamizados) e os bantus, ou bantos.
Dos quinhentos e
poucos anos de História do Brasil pós “descobrimento”, em mais de trezentos o
tráfico trouxe populações negras para cá.
É, portanto, impossível entender
nossa História sem a presença negra, com suas contribuições em vários sentidos.
CULTURA AFRO-BRASILEIRA
CULTURA AFRO-BRASILEIRA
• Idioma: palavras como angu, batuque, cafuné, quitanda, banzo ...
• Oratória: Luís Gama (1830/82) e José do Patrocínio (1854/1905)
• Literatura: Castro Alves (1847/71), Cruz e Souza (1861/98) e Lima Barreto (1881/1922)
• Composição: Lobo de Mesquita (1746/1805)
• Cinema, teatro: Abdias do Nascimento (1914) e Ruth de Souza (1921)
• Ciência, técnica: André Rebouças (1838/98) e Teodoro Sampaio (1855/1937)
• Religião: candomblé e umbanda
• Artes plásticas: Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738/1814), Valentim da Fonseca e Silva, o Mestre Valentim (1745/1813)
• Música: samba, maracatu, maxixe, coco
• Instrumentos musicais: tambor, atabaque, berimbau
• Culinária: acarajé, vatapá, mungunzá, xinxim
MOVIMENTO NEGRO NO BRASIL
Insere-se no contexto de atitudes multiculturalistas, da aceitação da diversidade. Remonta às lutas negras no Brasil colonial, desde o plano individual (suicídio, abordo induzido) ao plano coletivo (quilombos).
Ainda no período colonial, a presença negra na Conjuração
Baiana, de 1798.
No período Regencial, a Cabanagem a Balaiada a Revolta dos Malês e a ampliação da fuga e formação de quilombos.
Durante o 2º Reinado, a participação direta no processo abolicionista, destacando-se Luís Gama, José do Patrocínio, Castro Alves, Joaquim Nabuco e André Rebouças.
Na República Velha, em 1910, a Revolta da Chibata, liderada por João Cândido, é considerada como um levante negro pelo Movimento Negro Contra a Discriminação Racial.
Levante negro ou não, o negro
João Cândido e seus companheiros colaboraram para a modernização da Marinha
brasileira, abolindo os castigos corporais, já proibidos pela Constituição de
1891.
Na década de 1930 foi fundada uma Frente Negra Brasileira, transformada em partido político em 1936, extinto, como todos, em 1937.
Na Era Vargas, Abdias do Nascimento fundou o Teatro Experimental Negro (1944).
A LEI E A LUTA CONTRA O RACISMO
Em 02/07/1951 foi aprovada a Lei Afonso Arinos, proibindo a discriminação racial no país.
Em 07/07/1978 foi fundado o Movimento Negro
Contra a Discriminação Racial (MNU).
A Constituição de 1988 estabelece que “a prática do racismo constitui crime inafiançável, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei”
Em 09/01/2003, foi aprovada a Lei 10.639, que determina: “Nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”.
E
ainda “O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra.”A
data marca a morte de Zumbi dos Palmares.
ALGUNS CONCEITOS
ALGUNS CONCEITOS
RACISMO: ideologia que postula a existência de hierarquia entre grupos raciais humanos. É um conjunto de ideias e imagens vinculadas aos grupos humanos baseados na existência de raças superiores e inferiores.
PRECONCEITO RACIAL: uma indisposição, um julgamento prévio negativo que se faz de pessoas estigmatizadas por estereótipos étnicos, religiosos, culturais. …
DISCRIMINAÇÃO: é o nome que se dá para à conduta que viola direito de pessoas com base em critérios injustificados e injustos, tais como raça, gênero, idade, orientação sexual.…
ETNOCENTRISMO: designa a pretensa superioridade de uma cultura em relação a outras.
XENOFOBIA: predisposição para a aversão ou rejeição de indivíduos ou grupos diferentes … aversão a estrangeiros.